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28 de julho de 2008

RIOS DA AMAZÔNIA TRANSFORMADOS NUMA GRANDE LIXEIRA

Galeria pública de Fausto » VOL4 - Navegando Manaus a Santarém
90 dias pelos rios da Amazônia mostram o descaso com a região
28/7/2008
Nelson Gonçalves Marialva*

Nas viagens por dezenas de barcos, observei que transformaram os rios amazônicos numa grande lixeira. Das embarcações são atiradas desde plásticos até latinhas de refrigerantes e cervejas em grandes quantidades.

Porto de Belém, PARÁ
Do dia 21 de dezembro de 2007 a 3 de abril de 2008, numa viagem que fiz e que começou no Porto de Belém, no Estado do Pará, uma constatação: o Brasil não conseguiu até o presente momento ocupar os espaços vazios da região. Por isso e também pela falta de leis mais severas, o meio ambiente tem sofrido.

Nas viagens por dezenas de barcos, observei que transformaram os rios amazônicos numa grande lixeira. Das embarcações são atiradas desde plásticos até latinhas de refrigerantes e cervejas em grandes quantidades.
De Santarém (PA) a Almeirim (PA), no dia 3 de janeiro de 2008, no navio Luan, da empresa de navegação Luan, nas noitadas regadas a muita cerveja, seguidamente eram atiradas do bar latinhas de cervejas no rio.
Mesmo com uma ou duas lixeiras à disposição dos passageiros, da criança ao adulto a preferência é por atirar o lixo nos rios. Talvez este problema só seja resolvido com a inclusão nos currículos escolares, a partir da alfabetização, de matérias que possibilitem ao adulto de amanhã respeitar o meio ambiente e campanhas sucessivas na mídia que induzam a população a reciclar mais e a não atirar o lixo em qualquer lugar.

Ecossistema complexo
Para a Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, o deputado federal Francisco Praciano (PT/AM) disse que a Amazônia é bastante discutida e há muito tempo. “O debate deve continuar, mas é hora de realizar”, afirmou ele, lembrando que a Amazônia é muito grande.”

O governo faz o que pode, mas para a Amazônia o que pode não é suficiente. Nos temos um território extenso, uma biodiversidade muito rica, somos também um ecossistema complexo e por isso precisamos definir um conjunto de programas do tamanho da região, conforme a sua complexidade e fragilidades”, opinou o parlamentar.

Insegurança
Neste 90 dias pelos rios da Amazônia, não vi a presença das forças de segurança. Apenas, às proximidades de Manaus (AM), uma lancha da Polícia Militar e, em Óbidos, no Estado do Pará, a Fiscalização Integrada na Amazônia (Base Candiru), composta de órgãos como a Receita Federal, Polícia Federal, Ibama e Receita estadual.
Neste tempos em que os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) fazem incursões pelos territórios da região conforme aconteceu no Equador, levando a um ataque militar a uma base dos guerrilheiros e que atuava em território equatoriano, ficou patente para os políticos brasileiros a necessidade de preencher os vazios deixados pelos sucessivos governos que, nos últimos anos, administraram o País.

Numa declaração à Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, a deputada federal Janete Capiberibe (PT/AP) disse que a situação de conflito na Amazônia internacional pode significar a intenção de uma intervenção militar na soberania da região. “O Brasil precisa agir para que os crimes ambientais ou a falta de ação do Poder Público não sirvam de pretexto para qualquer ameaça àquela fronteira brasileira”, declarou a deputada Janete Capiberibe, presidente da Comissão da Amazônia, Integração nacional e Desenvolvimento Regional.

Para o deputado Francisco Praciano, a Marinha brasileira deve estar mais presente na região, “pois”, disse o político,”lá são 20 mil quilômetros de rios navegáveis”. Exército e Aeronáutica devem ser presentes na região”, frisou ele à Comissão, ressaltando o seguinte: “Temos que ter tolerância zero para crimes ambientais”.
“Tínhamos até um dia desses menos de 12 agentes nas fronteiras. Tem alguns estados do Nordeste, como o Ceará, que tem 290. Eu não quero discutir o 290, mas eu quero, quando faço esta comparação, mostrar que não é compatível com a importância estratégica que a região tem.

Outro exemplo:
No Amazonas, tem 126 mil índios para 67 agentes da Funai. Em Pernambuco, tem 25 mil índios e quase 200 agentes, outra incompatibilidade. Falamos tanto na riqueza da biodiversidade da Amazônia, mas nós não temos hoje nenhum laboratório transformando essa biodiversidade em produto, em riqueza”, declarou, à comissão da Câmara dos Deputados, o deputado Francisco Praciano.

Desmatamento
No ano passado, o governo do presidente Lula constatou que o desmatamento na região voltou a crescer. Nestes 90 dias pelos rios da Amazônia, ao sair de Belém, no dia 21 de dezembro de 2007, no navio Cisne Branco, observamos no caminho para a cidade de Breves, na Ilha do Marajá, balsas conduzindo madeiras. De lá para Macapá e Santana, no Estado Amapá, e posteriormente, Almeirim, no Pará, e Laranjal do Jarí, no Amapá, nas poucas estradas na região, árvores derrubadas à beira da estrada, que inclusive tem sido denunciado à redação de jornais de Belém (PA).

No dia 16 de janeiro de 2008, cheguei à cidade de Monte Alegre (PA), depois fui a Juruti (PA) e Parintins, no Estado do Amazonas. Três dias depôs, segui para Manaus (AM). De lá, atravessei para Cacau Pirêra, indo em seguida para Manacapuru, Anamã e Beruri, no Amazonas. Nesta viagem, tal qual há 40 anos, uma outra constatação: a pobreza dos ribeirinhos, apesar do Fome Zero do governo Lula.

Miséria
Nas passagens dos barcos e navios pelos rios amazônicos, grande número de crianças em pequenas canoas, principalmente à altura de Almeirim, no Pará, pedem ajuda. De acordo com Maria Elza Malaquias, casada com o pescador Leonardo Ferreira da Silva, o casal trabalha duro na pesca do camarão e do peixe para sobrevivência da família. “Nós residimos na Ilha de Santa Cruz do Amazonas, no Rio Amazonas”, informou a pescadora, ressaltando que nunca viu a presença de um programa de governo, como o Fome Zero, na região. “Nunca recebi uma cesta básica”, afirmou ela, numa entrevista que só foi possível porque, na passagem do navio da empresa Marques Pinto Navegação Ltda. pelo rio Amazonas, logo depois de Almeirim (PA), o esposo da entrevistada amarrou sua pequena canoa no navio.

Na cidade de Manacapuru, no Estado do Amazonas, um fato curioso: numa foto de um jornal local, foi registrada uma árvore tombada num mangue, derrubada sob o pretexto de que era para o desenvolvimento econômico da região. E, na volta a Belém (PA), no início de abril, enfim a presença do Estado na região. Na Estação Hidroviária de Almeirim (PA) estava o PrevBarco II – PA.
Fonte: Link: http://jornalistanelsonmarialva.zip.net/ Portal do Meio Ambiente

Um comentário:

  1. José C. Costa Muniz - São Luis - Ma.04 novembro, 2009 13:23

    Caro amigo,

    Minha infancia foi vivida em Eirunepé, no Amazonas. Cidade instalada às margens do Rio Juruá, dizia-se à época que era o último reduto antes do fim do mundo.
    O rio era caldaloso, punjante e cheio de vida. Barcos e navios subiam e desiam transportando cargas e passageiros para Manaus e cruzeiro do Sul. Sua água eram piscosas e suas varzeas ferteis completavam a riqueza alimentar de todos nós, ricos e pobres, aliás, pobres e menos pobres. Os aviões "Catalina" da Panair do Brasil pousavam no rio, em frente a cidade. Aos domingos nadavamos nos igapós que circundavam a cidade durante as cheias.Noverão atravessávamos para a praia imensa, de areia grossa e paguas tépidas.
    Quarenta anops depois, o rio está assoriado, as margens nuas e erodidas, a cidade sendo engolida pelo desbarreiramento do porto, os lagos próximos viraram pastagens e o igapó já não serve para os banhos dominicais.
    Conseguiram acabar o que achava que era eterno.
    Aquele paraiso está se transformando em inferno, esteril e triste.
    Chega a doer as lembraças que tenho daquelas maravilhas que a ganancia abocanhou e os tempos não trarão de volta. É uma pennnnaaaa!!!

    José C. Muniz

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