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16 de outubro de 2010

IMPLANTAÇÃO DE HIDROVIAS NA AMAZÔNIA SERÁ PREJUDICADA PELAS NOVAS USINAS HIDRELÉTRICAS

Usinas hidrelétricas na Amazônia (clique para ampliar)

Novas usinas condenam hidrovias

Modelo de hidrelétricas sem reservatório exige a construção do dobro de eclusas comparado ao modelo antigo, com alagamento


13 de outubro de 2010 - O ESTADÃO

Renato Andrade, Leonardo Goy / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A solução encontrada por técnicos em engenharia do setor elétrico para construir hidrelétricas na Amazônia, sem a necessidade de grandes alagamentos e pânico entre ambientalistas vai dificultar a implantação de hidrovias na região.

Os reservatórios gigantes, utilizados durante anos na construção de usinas, acabavam "corrigindo" as corredeiras e quedas d"água, o que facilitava a navegação. Sem eles, a passagem de barcaças com carregamentos só será feita com a construção, em alguns casos, de um número quase três vezes maior de eclusas - espécie de comporta que permite embarcações subirem e descerem os rios.

Para contornar as barreiras ambientais e explorar a capacidade de geração de energia nos rios amazônicos, o setor elétrico abandonou o velho modelo de construção de hidrelétricas e passou a desenvolver projetos conhecidos como usinas fio d"água. Essa nova forma busca concentrar o fluxo do rio para movimentar as turbinas, evitando alagamento de grandes áreas.

A hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), é um exemplo de usina fio d"água. Na década de 70, quando começou a ser estudado, o empreendimento com 11.233 megawatts (MW) de potência resultaria no alagamento de área de 1.200 quilômetros quadrados, o equivalente a mais de dois terços da cidade de São Paulo. Com as mudanças no projeto, a área alagada caiu para 516 quilômetros quadrados.

As cinco usinas que o governo pretende construir no Rio Teles Pires (MT) até 2016 também serão feitas pela nova modelagem. Isso vai postergar mais uma vez a construção da hidrovia Teles Pires-Tapajós, o que desagrada produtores rurais da região.

Segundo Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), se o modelo antigo de usina fosse usado em Teles Pires, o governo teria de construir seis hidrelétricas, com uma eclusa ligada a cada projeto, para garantir a navegabilidade dos 1,4 mil quilômetros entre a foz do Tapajós e o município de Nova Canaã do Norte (MT).

Pelo novo modelo, o número de eclusas a serem construídas para garantir a navegabilidade subirá para 14. "Esse é o problema do fio d"água. Acrescenta custo. É preciso fazer mais eclusas, trabalhar mais os rios, fazer derrocagem (retirada de pedras), canais de navegação", diz Pagot.

Estudos preliminares indicam que, para garantir a navegação do Teles Pires seriam necessários cerca de R$ 14 bilhões em investimentos, ou seja, R$ 1 bilhão para cada 100 quilômetros de rio. O problema é que o potencial de carga a ser transportada é de, no máximo, 5 milhões de toneladas por ano.

Com um potencial de navegação de 63 mil quilômetros, só 20,6% são usados

Prioridades. Apesar da vontade de aumentar o transporte de cargas pelos rios, o investimento em rodovias e ferrovias ainda está no topo da lista de prioridades do governo. O potencial de navegação no País é de 63 mil quilômetros, mas só 20,6% são usados. Segundo estimativas da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), as hidrovias respondem por 11% das cargas transportadas pelo País, enquanto as rodovias abocanham 60%.

"Não temos recursos para ficar esbanjando e o cobertor é curto", diz Pagot. "Dar condições de navegação para um rio através de eclusas, barragens, derrocamento e não ter carga para transportar não faz sentido."

A importância das hidrovias também pesa na hora de decidir onde investir. Se o investimento estimado para Teles Pires fosse aplicado no Tietê-Paraná, a quilometragem de navegação no complexo saltaria dos atuais 700 quilômetros para 2,2 mil quilômetros e o volume de carga transportada passaria de 5 milhões de toneladas/ano para 30 milhões. O Tietê-Paraná beneficia regiões em cinco Estados. "Talvez até 2018 a gente esteja com a nova hidrovia do Tietê-Paraná pronta e até 2030 com Teles Pires-Tapajós".


MUDANÇA

Usinas antigas

Os grandes reservatórios das hidrelétricas construídas no passado ajudavam a dar condições de navegabilidade aos rios, pois as áreas alagadas corrigiam as corredeiras e quedas d"água

Fio d"água

Para diminuir os impactos ambientais, o governo decidiu construir as novas usinas no regime chamado fio d"água, que reduz o alagamento das áreas

Rio Teles Pires

Pelo modelo antigo, ao construir a Hidrelétrica Teles Pires, o governo teria de levantar seis eclusas para permitir a navegabilidade do rio. Com o regime fio d"água, o número de eclusas sobe para 14

Investimentos

De acordo com estudo preliminares, para tornar o Rio Teles Pires navegável, o governo teria de investir algo em torno de

R$ 14 bilhões, valor bem maior que o da construção de uma das usinas do Rio Madeira. Fonte: Jornal "O Estadão"



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