CARTA DE POVOS INDÍGENAS FALAVA DE ROMPIMENTO DE BARRAGENS NO PARÁ

Rio Xingu - foto do Blog Outrapolítica

Carta Xingu Vivo Para Sempre antecipa rompimento de barragens no Pará

“ Essas barragens profanam seus sítios sagrados e podem acabar com os peixes dos quais se alimentam. ”

Uma carta elaborada pelos povos indígenas do Pará, dos atingidos por barragens, entre outros, foi divulgada pelo Instituto Sócio Ambiental – ISA- em 23 de maio de 2008. Nela há relatos como os que seguem:

“ Estamos cientes de que interromper o Xingu em sua Volta Grande causará enchentes permanentes acima da Usina, deslocando milhares de famílias ribeirinhas e moradores e moradoras de Altamira, afetando a agricultura, o extrativismo e a biodiversidade , e engolindo nossas praias. Por outro lado, o barramento praticamente secará mais de 100 quilômetros de rio, o que impossibilita a navegação e a pesca e o uso da água por muitas comunidades, incluindo aí várias terras e comunidades indígenas.

Também estamos preocupados com a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas – as PCH’s nos rios formadores do Xingu. Algumas já foram construídas, outras já estão autorizadas e até hoje não houve qualquer tipo de avaliação dos impactos que esse conjunto de obras causará aos 14 povos indígenas do Parque Indígena do Xingu.

Essas barragens profanam seus sítios sagrados e podem acabar com os peixes dos quais se alimentam. Assim, nós, cidadãos e cidadãs brasileiros, vimos a público comunicar à sociedade e às autoridades públicas federais, estaduais e municipais a nossa decisão de fazer valer o nosso direito e o de nossos filhos e netos a viver com dignidade, manter nossos lares e territórios, nossas culturas e formas de vida, honrando também, nossos antepassados, que nos entregaram um ambiente equilibrado.

Não admitimos a construção de barragens no Xingu e seus afluentes, grandes ou pequenas, e continuaremos lutando contra o enraizamento de um modelo de desenvolvimento socialmente injusto e ambientalmente degradante, hoje representado pelo avanço da grilagem em terras públicas, pela ampliação das monoculturas e da pecuária extensiva que desmatam nossas florestas. “

Eles apresentam doze reivindicações na região do Xingu , a saber :

1. criação de um fórum de articulação dos povos da bacia;
2. consolidação e proteção efetiva das Unidades de Conservação e Terras Indígenas;
3. criação de uma RESEX Médio Xingu;
4. imediata demarcação da Terra Indígena Cachoeira Seca e retirada dos invasores da Terra Indígena Pakaranã;
5. implementação de medidas contra o desmatamento, retirada de madeira ilegal e grilagem d terras;
6. implementação de políticas públicas para o extrativismo e consolidação da agricultura familiar;
7. implementação de políticas públicas para melhoria e instalação de sistema de água e esgoto nos municípios;
8. adoção de políticas públicas que atendam às demandas da saúde, educação, transporte, segurança, adequadas às nossas realidades;
9. desenvolvimento de políticas públicas que democratizem os meios de comunicação social;
10. implementação de políticas públicas para recuperação de matas ciliares, áreas degradadas pela agropecuária, extração de madeira e mineração;
11. nenhum outro dos formadores do Xingu venha a ser barrado como aconteceu ao rio Culuene com a implantação da PCH Paranatinga II.

Sabe-se hoje que não foram três ou quatro barragens que romperam em Altamira. O número avaliado chega a oito barragens.

Onde está o órgão responsável pelo cadastramento e monitoramento de barragens do estado do Pará ?

Onde está a responsabilidade de Brasília nesses acontecimentos ?

A resposta já sabemos. Só quem não sabe são autoridades brasileiras que depois de eleitas passam a não ter compromissos com o povo.

Maiores detalhes em :
http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=23488
http://www.cimi.org.br/?system=nows&action=read&id=2010&eid=353

* Carta enviada por Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate

Fonte: [EcoDebate, 18/04/2009]

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