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18 de agosto de 2009

DENÚNCIA DA PASTORAL DA TERRA: RIBEIRINHOS AMEAÇADOS POR BARRAGEIROS NA BAHIA



Moradores apreensivos durante reunião na comunidade de Cajueiro, no municipio de Cocos.

Empresas barrageiras avançam sobre comunidades ribeirinhas no Oeste da Bahia

CPT/Ecodebate - 18/08/2009

No município de Cocos, situado na região Oeste da Bahia, a 980 km de Salvador, comunidades ribeirinhas estão desassossegadas com a chegada de empresas barrageiras na região. Essas comunidades estão localizadas às margens dos rios Carinhanha e Itaguari, para onde estão projetadas doze barragens, conforme dados do documento Inventário dos Rios desenvolvido pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Entre os dias 17 e 20 de agosto a CPT Lapa e Barra realizará uma segunda séria de visitas para levantar informações e mobilizar as comunidades ameaçadas.

O primeiro mutirão de visitas aconteceu entre 4 e 7 de maio deste ano, com participação de agentes da Comissão Pastoral da Terra das dioceses de Bom Jesus da Lapa, Barra e de Minas Gerais, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Paróquia de Cocos, e do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB. Constatou-se a angústia dos ribeirinhos quanto ao futuro incerto de suas famílias. Durante as visitas foram mapeadas 50 comunidades, chegando a uma média de 3.500 famílias que sofrem ameaças diretas, pois estão localizadas nos canteiros das obras

No rio Carinhanha, localizado entre o municípios de Cocos, na Bahia, e Bonito de Minas, Montalvânia, Chapada Gaúcha e Manga, em Minas Gerais, está projetada a construção de sete barragens, sendo três Usinas Hidroelétricas e quatro Pequenas Centrais Hidroelétricas.
Segundo os moradores destas comunidades, desde o final de 2008 os mesmos vêm sofrendo com as investidas das empresas barrageiras que chegam e entram nas propriedades sem nenhuma autorização, realizam medições, colocam marcos e não prestam qualquer informação ou esclarecimentos às famílias. Os prepostos das empresas tentam intimidar as comunidades alegando que as barragens são de interesse do governo e que as famílias devem se desfazer de suas propriedades.

Moradias na comunidade ribeirinha de Bom Jesus, município de Cocos.
Essa situação tem deixado às famílias apavoradas, porque acreditam que se vier a construir barragens, terão de sair de suas terras e migrar para outras regiões ou centros urbanos, perdendo assim o seu território, sua cultura, religião e suas características construídas secularmente neste ambiente. Em depoimento, dona Dina da comunidade de Salobro afirma: “Se a barragem vier, nos vamos ter que morar nas cidades e passar fome, pois a nossa profissão é trabalhar na roça e vamos ver nossos filhos e netos entrar para o mundo do crime, pois lá não tem outra coisa a oferecer para a gente”.

Segundo Marly Lessa, militante do MAB, “essas comunidades vivem há mais de duzentos anos numa relação harmoniosa com a natureza e o rio é vida e base de sustentação das famílias que produzem nos vales a partir de sistemas de irrigação artesanal (rêgos) de onde tiram o feijão, o arroz, batata, mandioca, cana-de-acuçar, milho, hortaliças e de pequenos criatórios de galinha, porco e gado, além do extrativismo dos frutos do cerrado. Se vierem as barragens, toda essa riqueza deixará de existir”.

Vereda com buritizeiro – paisagem típica do Oeste baiano ameaçada de desaparecer com a construção das barragens.

Além dos problemas sociais e econômicos, as comunidades levantam grandes preocupações ambientais, pois com a construção das barragens vários pequenos rios que alimentam o Carinhanha poderão desaparecer. A extinção de várias espécies animais e vegetais é outra preocupação. O Sr. Messias Bento da comunidade de Sumidouro das Gaitas afirma: “mais de 150 mil pés de buritis morrerão embaixo das águas das inundações provocadas pelas barragens”.
Frente a essa realidade e preocupadas com o futuro, as comunidades ameaçadas vem buscando informações e se organizando para evitar essa tragédia, fazendo resistência na defesa dos seus territórios e dizendo não as barragens, empunhando o lema: “ÁGUAS PARA A VIDA E NÃO PARA A MORTE”.

Novas visitas serão realizadas, desta vez no vale do Rio Itaguari

Dando continuidade ao levantamento da realidade e mapeamento das comunidades ameaçadas, a CPT da Diocese de Bom Jesus da Lapa, STR e Paróquia de Cocos farão nos dias 17 a 20 de agosto, novas visitas as comunidades ameaçadas pelos projetos de barragens. Desta vez, serão visitadas comunidades ribeirinhas do rio Itaguari no município de Cocos, para onde estão projetadas cinco Pequenas Centrais Hidroelétricas.

Esse trabalho terá como culminância o encontro das comunidades ameaçadas por projetos de barragens que será realizado nos dias 20 e 21 de outubro em Cocos, onde serão socializadas as informações pesquisadas e planejadas os passos futuros com relação a organização das comunidades na defesa dos seus territórios.

* Informe da CPT Bahia Comissão Pastoral da Terra – Regional Bahia, publicado pelo EcoDebate, 18/08/2009

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