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16 de julho de 2010

CANTINHO LITERÁRIO: "HAIKAI COLETIVO ÀS MARGENS DO RIO CACHOEIRA"

Rio Cachoeira em Itabuna (BA) - Foto de haznobe, nascido em Itabuna,
mas residente em Brasília (DF)


HAIKAI COLETIVO


Dia 02 de Julho, após a Seleção Brasileira tomar aquele vareio da Holanda, eu e os poetas George Pellegrini e Piligra fomos almoçar em uma churrascaria em Itabuna, às margens do Rio Cachoeira, e tomar umas geladas a fim de colocarmos o papo em dia.

De uma das laterais do restaurante apreciamos a bela vista: o Rio Cachoeira com seu leito rochoso, a mata atlântica preservada por conta da plantação do Cacau que exige árvores frondosas à sua volta, e a vida pulsando ao redor.
Muitas cores. Inúmeros pássaros, como garças e graúnas, à margem do rio espreitando suas presas; outros, ao final da tarde, revoando em busca de abrigo.

Em clima de descontração começamos a escrever haikais. Exercícios apenas, embora frutos da vivência, de momentos observando a natureza.

Alguns deles são individuais, outros foram feitos a seis mãos. Ao final, há até a tentativa de uma renga (que acredito possamos retomar). Os haikais individuais estão assinados com as iniciais de cada autor: George Pellegrini (GP); Piligra (PI); Gustavo Felicíssimo (GF). Os coletivos estão com as três iniciais (GP PI GF).

as garças imóveis
lamentam a existência -
os carros passeiam
(GF)

tantas baronesas
e uma ponte solitária -
o mundo é cruel
(GP)

o rio segue a sina
da solidão da existência -
o mar: sua piscina
(PI)

gavião planando -
o olhar aguçado espreita
a presa sonhando
(GP PI GF)

paisagem invernal -
uma pintura abstrata:
roupas no varal
(GP)

reflete a cidade
sob o concreto da ponte -
piligra sorri
(GF)

reflexo difuso -
o rio como espelho vivo
e a imagem de um vôo
(PI)

as garças paradas
são pontos brancos no rio:
velho cachoeira
(GP)

feito uma galinha
a saracura se move:
atriz no tablado
(GF PI GP)

na margem do rio
a garça contempla calma
o peixe arredio
(PI)

as pedras cinzentas -
herança amaldiçoada
do rio cachoeira
(GP)

no voo de uma garça
a eternidade imprópria
sempre me ultrapassa
(PI)

céu azul turqueza
após a mata atlântica
um mar de beleza
(GF)

branco, branco, branco -
é imponenente o império
das garças no rio
(GP)

congelada a estátua
da garça, na margem cinza
é pura poesia
(PI)

desce o rio cortando
ávores, pássaros e pedras -
o olhar do poeta
(GP PI GF)

a pedra polida
deixa o rio insatisfeito -
é a regra da vida
(PI)

a regra da vida
nega a nossa existência -
instinto fatal
(GF)

parado o rio
calado, insonoro -
histórias a fio
na colcha de minha avó
as imagens da infância
(GP)

flores sobre a mesa -
no olhar do poeta triste
o abstrato não existe!
não fosse a ponte sobre o rio
de um dos lados faria frio
(PI GF)


Gustavo Felicíssimo é Poeta e ensaísta. Fundou em Salvador o tablóide literário SOPA, do qual foi seu editor. Organizou e fez publicar “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna”. Venceu o Prêmio Bahia de Todas as Letras, edição 2009, em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel, este último em parceria com Piligra. Tem no prelo o ensaio “Dendê no Haikai – O Haikai na Bahia”, a ser publicado pela Via Litterarum. Blog: www.sopadepoesia.blogspot.com

Piligra é Lourival P. Júnior, Professor universitário (UESC/BA) com Mestrado em filosofia pela UFPB (Universidade Federal das Paraíba). Publicou “Fractais”, 1996. Venceu o Prêmio Bahia de Todas as Letras, edição 2009, em parceria com Gustavo Felicíssimo, na categoria Literatura de Cordel. Possui poemas publicados em “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna”. Blog: http://kartei.blogspot.com/

George Pellegrini é licenciado em Letras pela UESC e doutorando em Literatura e Comunicação pela Universid de Sevilla (Espanha). Recebeu vários prêmios em poesia e conto, entre eles o Jorge Amado (UESB) e o Castro Alves (Salvador). Possui poemas publicados em “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna”. E-mail: pellegrini13@yahoo.es

Enviado pelo colaborador:

Gustavo Felicíssimo
Fundação Cultural de Ilhéus
(Diretor de Projetos)
www.sopadepoesia.blogspot.com
skype: gustavo.felicissimo



Não fora a beleza do lugar, o rio calmo e lindo... e como diz o poeta: "Muitas cores. Inúmeros pássaros, como garças e graúnas, à margem do rio espreitando suas presas; outros, ao final da tarde, revoando em busca de abrigo", ainda temos esses maravilhosos e competentes poetas, poetando ao cair da tarde...

Só mesmo quem ama e sabe o valor de um rio para uma comunidade pode se expressar assim, com tanta propriedade e competência! Obrigado poetas itabunenses!!!

Prof. Jarmuth Andrade

BLOG SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
quem defende as águas do Brasil!
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

Um comentário:

  1. boa noite amigos

    gostaria de saber se existe alguma lei que proíbe a construção que impeça a entrada de pessoas ao leito de um rio, pois aki na minha cidade os propietarios estao colocando cerca e cobrando a entrada das pessoas para faze uma pescaria.

    desde já obrigado

    amorim.cuiaba@lobo.com

    obrigado e espero resposta

    ResponderExcluir

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