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24 de novembro de 2010

MORADIA CURIOSA NO MAR: NUMA PEQUENA CAIXA NO CAIS DA BALSA DE ILHA BELA (SP)





Em Ilhabela, pai e filha vivem em caixa no mar e despertam a curiosidade de quem passa pela balsa

"Permanência oferece risco a vida dos dois", diz assistente social

Renato Ferezim/ Carlinhos Brasil,
em Ilhabela

Uma pequena caixa, instalada ao lado do ponto de desembarque da balsa que liga São Sebastião à Ilhabela, desperta a curiosidade de moradores e turistas que chegam à ilha. No pequeno espaço vivem pai e filha que, segundo autoridades, apresentam quadro de subnutrição e vivem de maneira subhumana. 
A caixa, com cerca de 2 metros de comprimento e 1 metro de largura, serve de moradia para Jurandir Andrade - de 70 anos - e sua filha há pelo menos 2 meses, segundo pessoas que trabalham no local. 

"Ele chegou aqui na costa há uns 3 meses e começou a construir essa caixa aí. Comprou fibra de vidro, sentou debaixo de uma árvore e construiu. Como ele se misturava aos mendigos que ficam por aqui, pensávamos que ele ia construir para dormir aqui a noite. Um dia a caixa sumiu e quando demos conta, a caixa já estava no mar", conta Joaquin dos Santos, pescador. 

Logo que se instalou no local, o homem recebeu a visita de agentes da assistência social da cidade. "Ele não quis sair para conversar. Abordamos para saber se ele precisava de ajuda", diz Nanci Peres Zanato, secretária de Assistência Social. 

Até então, moradores e funcionários do local não haviam percebido a presença da filha de Jurandir. "Observamos uma mulher se abanando, havia uma movimentação diferente", diz um comerciante local. Foi a partir daí que a Polícia Militar foi chamada para averiguar denúncia de cárcere privado e abuso de menor. 



"Eles foram retirados da caixa para averiguação. O homem apresentou diversos documentos, inclusive passaporte. A garota, que se identificou como Janaína Andrade, não está presa, não se trata de cárcere. Apesar de muito magra, ela tem 34 anos. Não foi constatado crime", diz o policial Bittencourt, da base de Ilhabela. Segundo a Polícia Civil, nenhum dos dois têm antecedentes criminais e a mulher apresentou carteirinha de uma universidade de direito, que cursou anos atrás. 


A Marinha também esteve no local no dia 20 de outubro. Em nota, a Marinha informou que a caixa não pode ser considerada uma embarcação. "Trata-se de um dispositivo flutuante", diz a nota. Os dois foram retirados da caixa por um militar e encaminhados para o hospital de Ilhabela por estarem debilitados. 

"No hospital foi constatado que estavam subnutridos. Nenhuma doença foi detectada, mas estavam com piolhos", explica a assistente social. 

Sem qualquer irregularidade identificada, eles foram liberados e voltaram para a caixa. Desde então, quem passa pela balsa faz a mesma pergunta: "quem são as pessoas da caixa e o que elas fazem alí?" 
"É a primeira vez que vejo isso, um homem vivendo em uma caixa pequena, ao lado da passagem do público. Acho que isso não são condições para um ser humano viver", diz Maria Ferreira, funcionária pública. 

"É bem curioso, ele sai da caixa todos os dias, por volta das 9 da manhã, vai até o caixa eletrônico que fica aqui ao lado, segue até a padaria e traz pães de queijo. É tudo o que vemos ele comer", diz um funcionário da balsa, que pediu para não ser identificado. 

Na ilha, diversas são as versões sobre o passado de Jurandir. "Ele diz que é da Marinha, que vive com a aposentadoria", diz Maria Barros, funcionária pública. 

"Quando ele estava aqui perto, construindo a caixa, ele me contou que foi um comerciante muito rico em São Paulo. Faliu e veio morar aqui. Disse que agora faz pesquisas", conta Dona Deolinda, aposentada que vive há 7 anos na ilha. 

Nossa reportagem tentou um contato com o homem, chamando-o pela passarela de acesso à balsa, sem sucesso. Conseguimos contato apenas com uma pequena canoa, com a ajuda de um pescador que trabalha no local. 

Seu Jurandir, que hoje é chamado de "náufrago" pelos comerciantes do local, não quis muita conversa. Bem agitado e incomodado com nossa presença, em 8 minutos de conversa disse, em bom português, que está alí para uma 'experiência internacional'. "É um projeto pessoal, estou estudando algas", disse. 

Contrariando a versão dos pescadores, ele explica que não construiu a caixa na ilha. "Venho de Manaus fazendo este experimento. Sou da reserva da Marinha, já viajei o mundo e, em local algum, vi um povo curioso e atrasado como este que vive aqui". A Marinha não confirmou se Jurandir Andrade já fez parte de seu corpo de militares. 

Jurandir diz que ficará por 6 meses na ilha, junto com a filha, que durante nossa permanência no local, cobriu o rosto com uma revista. "Ela não quer falar com vocês, mas ela está muito bem", explica. Questionado, não soube responder a relação de reclamar por privacidade e se instalar bem ao lado da passagem do público da balsa. 
Enquanto isso, Assistência Social e Ministério Público discutem se Jurandir deve mesmo permanecer no local. "Há um consenso que eles correm risco ficando alí. Uma caixa de fibra no mar, com esse calor e esse quadro de subnutrição. A permanência oferece risco a vida dos dois", argumenta a assistente social. 

Enquanto as autoridades debatem, a dupla segue vivendo de maneira excêntrica, sob o sol de mais de 40 graus de Ilhabela.Fonte: VNews - Globo.com

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