EM DEFESA DAS NASCENTES DO RIO DAS PEDRAS

Um apêlo aos trilheiros: "Não atravessar corpos d’água com as motos"

ESPORTE E O MEIO AMBIENTE

Edalcy Garcia Serrano Júnior - Gestor Ambiental
Rio Preto - SP

Quando o assunto é saúde todo tipo de esporte é bem vindo. Especialistas da área da saúde, do mundo todo, vêm incentivando a prática de esportes ao ar livre principalmente em contato com a natureza, em áreas rurais, por exemplo.

Excelente!!!

A tranqüilidade e o ar puro do campo associados aos mais variados tipos de atividades físicas. Isto, segundo os especialistas, não só é benéfico ao organismo como um todo como também à mente. Com relação ao organismo ocorre maior oxigenação e consequentemente maior desempenho do atleta, já com relação à mente, a paz e a tranqüilidade proporcionadas pelo contato com a natureza, aliadas aos cantos dos pássaros e ao borbulhar das águas correntes, agem como bálsamo contra o stress e a doenças a ele associadas.

Muitos tipos de esportes e atividades físicas têm sido indicados devido ao fato de suas práticas serem compatíveis com a natureza, entre os mais indicados podemos citar a caminhada, a corrida, a escalada, o rapel, o ciclismo na modalidade de montain bike, etc.

Porém as práticas de alguns tipos de esportes necessitam de especial atenção no que diz respeito à conservação do meio ambiente.

Nas áreas rurais adjacentes à cidade de Rio Preto temos observado um aumento acentuado dos adeptos de esportes que utilizam veículos automotores, Moto Cross e Jeep, que nos finais de semana se reúnem para fazer trilhas pelas estradas de terras da região.

Com certeza esporte muito interessante e que faz jorrar adrenalina. Quanto maior o grau de dificuldade do terreno maior a emoção e mais adrenalina no sangue. Isto faz com que os esportistas procurem os terrenos mais íngremes que geralmente se encontram nas margens dos riachos que cortam a região.

Se chover então, a galera vai à loucura!!! É lama pra todo lado.

Ao término da jornada, ou melhor, da trilha como eles dizem, se reúnem para entre uma cervejinha e outra comentarem sobre as emoções e desafios enfrentados. Geralmente são grupos de amigos que compartilham dos mesmos gostos por motos e aventuras.

Muito interessante, e até bonito, a reunião de amigos para a prática do esporte e conseqüente fortalecimento do laço social.

Agora a questão: ESPORTE E A DEGRADAÇÃO DA NATUREZA.

Em nossa região, devido ao desmatamento para a implantação da agricultura e pecuária, restaram pequenas porções de matas isoladas, formando espécie de ilhas de vegetação nativa. São várias as funções destas reservas e entre elas uma extremamente importante que é abrigar a fauna nativa da região, ou melhor, o que restou dela.

Podemos encontrar nestas áreas várias espécies de macacos além de quatis, tamanduás, capivaras, espécies de répteis e várias espécies de aves.

O problema começa quando os esportistas saem das estradas de terra que ligam as propriedades rurais e entram com suas motos nas matas em busca de maior emoção.

O barulho dos escapamentos, geralmente trocados para gerar maior ruído, faz com que o silêncio e a tranqüilidade habituais do interior da mata sejam quebrados de forma brusca. A repentina mudança causa nos animais um estado de medo e stress e faz com que eles fujam em busca de lugar seguro, sendo que algumas fêmeas com filhotes em fase de amamentação abandonam seus filhotes no momento da fuga, deixando-os sem proteção.

Aves, algumas chocando seus ovos, não mais retornam ao ninho.

Qualquer alteração no ambiente, por menor que seja, reflete diretamente na fauna.

Devido a inexistência de corredores de mata servindo de pontes de ligação entre as ilhas, só resta aos animais a fuga para áreas de cultivo, geralmente cana de açúcar, das propriedades rurais adjacentes e até para áreas urbanas. Motivo pelo qual tem aumentado o número de animais silvestres encontrados perdidos caminhando por alguns bairros das cidades da região.

Além da poluição sonora que prejudica a fauna outro grave impacto ambiental ocorre devido à prática deste esporte, a compactação e a desagregação do solo.

A região é formada por solo arenoso. Além da permeabilidade, outra característica deste solo é a fragilidade, pois a desagregação dos grãos que formam as suas rochas ocorre com facilidade. Os pneus usados nas motos, apelidados de pneu biscoito, com grandes cravos causam danos ao solo como a escavação e compactação.

As trilhas formadas dentro das matas apresentam-se compactadas e com vários trechos escavados, esta compactação do solo diminui a permeabilidade e consequentemente a infiltração, permitindo durante a época das chuvas o aumento de escoamento de águas superficiais.

Devido à topografia acentuada do terreno, o escoamento de águas superficiais nestas trilhas ganha velocidade dando origem a dois processos: 1º) inicia-se um processo erosivo formando grandes valas, e 2º) termina com o processo de assoreamento do corpo d’água mais abaixo, pois o escoamento transporta todo tipo de material existente em seu percurso como pedras, galhos, troncos, areia, etc.

Vista aérea da área degradada da região do Rio das Pedras - Rio Preto

O Rio das Pedras foi escolhido para o desenvolvimento deste trabalho por se tratar de um ambiente extremamente explorado para esta prática esportiva e apresenta alto grau de degradação. Em alguns trechos a mata ciliar já não mais existe, a beleza das formações rochosas lembrando lajes sobrepostas está desaparecendo, observa-se também lixo deixado por banhistas nas margens do rio.

Defendemos a prática de trilhas com motos, mas sem exageros, respeitando o próximo, as futuras gerações e o meio ambiente. Para que isto ocorra basta que se adotem algumas medidas bem simples, tais como:

Aos esportistas:

* Utilizar somente as estradas de terra que ligam as propriedades rurais;
* Não adentrar as matas para fazer trilhas. Caso queira um contato maior com a natureza, estacione a moto e faça a trilha a pé e em silêncio;
* Instalar escapamento com o menor nível de ruído possível;
* Não atravessar corpos d’água com as motos;
* Formar equipes que atuem como protetoras do meio ambiente, exercendo um trabalho de conscientização dos seus membros e fiscalização;
* Criar associação com normas que visem à preservação do meio ambiente e desenvolva projetos de recuperação de áreas degradadas.

Aos proprietários de áreas rurais:

* Exercer maior controle de entrada de pessoas na propriedade;
* Dificultar o acesso às matas e corpos d’água através de cercas;
* Instalação de placas de advertência, proibição e indicação de APP e Reserva Legal.


Aos órgãos fiscalizadores:

* Fiscalização mais ativa;
* Desenvolvimento de um trabalho em conjunto com proprietários rurais e associação de motociclistas.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

Durante os dias em que acompanhei as equipes que praticam MotoCross nas trilhas pude observar que em momento algum houve a intenção de práticas de atos de vandalismo, pelo contrário, todos os membros das equipes eram movidos por sentimentos de solidariedade e respeito aos companheiros.

Havia espírito de união, quando um estava em situação de risco os companheiros, mesmo de equipes diferentes, prestavam auxílio imediato.

Cheguei até a pensar que tais atitudes deveriam se estender ao dia-a-dia de todas as pessoas, independente do ambiente em que se encontrem: escola, trabalho, trânsito, enfim, que esse espírito de companheirismo e fraternidade habitasse o interior de cada ser humano.

Os danos à natureza são causados não por maldade ou vandalismo e sim por falta de conhecimento sobre o assunto em questão. Só alguns ajustes, e a relação esporte e meio ambiente entrará em harmonia.

Edalcy Garcia Serrano Júnior
Formado em Planejamento e Gestão Ambiental e percorre, por hobby, os rios da região de São José do Rio Preto/SP (Bacia Hidrográfica Turvo/Grande).

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