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15 de agosto de 2008

FAPESP DESENVOLVE TRATAMENTO DE EFLUENTES COM PLANTAS ORNAMENTAIS


Água tratada naturalmente

Por Thiago Romero
14/8/2008
Agência FAPESP


O engenheiro civil Luciano Zanella desenvolveu um sistema de tratamento de esgoto doméstico que associa a beleza das plantas com o bom desempenho na purificação de efluentes de produtos naturais.

O sistema utiliza espécies ornamentais fixadas em pedra ou bambu colocados sobre uma camada de terra. No recipiente, a água passa pelos espaços entre as pedras (ou anéis de bambu), que, com a ajuda das raízes das plantas, fazem a filtração.
O estudo foi feito como trabalho de doutorado, defendido na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo Zanella, pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento, vinculado ao Centro Tecnológico do Ambiente Construído do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o dispositivo é indicado para o tratamento complementar ao esgoto doméstico, após esse ter passado por uma primeira etapa de purificação para remoção dos resíduos mais pesados.

Em testes realizados na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, o engenheiro utilizou seis tanques de 2 mil litros cada. Os tanques receberam amostras de esgoto que já tinham passado por um primeiro tratamento na faculdade, sendo que em três recipientes foram adicionadas pedras brita nº 1 até a borda e, nos outros três, anéis de bambu.

"A eficiência média de remoção de sólidos em suspensão foi de cerca de 60% para os tanques com brita e de 33% para os tanques com bambu. Os valores médios de matéria orgânica foram de 22 miligramas por litro (mg/l), com 60% de eficiência de remoção, para os tanques de pedra brita, e de 36 mg/l, com 33% de eficiência de remoção, para os construídos com leito de bambu", disse Zanella à Agência FAPESP. O esgoto que saía da estação apresentava valor médio de matéria orgânica de 54 mg/l.

Os resultados médios obtidos para outro parâmetro de qualidade da água, demanda química de oxigênio (DQO), que mede indiretamente a carga de matéria orgânica contida na amostra, foram de 63,9% para os dispositivos com brita e plantas mistas e 55,8% sem o uso de plantas. No caso dos anéis de bambu, os índices foram de 29,7% e 20,4%, respectivamente.

Segundo o pesquisador, o sistema mantém o padrão estético dos jardins, diminuindo os níveis de rejeição da população para os dispositivos de tratamento de efluentes. Podem ser utilizadas diversas espécies de plantas, entre as quais copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica), papiro (Cyperus papyrus) e biri (Canna edulis), que colaboram com o tratamento do esgoto ao mesmo tempo em que absorvem nutrientes como fósforo e nitrogênio para crescer com qualidade.

"A planta cresce em cima do esgoto, que serve como uma espécie de adubo natural para as espécies. O sistema lembra o processo de hidroponia acrescido da ação de microrganismos. Outra vantagem é que ele não necessita de nenhum tipo de produto químico ou eletricidade", disse Zanella.

Por ser considerado de baixo custo, o sistema é considerado ideal para pequenas propriedades. A água gerada pode ser utilizada para a irrigação de plantações e as plantas podem servir como uma fonte de renda extra pela exploração comercial das flores e fibras vegetais.

"Em uma população rural, por exemplo, seria possível plantar espécies ornamentais para venda. As fibras do caule do papiro, uma das plantas que melhor se adaptaram ao sistema, também podem ser usadas para artesanato na confecção de produtos como papel ou luminárias", disse.

Estação ecológica de tratamento da Ford em Camaçari

Ford trata a água e planta arroz em Camaçari

A Ford construiu na fábrica de Camaçari, Bahia, uma estação ecológica de tratamento de esgoto utilizando a tecnologia “wetlands” (terras úmidas), que purifica a água por um meio natural e permite que ela seja reutilizada na irrigação de plantas e jardins.

O esgoto gerado na fábrica é tratado dessa forma, no local, sem a necessidade de utilização dos serviços da rede pública. São na verdade três estações com capacidade para atender uma população de mais de cinco mil pessoas.
“O conceito aplicado na construção do Complexo Industrial Ford Nordeste é devolver à natureza o que se usa e garantir a sustentabilidade dos recursos ambientais”, disse Eduardo Fajardo, gerente da Ford Land, responsável pela área de obras e instalações.
O projeto da Ford, entre outras características de conservação, inclui a recuperação de uma área de cerca de cinco milhões de metros quadrados em torno da fábrica, com espécies nativas da Mata Atlântica, em um trabalho desenvolvido em conjunto com a Universidade Federal da Bahia e o Governo do Estado da Bahia.
Na área de tratamento de esgoto, as principais vantagens do sistema wetlands, além do baixo custo de implantação, é a alta eficiência. Ele elimina mau cheiro, insetos e riscos de contaminação. Para mostrar isso, a Ford mantém uma produção de biomassa (arroz) e fertilizantes.

A tecnologia reproduz os princípios básicos de modificação da qualidade da água existentes em ecossistemas naturais, que ficam inundados durante o ano, como várzeas dos rios, igapós na Amazônia, banhados, pântanos, manguezais e áreas com lençol freático muito alto.

Na primeira etapa do processo, o material sólido do esgoto é separado e encaminhado a uma área de compostagem, onde é misturado a outras matérias orgânicas para a produção de adubo. A água restante passa por um sistema de filtros naturais, formado por camadas de brita, pedrisco e solo, e vai para duas piscinas, contendo plantações de taboa, aguapé e arroz.

Cada espécie vegetal cumpre uma função no sistema:
O aguapé é utilizado por sua capacidade de resistir a águas altamente poluídas, com grandes variações de nutrientes, pH, substâncias tóxicas, metais pesados e variações de temperatura. Além de absorver partículas, nutrientes e metais, suas raízes favorecem o transporte de oxigênio e permitem o desenvolvimento de microorganismos.

A taboa é uma planta aquática emergente, que se desenvolve com a raiz presa ao sedimento e o caule e folhas parcialmente submersos. Suas raízes permitem a oxidação dos sedimentos, criando condições para a decomposição de matéria orgânica e o crescimento de bactérias nitrificadoras. Já o arroz, além de retirar nutrientes, mantém a permeabilidade do solo com seu sistema radicular. Essa ação biológica completa a filtragem mecânica e físico-química realizada pelo solo. A água pode, então, ser reutilizada.

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