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22 de junho de 2010

Brasil seguirá usando agrotóxico banido...e os nossos rios contaminados


VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Agrotóxicos proibidos em vários países e já vetados no Brasil pelo Ministério da Saúde devem continuar a ser usados em alimentos comuns da mesa do brasileiro, como arroz, feijão e tomate.

No final de 2009, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu banir cinco agrotóxicos ligados a problemas como câncer e má-formação fetal: triclorfom, cihexatina, acefato, endossulfam e metamidofós, estes três últimos encontrados em alimentos no país.

Pela indicação do órgão do Ministério da Saúde, o uso seria diminuído gradativamente até que as substâncias fossem totalmente eliminadas no final do ano que vem.

Em março deste ano, no entanto, o Ministério da Agricultura publicou uma portaria na qual mantém o uso desses compostos, por meio do Plano Nacional de Manejo do Risco de Agrotóxicos.

A ideia da pasta é só restringir a venda e impor mais limites na aplicação, em vez de eliminar as substâncias.
A medida é polêmica porque, pela lei, a palavra final sobre o tema é das pastas da Saúde e do Meio Ambiente, e não da pasta da Agricultura.

No tomate, no alface e no arroz, a utilização desses agrotóxicos já é proibida, mas, como os produtos estão à venda no mercado, acabam usados nesses alimentos.

No caso do feijão e do pimentão não há proibição, mas os compostos são achados em quantidades acima dos limites legais, segundo pesquisas feitas pela Anvisa.

DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Pesquisas recentes mostram a relação da exposição a essas substâncias com doenças do sistema nervoso. Em 2008, um estudo de uma universidade americana mostrou que 61% dos pacientes com mal de Parkinson relataram contato com a aplicação desses produtos tóxicos.

Neste ano, a Academia Americana de Pediatria fez uma pesquisa com 1.100 crianças e constatou que as 119 que apresentaram transtorno de deficit de atenção tinham resíduo de organofosforado (molécula usada em agrotóxicos) na urina acima da média de outras crianças.

Em 2009, foi usado 1 milhão de toneladas de agrotóxicos em lavouras do país. Ou seja, 5 kg por brasileiro.

OUTRO LADO

O Ministério da Agricultura defende a realização de testes, conhecidos como "avaliações de risco", para saber se os efeitos nocivos dos agrotóxicos podem ser minimizados sem que as substâncias sejam necessariamente banidas do país.

Segundo Luís Rangel, coordenador da Secretaria de Defesa Agropecuária da pasta, a iniciativa de manter a utilização das substâncias foi tomada para que o Ibama e a Anvisa se mobilizem e participem da avaliação de risco.

A avaliação de risco é um estudo que combina os dados dos efeitos tóxicos de uma substância a dados sobre a exposição (doses e frequência) das pessoas a ela.

"O Ministério da Agricultura tem a intenção de criar ferramentas de manejo do risco desses agrotóxicos para que os riscos detectados pela Saúde [Anvisa] e pelo Meio Ambiente [Ibama] sejam minimizados", afirma Rangel.

Entre as ferramentas de manejo do risco, ele citou a venda direta do fabricantes a grandes produtores e cooperativas e não no varejo.

Para Rangel, a substituição dos agrotóxicos banidos pela Anvisa seria inviável pelo custo elevado dos produtos mais modernos. Isso, afirma o coordenador, comprometeria a viabilidade econômica de muitos agricultores.

Questionado sobre se ao final de uma avaliação de risco prevaleceria o entendimento da Anvisa, Rangel diz que a "palavra final é da Anvisa".

Pesquisadora e professora de Toxicologia do Curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Brasília e integrante do grupo de peritos em resíduos de pesticidas da ONU, Eloísa Dutra Caldas diz que o problema é complexo.

Embora considere que, num mundo ideal, esses agrotóxicos devessem ser banidos, ela sustenta que "o agricultor precisa desses inseticidas, porque os substitutos são muitos caros". Fonte; Folha de SP - Cotidiano


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