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15 de setembro de 2009

CANTINHO LITERÁRIO: " A FÁBULA DO PORCO ESPINHO"


*A FÁBULA DO PORCO-ESPINHO*

Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.
Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.

Por isso decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados, então precisavam fazer uma escolha: ou desapareceriam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.

Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram...

Moral da História

O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro e consegue admirar suas qualidades.

Colaboração enviada pelo Advº Dr. Dionísio Leite da Costa - Taubaté - SP


Comentário:

A lição que esta preciosa fábula nos ensina é evidente: assim como a água, o ar, e os alimentos, a comunicação é uma necessidade humana igualmente vital. Contudo, a verdadeira moral desta alegoria não está na pura e simples importância do diálogo em nossa vida, mas no fato de que a arte da boa convivência, longe de ser um dom natural do ser humano, é, isto sim, uma das nossas mais belas conquistas.

Muitas pessoas, mesmo não portando quaisquer limitações físicas ao convívio social, parecem ter verdadeira hipersensibilidade ao Homo sapiens e desperdiçam um tempo precioso na vida culpando sempre os outros pelos seus próprios infortúnios. Seu enorme orgulho as impede de reconhecer opiniões diferentes da sua, e, em seu trágico fundamentalismo, não raras vezes acabam negligenciando completamente as leis mais básicas do bom convívio social.
Após anos e anos desta cega surdez, sem nem perceberem de como acabam sempre falando sozinhas, elas só dão finalmente por si quando se vêem loucas e abandonadas na mais centenária solidão... Outras personas, igualmente dotadas de excelente saúde física e também não possuindo maiores dificuldades para ver, ouvir ou articular palavras (algumas delas, aliás, conseguem falar até pelos cotovelos), ao contrário, ficam o tempo todo esmiuçando a vida alheia e falando dos segredos dos outros; mas, quando finalmente resolvem dar um tempo só para si e conversar um pouco consigo mesmas, acabam mudas e incomunicáveis de verdade...
Nestes dois extremos, como se percebe facilmente, a comunicação acabou descambando para algo patológico, o que nunca deveria acontecer. Por mais complicados que sejam os obstáculos à conversação, o fato é que o ser humano jamais deveria desistir de se entrosar com seus semelhantes... Afinal, o que nós buscamos mesmo é a felicidade, e é impossível ser feliz sozinho sempre.
Não há dúvida que a introspecção e até um pouco de individualismo são importantes, mas nada substitui a alegria de contar uma nova piada para os amigos, tomar uma cerveja com os colegas de trabalho, dar um abraço bem forte na mãe e no pai, jogar videogame com o irmão mais novo, ver um filme debaixo do edredom com a namorada... E quem acha que pode prescindir de tudo isso e vive indo ao supermercado sozinho (e, por sinal, muito mal-acompanhado...) não é o mais auto-suficiente dos mortais, como pode parecer à primeira vista, mas, isto sim, um autêntico retardado social que um belo dia fatalmente descobrirá possuir apenas uma mísera pedrinha de gelo batendo com dificuldade no lado esquerdo do peito...
A verdade é que o calor humano é a única chama realmente capaz de aquecer o nosso coração. E que não há ouro ou maldade na Terra que preencha o imenso vazio da pessoa que gosta tanto apenas de si mesma que não tem mais necessidade de sorrir para ninguém - embora saiba, bem lá no fundo, que talvez não haja mais ninguém no mundo precisando tanto de um sorriso como ela própria.... Pensando bem, será que os espinhos alheios que tanto nos incomodam no cotidiano da vida são de fato tão afiados assim?...

(Adaptado do livro Manual Bem-Humorado dos Privilegiados Auditivos)

*Gustavo de Amorim é escritor, autor do Manual Bem-Humorado dos Privilegiados Auditivos e colaborador do Em Foco. É também blogueiro: http:://www.desafiodaalma.blogspot.com.

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