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22 de fevereiro de 2010

OS BOTOS, SÍMBOLOS DO RIO DE JANEIRO, ESTÃO DESAPARECENDO NA BAÍA DE GUANABARA

Brasão do Rio de Janeiro

Símbolo do Rio de Janeiro, boto sumirá até 2050

SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio
21/02/2010

Presente no brasão da cidade do Rio, tal a quantidade que havia, o boto --chamado de golfinho pelos leigos-- tende a desaparecer da baía de Guanabara antes da metade do século.
De uma população de alguns milhares há até 50 anos, só restaram 40, aponta monitoramento inédito do Laboratório Maqua (Mamíferos Aquáticos) da Faculdade de Oceanografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 

Iniciado em 1995, o trabalho encontrou, três anos depois, 80 exemplares do animal nas águas da baía. No final de 2009, a quantidade havia se reduzido pela metade. Essa queda de 50% em pouco mais de dez anos faz com que os oceanógrafos já considerem residual a presença do boto na baía.
Os dados do Maqua levaram os especialistas a concluir que, em 20 anos, mantido o atual estado de degradação, sobrarão três ou quatro botos em toda a baía. Dez anos depois, nenhum.
Também conhecido como golfinho de prata, o boto-cinza está no brasão do Rio, em um par que representa, no desenho, a "cidade-marítima". 

Os mamíferos que restam na Guanabara costumam circular pelo canal central de navegação (entre a boca e o fundo da baía) e se concentram, de manhã, nas imediações da ilha de Paquetá, onde a navegação é reduzida.
São os locais menos poluídos da baía. Até agora, porque o projeto do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) prevê a possibilidade de instalação de componentes industriais justamente na área frequentada pelos botos. 

Já em construção, o Comperj funcionará em Itaboraí (cidade da região metropolitana). O Maqua foi convidado pela Petrobras para avaliar o impacto na baía de dutos de despejo de resíduos do complexo industrial. A questão está sob análise. 

Os especialistas do Maqua são contra, por considerar que, por mais tratados que sejam os resíduos, não haverá como impedir algum tipo de poluição e a consequente contaminação das espécies animais por rejeitos químicos e orgânicos. 

Outro fator que preocupa é que, desde o ano passado, próximo a Paquetá, funciona um terminal de GNL (Gás Natural Liquefeito) e está em construção um de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), ambos da Petrobras. Mesmo com cuidados ambientais, as novas instalações são nocivas aos botos, pois resultam no aumento da navegação e em mais poluição industrial e sonora, fatores que afugentam os animais. 

O trabalho do Maqua conclui que a diminuição acelerada da quantidade de botos na baía resulta de três fatores: poluição orgânica e industrial, captura acidental em redes de pesca e perda de habitat. "Nenhuma população resiste a isso", disse à Folha o coordenador do Maqua, José Laílson Brito Júnior.

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Um comentário:

  1. Acho lamentável o descaso para com nossos rios e mares com sua flora e fauna juntos. Não há política pública voltada para a proteção das áreas e animais remanescentes.

    O Brasil está deixando de ser considerado emergente para entrar no bloco dos países mais ricos do mundo, com economia forte e emprego estável, mas nossos governantes ainda não se deram conta de que nossa patrimônio natural é nosso maior patrimônio, e que se assim não fosse, jamais um presidente como o nosso conseguiria tamanho prestígio internacional, prestígio este calcado no significado do nosso país para o problema dos aquecimento do globo terrestre.

    Temos que parabenizar as ONGs e Universidades que fazem o trabalho que deveria ser do governo, mapeando as áreas críticas e conscientizando a população para uma mudança de comportamento visando a proteção do verde de nossa Bandeira.

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