BIOINVASÃO NO LITORAL DE PERNAMBUCO PREOCUPA PESQUISADORES

Os novos invasores do litoral Pernambucano

Jornal do Comércio de Pernambuco
Publicado em 15.03.2009, por vfalcao@jc.com.br

Os briozoários*, invertebrados aquáticos, estão colocando em risco as espécies nativas no Porto de Suape, segundo pesquisa feita pela UFRPE

Depois de siris, camarões e sururus, agora são os briozoários que estão invadindo a costa de Pernambuco. Pelo menos três espécies desse grupo de invertebrados aquáticos foram registradas no Porto de Suape, litoral do Grande Recife. Os pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) alertam: eles podem competir com espécies locais e até eliminá-las.

Originário dos Oceanos Índico e Pacífico, um deles – o Triphyllozoon arcuatum – é encontrado na região portuário desde 2006. “O primeiro estava fixado num octocoral Carijoa riisei. Depois, já vimos exemplares da espécie em vários substratos, até num fio de náilon e em pneu usado no píer. Ela está dominando toda a área portuária, da beira do mar até profundidades de 15 metros”, revela a bióloga Cristiane Farrapeira.

O animal forma colônias de até 90 centímetros. À medida que cresce, monta um esqueleto calcário, semelhante aos corais. “Mas, filogeneticamente, não têm nada a ver com os corais”, destaca Cristiane.

Curiosamente, a equipe da pesquisadora encontrou outros animais invasores incrustados no briozoário. É o caso de uma craca, chamada pelos cientistas de Conopea merrilli. “Essa veio da Flórida (Estados Unidos).” Uma das hipóteses para explicar a invasão da espécie é que tenha sido transportado em cascos de embarcações.

O transporte é feito, na maioria das vezes, por navios. É que grandes embarcações, principalmente cargueiros, enchem de água o porão para ganhar equilíbrio durante o transporte. O líquido, conhecido como água de lastro, costuma ser despejado no porto de destino, embora a legislação internacional determine que a operação seja feita no alto-mar.

“A água de lastro carrega toda uma fauna aquática. Esses animais, quando suportam condições diversas de temperatura e salinidade, podem vir a se tornar espécies invasoras”, explica.

A bioinvasão também pode ocorrer pelo transporte das espécies no casco dos navios. Apenas na costa brasileira são anotadas 232 espécies de invertebrados bentônicos, entre nativas e introduzidas, das quais 143 se fixam no casco.

Para estudar a bioinvasão, Cristiane criou um banco de dados de invertebrados aquáticos bentônicos. “Bentônicos são organismos que dependem de um substrato para se fixar, locomover na água ou se reproduzir.

O banco de dados tem cerca de 8.900 espécies. Cristiane registra tudo o que vê pela frente, desde espécies que encontra nas incursões aquáticas que realiza na costa nordestina a bioinvasores descritos em comunicações científicas.

Há nomes de esponjas, cnidários (corais e anêmonas), vermes marinhos, crustáceos (principalmente cracas), briozoários, equinodermos (ouriços e estrelas-do-mar) e moluscos, como búzios, ostras e mexilhões.

Em planilha Excel do programa Office, a base de dados lista animais do litoral brasileiro e do mundo, desde que presentes em regiões de climas tropicais e subtropicais, preferencialmente costeiras. “As invasoras geralmente são de áreas com clima semelhantes ao tropical, por isso a restrição.” Fonte: Clipping Agua de Lastro Brasil

*Os briozoários são invertebrados coloniais muito simples, munidos de uma cavidade digestiva, ou celoma, e, por isso, ditos celomados. De início, confundidos com os celentrados, especialmente pelo aspecto exterior das colonias, originando associações recifais.

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