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21 de maio de 2010

O igarapé do Tucunduba: uma história de rejeição

19/05/2010 - 05h05

O IGARAPÉ DE TUCUNDUBA, NO GUAMÁ, EM BELÉM (PA)

Por Silvia Leão, do Museu Paraense Emílio Goeldi

Uma vida de exclusão e desprezo social, marcada por diversas transformações, onde os movimentos sociais sempre estiveram presentes.



O igarapé do Tucunduba, que corta o bairro do Guamá, foi uma das principais vias de entrada de migrantes ribeirinhos que procuravam terras urbanas para construírem suas casas. Com isso, a população, boa parte constituída de caboclos que vieram do interior, traziam consigo para a cidade suas heranças e práticas culturais. “Com as suas formas particulares de viver, estes migrantes contribuíram de forma significativa com o desenvolvimento do bairro, já que foram os primeiros responsáveis pelos comércios realizados nas margens do igarapé. Foram esses migrantes que realizaram a ocupação das margens do Tucunduba, processo que está na gênese dos movimentos sociais no bairro”, explica Armando.



Contudo, pode-se dizer que o bairro é marcado por diversas transformações políticas, econômicas, sociais e religiosas, caracterizadas pelo envolvimento de agentes sociais com denominações religiosas que, envolvidos nos movimentos sociais, conseguiam modificar a realidade de vida da comunidade. Para o pesquisador Rodrigo Peixoto, “a Igreja servia como uma espécie de guarda-chuva institucional de apoio à comunidade que tem uma história de rejeição, destituição e marginalização”.



A área, mesmo situada no centro de Belém, tem um histórico de exclusão pelos poderes públicos. ”Estudando a história do bairro e conversando com os militantes das suas organizações populares percebemos que o Guamá, enquanto outras áreas da cidade passavam por embelezamentos, era o local escolhido para estruturas que outras partes da cidade rejeitavam. Foi para lá que levaram o leprosário, o hospital de doenças infecciosas Barros Barreto, o cemitério de Santa Izabel. O aterro de muitas de suas ruas e vielas era feito com resíduos produzidos no forno do bairro da Cremação, gerando um mal cheiro que durava semanas. Enfim, o bairro era colocado pelos poderes públicos com uma espécie de depósito para o lixo social da cidade. Essa é uma identidade que os militantes do bairro rejeitam, como ressalta Rodrigo Peixoto.



Tratada como uma periferia urbana, até os dias de hoje, o bairro possui carência de infra-estrutura básica. “O bairro não tem praças, não tem espaço de sociabilidade, não tem urbanização. E a maior dificuldade sentida é a falta de água. Com isso a gente percebe que houve poucas mudanças de estrutura física e social no bairro, onde a vida das pessoas que ali residem, passam a ser marcadas pela violência, pela precariedade dos serviços de saúde, pela inexistência de esgotos sanitários”, relata Armando Wagner.



Identidade na necessidade - “O trabalho estava focado em dar visibilidade às histórias que não estão nos livros, o que é contado pelos moradores, o que a gente chama de história oral”, lembra Armando Wagner. Para isso, as entrevistas feitas pelo estudante pode resgatar o início da formação do bairro, seu cotidiano, a participação da igreja na comunidade e a mudança estrutural.



“As lideranças do movimento popular do bairro tiveram expressiva participação na ação da paróquia Santa Maria Goretti, como uma forma de transformar a imagem do bairro e dos moradores em cidadãos que desejam mudar sua história de exclusão e abandono”. A idéia é discutir a história dos movimentos sociais, motivados pela necessidade de garantir a posse dos lotes urbanos e a condição básica de vida, dando atenção especial ao Igarapé do Tucunduba, local de formação do bairro.



O trabalho de Armando Wagner se baseou em reuniões semanais do Coletivo de Movimentos Sociais Resistência Guamazônica, do Fórum Social Mundial, ocorrido em Belém (PA), em janeiro de 2008. O grupo debate os problemas do bairro e suas formas de solução. “Esse contato direto com a comunidade possibilitou perceber, de forma mais satisfatória, a realidade social do território pesquisado e as estratégias dos agentes sociais pela sua sobrevivência”, destaca Armando.


(Envolverde/Museu Emílio Goeldi)

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