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3 de janeiro de 2011

SOS RIO TAPAJÓS - "CARTILHA COMPLEXO TAPAJÓS"






Cartilha "Complexo Tapajós"

 

A iniciativa é uma produção da Frente em Defesa da Amazônia, do Movimento Tapajós Vivo e da Aliança Missionária Franciscana do Tapajós e objetiva apresentar e discutir com os trabalhadores da bacia do rio Tapajós o mega-empreendimento do governo federal que é construir cinco grandes hidrelétricas que inundarão 1.950Km² de florestas, comunidades, unidades de conservação e terras indígenas e ameaça o modo de vida e a biodiversidade em toda a região do rio Tapajós.

Defender o rio Tapajós, mantê-lo vivo e fluindo, é para os povos do Baixo Amazonas uma questão de vida e dignidade. É preciso tomar consciência de que construir cinco hidrelétricas, como pretende o governo federal, é destruir não só os rios Tapajós e Jamanxim, mas também destruir a vida da natureza e dos povos da região. 

Não se pode ficar calado ou apenas murmurando indignação quando serão inundados 1.950 Km² de florestas e terras indígenas. Energia limpa pode ser lá nas empresas receptoras, mas nas bacias do Tapajós ficará a sujeira e poluição. Por isso, a carta dos índios Mundurukus é o sentimento de todos e todas que vivem nesta região e lutam pela vida. 

CARTAS DOS INDÍGENAS 

Carta dos indígenas mundurukus da missão Cururu: 
Exmo. Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva Exmo. Senhor Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão e demais Autoridades responsáveis pelo setor energético do Brasil. 

Nós comunidade indígena, etnia Munduruku, localizada nas margens do Rio Cururu do Alto Tapajós, em reunião na Missão São Francisco, nos dias 5 e 6 de novembro, viemos por meio deste manifestar à vossa excelência nossa preocupação com o projeto federal de construir cinco barragens no nosso Rio Tapajós e Rio Jamanxim. 

Para quem vai servir? Será que o governo quer acabar toda a população da bacia do Rio Tapajós? Se apenas a barragem de São Luis for construída vai inundar mais de 730 Km². E daí? Onde vamos morar? No fundo do rio ou em cima da árvore? 

Aximãyu'gu oceju tibibe ocedop am. Nem wasuyu, taweyu'gu dak taypa jeje ocedop am. (não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores). 

Nos deixem em paz. Não façam essas coisas ruins. Essas barragens vão trazer destruição e morte, desrespeito e crime ambiental, por isso não aceitamos a construção das barragens. Se o governo não desistir do seu plano de barragens, já estamos unidos e preparados com mais de 1.000 (mil) guerreiros, incluindo as várias etnias e não índios. 

Nós, etnia Munduruku queremos mostrar agora como acontecia com os nossos antepassados e os brancos (pariwat) quando em guerra, cortando a cabeça, como vocês veem na capa deste documento. Por isso não queremos mais ouvir sobre essas barragens na bacia do Rio Tapajós. Por que motivo o governo não traz coisas que são importantes para a vida dos Munduruku, para suprir as necessidades que temos: como educação de qualidade, ensino médio regular, escola estadual, posto de saúde, etc. 

Já moramos mais de 500 anos dentro da floresta amazônica, nunca pensamos destruir, porque nossa mata e nossa terra são nossa mãe. Portanto, não destruam o que guardamos com tanto carinho. Subscrevemos 09 caciques – capitães em sua denominação e cerca de 60 participantes dos dois dias de encontro, na missão São Francisco do Cururu. 


BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

3 comentários:

  1. Os senhores viram o conteúdo dessa cartilha? Acham correto estimular os índios a arrancarem a cabeça dos engenheiros que fazem o trabalho deles para os 190 milhões de brasileiros? Qual a diferença entre esse prática e a discriminação racial ou sexual? Se não há diferença, por que esse sítio faz a divulgação dessa cartilha criminosa?

    Rodrigo De Filippo

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  2. Prof. Jarmuth - SOSRiosBr27 janeiro, 2011 23:48

    Sr. Rodrigo,

    Creio que o Sr leu e não entendeu bem o que disseram os Caciques indígenas na sua Carta ao Sr. Presidente da República.
    Ninguém está estimulando os índios a fazer nada. São eles que estão tentando desesperadamente salvar o seu rio e as terras que moraram a vida toda, mesmo antes do país ser descoberto.
    Inundar 1.950 Km² de florestas e terras indígenas e destruir o pouco que eles possuem, suas terras, suas plantações, suas famílias, seus sagrados cemitérios e espaços tem significado para o senhor?
    O Sr. é daqueles que acham que os nossos irmãos índios são criaturas de categoria inferior?
    Da mesma forma que nós defendemos nossos rios, nossas propriedades, nossos espaços, nossas conquistas e o conforto de nossas famílias, eles também tem o direito de defender a deles.
    Se quiser escrever um artigo manifestando-se contra a posição dos indígenas, de sua forma de protestar, de sua cartilha, nossos espaços estão democraticamente a sua inteira disposição e gratuitamente.
    Basta enviar seu artigo para o e-mail acima e será publicada.
    Para nós, os índios do Brasil são pessoas com o mesmo direito de todos nós brasileiros, mesmo que não tenham nossa cultura, não pensem como pensamos e não ocupem cargos no Governo.
    O SOS Rios do Brasil é um espaço democrático e livre para a defesa dos rios e mares do Brasil.

    Prof. Jarmuth Andrade

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  3. Não se trata de preconceito contra os índios, mas do que nossas leis determinam. Incitar pessoas a matarem as outras é crime. E é assustador que isso tenha partido de um padre. Aliás, um dos pilares de uma cultura é a religião. É curioso que ninguém se incomode com a implantação do cristianismo entre os povos indígenas e que sejam omissos frente aos acordos tácitos entre índios, garimpeiros e madeireiros.

    Se eu aplicar a mesma lógica da cartilha, os proprietários rurais estão certos ao se armarem contra os invasores sem-terra.

    O senhor mencionou "o conforto de nossas famílias". Não custa lembrar que o bem-estar, a segurança, a saúde e o conforto (que inclui a aquisição de computadores e o acesso à Internet) de 70% das famílias brasileiras depende de energia elétrica. O progresso econômico e social depende de energia elétrica. Nos últimos oito anos tivemos um surpreendente aumento do poder aquisitivo da população em geral, que melhorou sua qualidade de vida. E o consumo de energia cresceu mais que o PIB.

    Melhor discutir as usinas do Tapajós agora, enquanto a demanda de energia não pressiona a decisão de construí-las. Melhor discutir a ocupação racional da Amazônia enquanto ela ainda existe. Se os senhores permanecerem na ilusão de que a região ainda é o paraíso intocado, pouco restará dela devido ao abandono pelo Estado. E uma das formas do Estado se fazer presente é por meio de projetos de infraestrutura, que possibitam acesso, controle e fiscalização.

    Rodrigo De Filippo

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