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20 de agosto de 2009

AS QUESTÕES AMBIENTAIS DAS MONOCULTURAS DE EUCALIPTO

Charge Eugênio Neves - RSUrgente Eucalipto

Artigo Apolo Heringer Lisboa

O Manuelzão Nardi me dizia que não viu nada pior que o eucalipto para o sertão. Não se referia a uma árvore, a dezenas em uma propriedade familiar, ou à recuperação de uma área degradada. Falava da destruição das veredas; dos riachinhos secando, da guerra das máquinas tratorando o cerrado com grossas correntes de uma blitzkrieg , devastando a natureza em grandes proporções, afugentando animais e enchendo tudo só de eucalipto.

O problema não é “pessoal” de ser contra ou a favor de uma planta em si. Se o eucalipto seria uma planta intrinsecamente má ou boa. A questão é outra. Poderia tratar o eucalipto em igualdade de condições com outras plantas e animais exóticos introduzidos no Brasil como a manga, o café, o coco, a cana, a vaca.

Vou discutir aqui as grandes plantações de eucalipto. A monocultura extensiva. Algumas atravessando de um estado da federação para outro. Precisamos discutir a monocultura extensiva do eucalipto e suas conseqüências ambientais e sociais. Para esta cultura acontecer a região é despovoada e desmatada. Acaba-se com toda a flora e fauna.
A população é escorraçada, pois não dá para viver isolado em meio a tanto eucalipto, caminhões e empregados, sem a biodiversidade florística e faunística. As plantações de eucaliptos chegam às margens dos rios, encostas e topos. É o chamado deserto verde. São extensões de centenas de quilômetros cortadas por estradas umas iguais às outras, longe de tudo e sem casas por perto. Uma floresta sem passarinhos. Cheia de veneno agrícola.

O argumento das empresas é que evitam o uso do carvão de matas naturais; que exportam celulose gerando divisas; que levam recursos para estas regiões. Ou seja, desmatam tudo antes, toda a mata natural que afirmam defender! Poluem as águas com os resíduos químicos de formicidas, herbicidas, etc, ou seja os agrotóxicos.
Depois da plantação e cuidados iniciais geram grande desemprego e só volta a empregar após sete anos, e pouco, pois as máquinas é que cortam. Criou-se a “classe” dos bóias frias da época do plantio; e favelas nas cidadezinhas da região. Claro que geram renda também, mas o objetivo não é o desenvolvimento humano e ambiental sustentável da região. Têm uma visão economicista, predatória e mercantilista em 99% dos cálculos, com características coloniais, voltados ao mercado internacional de commodities.

Durante a ditadura militar os bancos oficiais abriram seus cofres a estas empresas e no norte de Minas foi um período de destruição da biodiversidade natural, de desagregação social e degradação do solo. Claro que este processo seca os rios, pois o desmatamento desprotege o solo, que fica como cerâmica esturricada. As chuvas torrenciais desta região assoreiam os córregos e rios. Em vez de cheias e vazantes passamos a ter enchentes e secas.
Muitas empresas após se enriquecerem, com 21 anos e três colheitas sucessivas do ciclo, abandonaram a região na degradação que produziram. O caso da região de Taiobeiras, norte de Minas e municípios vizinhos, ficou famoso. Favelas, drogas, prostituição enorme, inclusive de crianças, envolvendo a elite local, devido a desestruturação familiar e da pequena produção de subsistência. É um modelo de desenvolvimento lesivo aos interesses da sociedade e do país. Quem quer isto para seu país?

O Manuelzão Nardi me dizia que não viu nada pior que o eucalipto para o sertão. Não se referia a uma árvore, a dezenas em uma propriedade familiar, ou à recuperação de uma área degradada. Falava da destruição das veredas; dos riachinhos secando, da guerra das máquinas tratorando o cerrado com grossas correntes de uma blitzkrieg , devastando a natureza em grandes proporções, afugentando animais e enchendo tudo só de eucaliptos.

Caso se fizessem plantações em propriedades familiares exigindo que só se plantasse em área degrada de pastos velhos ou erodidas, que já são vastíssimas, poderia combinar aumento da renda familiar e recuperação de solo, sem os efeitos nocivos e de monta apontados anteriormente. Mas este modelo as grandes empresas não gostam, se sentem dependentes de gente, querem liberdade total, rapidez e escala. Interessante que conseguem créditos de bancos oficiais. Por que não se criam comissões econômicas das empresas com as comunidades para fazerem negócios transparentes com assessoria jurídica e técnica?

Mesmo algumas plantações maiores poderiam ser compatibilizadas, desde que combinando com outras plantações, permitindo a convivência com animais e plantas num manejo inteligente, conservando biodiversidade e a presença do homem do campo, ao derredor e interagindo, sem aquele aspecto de fim de mundo, de nazismo ecológico, de invasão estrangeira dos mercados internacionais. O problema não é a planta é quem planta e como planta. Uma das regras seria respeitar os ecossistemas, deixando grandes extensões intocáveis e os imprescindíveis corredores ecológicos de grandes dimensões.

O corredor universal são os córregos e rios, que deveriam ficar plenamente protegidos em extensão significativa das margens; são as montanhas e vales. Se houver diálogo tudo por ser discutido e acertado. Mas esta não é a tradição do estado brasileiro. Falar em fiscalização em grandes empresas, em licenciamento responsável ambientalmente, em responsabilidade social, em desenvolvimento sustentável nem precisa eu dizer nada.

Nós não temos gestão ambiental integrada com metas de qualidade e controle dos efeitos por território de bacia; nem rios enquadrados no máximo tolerável da Classe II Conama, que permitiria pescar e nadar; nem interesse, compreensão e compromisso com estas teses. Temos algumas pessoas na sociedade, nos governos e empresa que sonham com formas sustentáveis de manejo, mas o sistema político e empresarial não pensa, não pensa assim, têm muita pressa. Meio ambiente ainda não se tornou uma prioridade para todos.

Apolo Heringer Lisboa, julho de 2009

por João Suassuna REMA ATLÂNTICO — 19/08/2009
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Um comentário:

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    Metodologia: aulas expositivas

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    Atendimento na recepção de 9h às 18h.
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