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26 de maio de 2010

...E SE O ATUM AZUL DESAPARECER

24/05/2010 - 10h05
TERRAMÉRICA - E se o atum desaparecer...

Por Julio Godoy*

A resistência em proibir o comércio de atum azul deixa livre o caminho para a pesca industrial com consequências imprevisíveis, segundo especialistas, para o desequilíbrio ecológico dos mares.

Paris, 24 de maio (Terramérica).- O atum azul, um dos peixes predadores mais importantes do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo, está condenado à extinção em 2012, pela falta de ação dos governos do Norte e organismos internacionais de controle, preveem biólogos marinhos e organizações ambientalistas. Embora este alerta não seja uma novidade, os ativistas insistem que é oportuna em vista da incapacidade dos países industrializados, em particular dos membros da União Europeia (UE) e do Japão, de impedir o desaparecimento de espécies marinhas essenciais para a proteção da biodiversidade.



“Segundo as avaliações da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (Cicaa), a população atual de atum azul é menor que 15% da original”, disse ao Terramérica o encarregado da Campanha de Oceanos do capitulo francês do Greenpeace, François Chartier. A Cicaa é uma organização intergovernamental responsável pela conservação desta espécie e outras afins no Oceano Atlântico e mares adjacentes, especialmente o Mediterrâneo.



Por sua vez, Charles Braine, encarregado de Pesca Sustentável da filial francesa do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), recordou que um estudo realizado por este grupo em 2009 “sugere que o atum azul (Thunnus thynnus) desaparecerá se as medidas necessárias não forem tomadas imediatamente”. Braine assegurou ao Terramérica que “a extinção deste peixe teria consequências imprevisíveis para o equilíbrio ecológico de seu hábitat”.



Em seu informe Perspectiva Mundial sobre a Diversidade Biológica 3 (GBO3), publicado no dia 10, a Organização das Nações Unidas alerta que “a pesca excessiva continuará deteriorando os ecossistemas marinhos e levará ao desaparecimento das populações de peixes”. Biólogos marinhos utilizam dois critérios para determinar os riscos da vida marinha: a taxa de natalidade das espécies, medida como alta, baixa ou média, e a população de referência para fazer o censo da população atual.



“Como a taxa do atum azul é considerada média, a redução para menos de 15% da população original é um indicador de risco extremo de extinção”, explicou Chartier. O perigo para o atum azul se acentuou depois do fracasso da 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites). Chartier considera incompreensível e inescrupulosa a atitude da União Europeia e do Japão, que não sustentaram a moção de proibir o comércio internacional do atum azul, apresentada por Mônaco nessa Conferência da Cites, realizada em Doha entre 13 e 25 de março.



Embora a “UE aparentemente tenha apoiado essa proposta de tornar ilegal toda pesca deste peixe, ao mesmo tempo pediu mais estudos para documentar os riscos de extinção”, explicou Chartier. Os governos europeus sabem que essa evidência é abundante e inquestionável, prosseguiu. A decisão final da Cites, de não proibir esse comércio internacional, favorece tanto as companhias de pesca industrial do atum quanto as operadoras de fazendas marítimas de engorda, localizadas sobretudo em países da UE, como França, Espanha, Itália, Grécia e Malta. Os outros grandes beneficiários desta exploração são empresas japonesas e de países da Bacia do Mediterrâneo, como Argélia, Croácia, Turquia, Tunísia, Líbia e Morrocos.



Todo atum pescado no Mediterrâneo é engordado em um prazo muito curto nas fazendas que operam em águas de Malta, ao redor das espanholas Ilhas Baleares, da Grécia e Croácia, para depois ser exportado para o Japão. Braine apresentou outro estudo do WWF sobre as dimensões da frota de pesca do atum dos países da Bacia do Mediterrâneo, que já demonstrou em 2008 a incongruência entre sua capacidade de pesca, os inventários de população da espécie, e os limites legais de capturas estabelecidos pela Cicaa.



Esta entidade estabeleceu em novembro um teto de captura do atum azul de 13.500 toneladas para este ano. Mas a capacidade dos pesqueiros de cerco utilizados no Mar Mediterrâneo é de 55 mil toneladas. “Isso significa que, devido aos custos de operação e manutenção de uma frota superdimensionada, ou as companhias pesqueiras operam com prejuízos enormes ou não respeitam os limites legais”, disse Braine.



Por sua vez, Chartier apontou as contradições da Cicaa. “Em 2008, seu comitê científico estabeleceu que uma cota máxima de captura de 8.000 toneladas daria uma probabilidade de 50% de garantir a recuperação da espécie até 2023”, disse. Isto é, que a cota máxima oficial de 13.500 toneladas é muito alta, segundo os próprios critérios da Cicaa. Além disso, não será respeitada por companhias pesqueiras, sob pena de manterem a maioria de seus barcos parados.

* O autor é correspondente da IPS.

Crédito da imagem: Domínio público

Legenda: Atum azul (Thunnus thynnus).

LINKS

Aquicultura entre o entusiasmo e a cautela
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=2961

Proibição do comércio de atum causa agitação
http://envolverde.com.br/materia.php?cod=70841&edt=33

Atum, ecologia ou protecionismo?
http://envolverde.com.br/materia.php?cod=1301&edt=

Ameaças abaixo da superfície, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=94645

Biodiversidade – Cobertura especial da IPS Notícias, em espanhol
http://www.ipsnoticias.net/_focus/biodiversidad/index.asp

Perspectiva Mundial sobre a Diversidade Biológica 3, em vários idiomas
http://gbo3.cbd.int


Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.


(Envolverde/Terramérica)

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