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22 de maio de 2009

UnB - INSTITUTO DE QUÍMICA DESCOBRE O USO DA QUITOSANA NA DESPOLUIÇÃO DA ÁGUA


Fibra de crustáceos ajuda a despoluir água

Por Fabiana Vasconcelos e Camila Dumiense, da UnB - 21/05/2009

O uso da quitosana barateia o processo e ainda oferece uma alternativa de renda aos catadores de caranguejo. “A casca do caranguejo, na maioria das vezes, é jogada fora. Ao utilizar a quitosana para degradar contaminantes, aproveitamos algo que acaba virando lixo”, afirma o professor Alexandre Gustavo. “É uma forma de usar uma tecnologia nacional a favor da população”, diz.

Substância retirou 100% dos corantes produzidos por indústrias têxteis. Pesquisa foi realizada no Instituto de Química da UnB.

Caranguejos e camarões têm na carapaça uma fibra aliada da proteção do meio ambiente. Pesquisas realizadas na Universidade de Brasília apontam que a quitina - principal componente do esqueleto externo de crustáceos - ajuda a despoluir a água processada por indústrias têxteis, setor responsável por cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto brasileiro.

A equipe do Instituto de Química da UnB descobriu que a quitosana, um polímero natural obtido a partir da quitina, limpa 100% de amostras de água contaminadas pelo corante índigo, um pigmento azul muito utilizado por fábricas de jeans. Isso ocorre porque a quitosana tem a capacidade de absorver a tinta.

A "limpeza" da água ocorre com a utilização da quitosana associada a semicondutores, como o óxido de zinco. Outro teste de laboratório revelou que essa mistura, quando submetida à radiação ultravioleta, degrada o corante em gás carbônico e água. A equipe da UnB conseguiu reproduzir o experimento a partir de um fotorreator construído pela própria universidade.

“O óxido de zinco é sensível à luz. Desde que se coloque iluminação ultravioleta adequada, os elétrons vão ser promovidos para fazer a reação e destruir os contaminantes”, explica o doutorando do Instituto de Química Jonas Pertusatti. A UnB é pioneira nesse tipo de técnica.

FÁBRICAS- Os testes ainda estão em escala de laboratório, mas podem representar uma nova forma de tratar poluentes. Hoje, a maioria das fábricas filtram o corante, e o material é guardado em estaleiros após atingir o estado sólido. Além de as empresas terem de pagar pelo armazenamento da substância, a prática aumenta o passivo ambiental – responsabilidade social da empresa com aspectos ambientais.

Pela técnica desenvolvida na UnB, as indústrias vão conseguir retirar a tinta da água e, em vez de transformar o resíduo em blocos, poderão degradá-lo em água e gás carbônico. A quitosana pode, ainda, ser reutilizada. Estudos anteriores, com outras características, mostraram possibilidade de reuso em até 15 vezes. O artigo científico a esse respeito esteve entre os mais acessados no Journal of Colloid and Interface, em 2006.

BENEFÍCIOS- A descoberta reduz o custo do processo de degradação dos contaminantes. Algumas empresas utilizam apenas óxidos metálicos para limpar a água. Com a adição da quitosana, as indústrias poderão economizar, uma vez que o preço dessa substância é bem menor do que o dos semicondutores. “Queríamos um material de baixo custo e que apresentasse bons resultados”, afirma o professor Alexandre Gustavo Soares do Prado, coordenador dos estudos.

O uso da quitosana barateia o processo e ainda oferece uma alternativa de renda aos catadores de caranguejo. “A casca do caranguejo, na maioria das vezes, é jogada fora. Ao utilizar a quitosana para degradar contaminantes, aproveitamos algo que acaba virando lixo”, afirma o professor Alexandre Gustavo. “É uma forma de usar uma tecnologia nacional a favor da população”, diz.

O presidente da Associação dos Catadores de Caranguejo do Povoado Brejão, em Sergipe, José Fausto, diz nunca ter imaginado esse uso para o crustáceo e acredita que uma demanda maior seria positiva. “A comunidade sobrevive do caranguejo. De novembro a janeiro, quando a oferta é alta, o preço cai e nós trabalhamos três dias por semana para não acumular mercadoria”, diz. “Seria excelente, porque teríamos mais pessoas trabalhando e tendo seu sustento”. Hoje, a comunidade vende, por semana, cerca de 3 mil animais a R$ 0,60 cada.

Responsável pela área de Tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Sílvio Napoli, diz que a inovação seria bem-vinda. “Quem trabalha precisa ver funcionar na prática. Desde que tivesse um custo mais baixo, por que não usar?”, diz. “Nós, os produtores, temos uma verdadeira obsessão pela conservação da natureza”.

A substância da carapaça de caranguejos é pesquisada pela UnB desde 2002. Enquanto os estudos prosseguem, a equipe avalia o uso da quitosana para liberação controlada de substâncias usando nanotecnologia. As análises darão mais um uso ambiental para a substância, atualmente matéria-prima em uma série de suplementos alimentares que aumentam a sensação de saciedade e reduzem o colesterol.Fonte: (Envolverde/UnB Agência)

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