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7 de setembro de 2009

Maude Barlow alerta o Brasil sobre a causa da água

A autora canadense e fundadora do Blue Planet Project, Maude Barlow, esteve no Brasil para divulgar seu livro “Água, pacto azul” e para conscientizar os brasileiros sobre a importância de não superestimar a água doce do país, já que esta corresponde a 13,7% da reserva mundial, mas não é infinita e está sendo mal gerenciada.


Manoella Oliveira Edição: Mônica Nunes


Planeta Sustentável - 02/09/09
Em visita ao Brasil nesta semana, Maude Barlow, chefe do Council of Canadians - a maior organização canadense de militância pública - e fundadora do Blue Planet Project, aproveitou sua passagem por São Paulo para conhecer a Praça Victor Civita, destinada ao lazer público e a ações de educação ambiental. O espaço ocupa um antigo terreno onde, por 40 anos, foram processadas toneladas de lixo, contaminando o solo. Encantada pela iniciativa, fruto da parceria entre a Editora Abril e a Prefeitura de São Paulo, a autora do best-seller “Água, pacto azul”, lançado mundialmente em 2007, quer citá-la no próximo livro, que será uma coletânea de exemplos práticos do que está sendo feito pelo mundo em nome da sustentabilidade.



Maude também esteve aqui para fazer alertas. Segundo ela, grandes companhias já estão “à caça” de água em países sem legislação rigorosa para defender o recurso, como é o caso do Brasil, e a escassez de água é encarada pela indústria apenas (e cada vez mais) como uma grande oportunidade econômica. A especialista fala com conhecimento de causa, pois enxerga uma semelhança entre seu país e o Brasil: ambos têm grandes reservas de água doce, por isso, tendem a desperdiçá-la. Por aqui, isso acontece especialmente, em função do modelo agrícola. Daqui, Maude seguiu para o Chile onde irá conversar sobre a crescente privatização de água no Chile, o que considera preocupante.Por que você veio ao Brasil?Quero alertar os brasileiros.



O Brasil e o Canadá tendem a pensar que o abastecimento de água está garantido porque temos água em abundância. Isso não é verdade! Não podemos enxergar a água como uma oportunidade econômica, mas, sim, como parte da natureza e ela está muito comprometida, contaminada, desperdiçada.Minha maior crítica ao Brasil é o modelo criado para exportação, no qual se usa muita água para produzir cana-de-açúcar, por exemplo, mais água para fazê-la crescer e produzir etanol. Depois, isso é exportado para outro país. Chamamos isso de “água virtual”.



Austrália, Estados Unidos e Canadá fazem a mesma coisa, mas o Brasil nem parou para questionar se isso está errado. Aumentar as exportações, como quer o governo, só vai piorar o quadro. Para produzir e fazer chegar soja na China, gastamos cerca de 2/3 do consumo doméstico mundial de água de um ano inteiro. E estamos falando só de soja e só da China.O que contribui para o problema?Além da “água virtual” e da falta de conscientização, existe a grande poluição dos agrotóxicos, cujo veneno vai para a água, contamina o lençol freático. E o país precisa estar atento quanto aos “caçadores de água” também. Grandes companhias veem o Brasil como uma máquina de dinheiro.



O país não pode permitir que essas empresas se instalem aqui dessa forma. Hoje, boa parte do mundo já não permite isso, enquanto o Brasil se posiciona de maneira amigável. No ano passado, foram produzidas mais de 2 bilhões de unidades de água engarrafadas das quais apenas 5% eram recicláveis. Outros países, como Arábia Saudita e Japão, que têm pouca água também estão de olho em lugares abundantes em água, comprando terras.Por isso, o Brasil precisa se programar em três eixos:- ter legislação para manter a água pública e proteger o solo,- criar o direito à água universal e- produzir comida com uso sustentável de água.



Eu sei que isso é difícil e faltam recursos, mas não importa. É hora de fazer uma legislação para as empresas e proteger a água, não de ser amigável.Como seria isso?Quem quiser usar água para fins comerciais terá de pagar, de rastrear e de utilizá-la de uma forma consciente. Na Alemanha, a água tem que ser limpa a ponto de um bebê poder bebê-la direto da torneira. Lá, se você poluir, eles te pegam.Não teremos água para sempre. Estamos acabando com a água fresca do mundo e colocando o planeta em risco. Todos os anos, despejamos 700 trilhões de litros de água vindas das cidades no oceano. Isso foi removido dos aquíferos, dos rios e dos lagos e deveria ser devolvido à bacia hidrográfica, é uma perda.



Quando alguém tira a água do chão de qualquer maneira, faz um deserto, o que piora o aquecimento global. Sim, o aquecimento global faz desertos! Mas o caminho inverso também é verdadeiro. O Brasil é abençoado, mas tem uma grande responsabilidade nessa questão.Como a senhora avalia a postura do governo brasileiro? Respeito o presidente Lula e vejo que ele está fazendo algumas mudanças, passo a passo, mas está indo muito devagar. Ele poderia tornar a mensagem da água mais forte e eu não vejo isso. Não é um tema que está no cotidiano da população. O presidente está perdendo uma oportunidade que poderá não voltar.No Brasil, são despejados no meio ambiente, por ano, cerca de 5,4 bilhões de litros de esgoto sem qualquer tratamento. Qual é a importância do saneamento no resto do mundo? Na América Latina a situação é pior e, por ter tanta água, não deveria ser. São os efeitos da poluição, do acesso inadequado, da privatização e da falta de dinheiro para pagar pelo serviço. Ter acesso a água é um direito de todos, ninguém pode ficar sem água só porque não pode pagar por ela.



E uma criança morre a cada oito segundos por causa disso. Não é um caminho fácil, mas é preciso mudar a prioridade que ainda são os combustíveis.Como a senhora vê o futuro?Posso fazer isso de forma pessimista ou otimista. Se for pessimista, vejo o mundo em conflito entre ricos e pobres, entre centro urbano e campo, entre países e, principalmente, entre público e privado. Se for otimista, vejo pessoas que entenderam que a água é um presente da natureza e que devemos nos unir para protegê-la. Tenho visto nações rivais que se encontram para discutir sobre água porque sabem que, se falarem sobre qualquer outro tema, vão brigar, mas nesse assunto perceberam que precisam se unir. Não sei dizer para qual dos dois lados estamos indo.

*Council of Canadians*Blue Planet Project*Praça Victor Civita

Leia também:Maude Barlow, especialista em água, visita a Praça Victor Civita

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