CANTINHO LITERÁRIO: "O RIO QUE CHORA"

O Rio Paraitinga invadiu a bela e bucólica São Luiz do Paraitinga, devastando-a

Homenagem a São Luiz do Paraitinga

Consternada com a tragédia de São Luiz do Paraitinga, a poetisa pindamonhangabense Rhosana Dalle criou versos emocionantes e emocionados, que são uma forma de alerta e também de homenagem ao povo daquela cidade. Confira:

O RIO QUE CHORA

Que se deu com Paraitinga (o rio) em 2009 no seu último dia?

Será que resolveu embebedar-se de alegria, festejando 2010 que viria?

E feito o primeiro porre de jovem, perdeu as contas, só foi ver o estrago que fez no outro dia? Se fosse isso, que arrependimento teria!

Foi nada disso… Eu diria! Talvez tenha sido a lua culpada que virava de crescente à cheia bem naquele dia; E tenha inspirado as águas a se enxerem em demasia.

Seria isso, seria?

-Quem poderia dizer?

Visto que esta cheia nunca acontecia, só havia uma teoria: Que naquela noite nascia uma lenda, A Lenda do Rio que Chora,

Foi quando Ele se deu conta que sua mãe já sofria: A Serra da Bocaina (sua parideira) faz parte da Serra do Mar,

E começa a sofrer, assim como tanto sofre sua parceira – A Serra da Mantiqueira.

São muitas doenças, algumas sem cura: Desmatamento, queimada, extração, exploração e ocupação desordenada.

Então tomando essa consciência, Paraitinga chorou, chorou mais de um dia inteiro. Chorou pranto de dor, esperando que a dor passasse…

Ela quase não passou… Chorou tanto, mas tanto! Que não se deu conta do quanto. Nem de quando parar…

Inundou de lamaceiro tudo ao seu redor,

Levou, lavou e arrastou na lama, espalhando seu pesar. Derrubou os casarões, fez ruir a matriz (que dia infeliz) Tal qual filho revoltado, que não mede o que diz.

Só não levou vidas humanas, simplesmente porque não quis, Se esse choro se desse nos três dias de folia, quantas vítimas não faria?

E para tomar como exemplo castigou de sofrimento a linda São Luiz.

Mostrou que tanto quanto dói ao homem destruir o que constrói,

Dói ao Rio, assistir sua mãe sumir: Ser saqueada dia a dia, subtraída sua mata.

Tirando o que a faz feliz! Suas árvores arrancadas são como as casas derrubadas;

Seus passarinhos tirados do ninho são como as pessoas que perderam seu cantinho. Água invadindo tudo é como queimada consumindo o descampado.

As pessoas fugindo de morrerem afogadas, são como os animais correndo desesperados,

Quem poderá dizer que o Rio Paraitinga chorou sem razão?

Porque a construção até se reconstrói, o povo é bravo e vontade não falta.

E a mata nativa??? Essa, infelizmente,

Ninguém traz de volta.
　
Pindamonhangaba, Janeiro de 2010……………………. Rhosana Dalle.

A Autora

Rhosana Dalle, nascida em Pindamonhangaba, é arte-educadora, formada em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Cecília (FASC). Iniciou sua carreira literária há alguns anos e vem tornando seu trabalho público desde sua participação nos Saraus do Bosque, promovidos pelo Departamento de Cultura da Prefeitura. Teve seus poemas premiados no Festipoema – Festival de Poemas, realizado em Pindamonhangaba, promovido anualmente pelo Departamento de Cultura e a Academia Pindamonhangabense de Letras, na Cootepi.

Foi eleita Delegada de Cultura na I Conferência Municipal de Cultura de Pindamonhangaba, na Conferência Estadual de Cultura, realizada em 2009 em São Paulo. É membro da Academia Pindamonhangabense de Letras (A.P.L.), empossada recentemente como membro honorário dessa tradicional instituição.

Rhosana Dalle hoje é poetisa e encena seus próprios poemas.

Fonte: Blog da Cultura Pindamonhangaba

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