A anchova (também conhecida como enchova ou anchoveta 7/4/2011 | |||||||
Quando a anchoveta salva uma nova espécie de lobo-marinho. Entrevista especial com Larissa Oliveira | |||||||
A anchoveta, uma espécie de sardinha, era, até pouco tempo, considerada um “peixe pobre”, por isso, no Peru, ela era apenas usada como farinha para alimentar outros animais. No entanto, a alimentação dos lobos-marinhos que vivem na costa do país depende principalmente desse peixe e, por isso, eles começaram a morrer por inanição. Porém, essa espécie de lobo-marinho peruana é completamente diferente das outras espécies da América do Sul. É aí que entra o trabalho da bióloga brasileira Larissa Oliveira. Durante um trabalho que desenvolveu no Peru, ela notou que esses lobos-marinhos que estavam morrendo de fome pertenciam a uma desconhecida espécie até então e descobriu a causa que estava levando-os à extinção. Em entrevista por telefone à IHU On-Line, a professora explicou como ela encontrou os animais e como
A ideia surgiu quando Patrícia Majluf, que também fazia parte do projeto, disse que tínhamos que pensar a conservação do peixe junto com a questão da necessidade de prover proteína para o povo peruano”. Foi assim que o principal chefe de cozinha do Peru, Gastón Acurio, entrou no projeto e promoveu a Semana Nacional da Anchoveta. Junto com outros chefes, ele criou receitas usando a anchoveta que foram publicadas nos principais jornais da região. O consumo humano da anchoveta aumentou e isso gerou uma série de medidas protetoras do peixe, o lobo-marinho voltou a se alimentar e a procriar e o povo peruano ganhou uma nova fonte de proteína no prato. “Sem a anchoveta, temos um declínio violento das populações de todos os vertebrados marinhos, de uma maneira geral, porque morrem de fome. E o lobo-marinho é um dos animais que mais depende dela”, comentou. A bióloga Larissa Rosa de Oliveira é professora da Unisinos. É graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Biociências pela PUCRS e doutora em Biologia Genética pela Universidade de São Paulo. Faz parte do Centro para la Sostenibilidad Ambiental, no Peru e do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul. Confira a entrevista. IHU On-Line – As mudanças climáticas têm alguma relação com o problema desse lobo-marinho que você descobriu na costa do Peru? Larissa Oliveira – Tem sim. Isso é bastante interessante porque acreditamos que essa espécie se tornou
IHU On-Line – E como foi que você descobriu essa nova espécie de lobo-marinho? Larissa Oliveira – Entre 1996 e 1998, fiz um estágio no Peru – e foi quando ocorreu o fenômeno El Niño mais forte da história – onde analisei o fenômeno climático e vi que em várias praias havia muitos animais mortos. Aproveitei e coletei os crânios dessas espécies e armei uma coleção para o projeto. Cheguei da expedição, medi os crânios e os comparei com os dos animais aqui do Atlântico. Até então, eles eram considerados da mesma espécie. No entanto, na forma e no tamanho do crânio, esses animais eram completamente diferentes e, durante meu doutorado, coletei amostras de tecidos e fiz uma nova análise genética comparando os lobos-marinhos da costa peruana aos do Atlântico novamente. Percebi que tanto a genética quanto a morfologia do crânio eram completamente diferentes. Depois encontrei outras evidências no comportamento e no peso. Como eles são isolados das demais espécies da América do Sul, essa dificuldade, as pressões seletivas pelo fenômeno El Niño naquela região e as diferenças moleculares e morfológicas me levaram a concluir que estávamos diante e observando o surgimento de uma nova espécie de lobo-marinho. Até então, esse lobo-marinho da costa peruana era visto como a mesma espécie que se apresenta na costa atlântica também. No entanto, o isolamento geográfico dessa região distancia esses lobos-marinhos em até dois mil quilômetros de uma nova população. Ou seja, eles estão em toda a costa peruana e na região do norte do Chile e, em seguida, desaparecem. IHU On-Line – Qual a importância desse lobo-marinho e do peixe conhecido como anchoveta para o ecossistema peruano? Larissa Oliveira – O lobo-marinho é um predador de topo de cadeia e a anchoveta é uma espécie-chave porque depende dos predadores primários para sobreviver e aqueles que consomem esse peixe são os animais do topo da cadeia alimentar. A anchoveta, durante o fenômeno El Niño, migra mais para o sul ou mais para o fundo. Nesse caso, em 1997 aconteceu que a própria pesca da anchoveta acabou colapsando a existência desse grande cardume. Ela literalmente desapareceu. Porém, todo o ecossistema é gerado por essa espécie chave. Sem a anchoveta, temos um declínio violento das populações de todos os vertebrados marinhos, de uma maneira geral, porque morrem de fome. E o lobo-marinho é um dos animais que mais depende dela. Há todo um desequilíbrio se qualquer uma das espécies desse ecossistema desaparecer, principalmente a anchoveta. IHU On-Line – Qual era o destino dado à anchoveta antes? Larissa Oliveira – A anchoveta servia para fazer farinha a fim de alimentar outros pescados ou frangos naquela região. A captura excessiva desse peixe comprometeu a sobrevivência de espécies que vão de aves a golfinhos e lobos-marinhos. E é surpreendente ver isso acontecer num país como o Peru que é tão carente de proteínas. Imagine só utilizar esse peixe, que é uma sardinha, para consumo animal e não para consumo humano. IHU On-Line – Como o Gastón Acurio, um dos principais chefes de cozinha do Peru, entrou no projeto? Larissa Oliveira – Isso é muito legal, porque, na verdade, nós queríamos chamar atenção para o processo
IHU On-Line – O consumo desse peixe estimula a produção dele? Larissa Oliveira – Sim. Agora, na verdade, achamos que a anchoveta vai ser mais capturada para consumo humano. A geração da demanda do consumo humano vai gerar uma maior fiscalização e uma regulamentação das capturas, coisas que não aconteciam anteriormente. Por exemplo, quando ocorrer o fenômeno El Niño não será possível capturar esse peixe. O consumo humano vai gerar uma fiscalização maior e uma regulamentação das cotas de captura para conseguir manter a manutenção deste recurso natural por muitos anos. IHU On-Line – O que isso tem a ensinar a nós aqui no Brasil? Larissa Oliveira – Nós temos que começar a fazer realmente uma utilização sustentável de todos os recursos humanos, observando todos os indivíduos que fazem parte do ecossistema. Não podemos, obviamente, esquecer do fator humano, mas ele não pode ser prioritário, existe um ecossistema formado por vários níveis e pensar nele significa incluir a própria produção primária, que é a base da cadeia trófica. A qualquer momento que nós tiramos uma espécie chave deste quebra-cabeça, dessa teia alimentar, e é assim que vamos desequilibrar e alguém vai sofrer. No primeiro momento, podem ser apenas alguns animais, mas os homens vão acabar sofrendo as consequênciasdesse “descuido” ambiental. Qualquer desequilíbrio deve ser evitado, então realmente temos que fazer valer a questão do desenvolvimento sustentável, sem exaurir qualquer recurso. Precisamos entender que o fenômeno El Niño, apesar de acontecer no Pacífico, tem conexões e influências fortes por aqui também. Um exemplo disso são as secas, o La Niña, os períodos de fortes chuva. Qualquer peça que movamos no ecossistema mundial, qualquer desequilíbrio no ecossistema mundial como o próprio El Niño que é uma coisa cíclica, vai afetar de alguma forma e em algum momento outras regiões do mundo. É bom isso ficar claro, porque, por exemplo, o que vai influenciar – nos perguntamos – essa nova espécie de lobo-marinho no Peru? É uma “cascata” de eventos para regulamentação da anchoveta. Mas o motivo mais forte, o acelerador de todo esse projeto, foi o fenômeno El Niño. Então, temos que pensar que precisamos começar a consumir de forma sustentável para não agravar a questão do aquecimento global e, consequentemente, o El Niño porque todo o nosso clima está conectado a esse fenômeno. SAIBA MAIS A anchova (também conhecida como enchova ou anchoveta) é um peixe actinopterígeoda família Engraulidae, à qual pertence o biqueirão, geralmente de menor tamanho. Em várias regiões do mundo, estas espécies suportam pescarias de grandes dimensões; a mais conhecida é a anchoveta do Peru e Chile, Engraulis ringens, da qual se chegaram a capturar doze milhões de toneladas. BrasilNo Brasil é comum o uso de anchovas como recheio para pizzas, sendo - neste caso - chamada pizza de alice (pronúncia alítche). (Wikipédia - Enciclopédia Livre) |
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