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21 de julho de 2010

O MAIOR PROBLEMA NO SEMI-ÁRIDO NÃO É A FALTA DE ÁGUA, MAS O SEU GERENCIAMENTO

Açudes cheios não garantem abastecimento das cidades: falta gerenciamento

Repórter: Ezequiel Rocha

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Rosário, Distrito de Milagres, ficou isolado com as chuvas porque açudes do Cariri cearense arrombaram, e a água que era para ficar reservada foi embora (Foto: Kiko Silva)

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Reserva recorde atingiu açudes do Nordeste e fez a pesca se multiplicar. O problema é que o mau gerenciamento evita que os benefícios se estendam ao longo do ano

O problema do semi-árido não é escassez de água, mas de gerenciamento. Apesar de açudes do Nordeste terem alcançado recordes de reserva, muitas cidades precisaram ser abastecidas por carros-pipa. A discrepância é tão grande que, segundo o livro ´A Potencialidade do Semi-Árido Brasileiro´, os 27 maiores açudes nordestinos acumulam 21,54 bilhões de metros cúbicos de água, suficientes para encher 11 vezes a Baía de Guanabara

Se fosse pela quantidade de açudes que possui, o Nordeste jamais passaria por problemas de armazenamento de água. São 70 mil reservatórios na Região, que acumulam 37 bilhões de metros cúbicos de água. Os números indicam que, mesmo com as chuvas irregulares e com a natureza semi-árida, se o recurso fosse gerenciado a contento, os estados nordestinos seriam cercados de água boa para beber, cozinhar, tomar banho e plantar.

O que se viu com as chuvas deste ano comprova a situação mostrada no livro ´A Potencialidade do Nordeste Brasileiro´, do geólogo e hidrólogo piauiense Manoel Bonfim Ribeiro. Isso porque o autor considera que o problema do semi-árido não é falta d´água, mas mau gerenciamento. ´O Nordeste é a região mais açudada do planeta; tem um terço do que o São Francisco despeja no mar a cada ano´, relata.

No caso do Ceará, a situação é até melhor se comparada com outros Estados. A Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) administra 180 açudes, em parceria com o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Mas isso não significa que, com as chuvas deste ano, a água doce e de qualidade esteja garantida.

Como muitas das edificações são antigas, não passam por manutenção constante ou mesmo foram construídas sem normas técnicas, não é raro a água acumulada danificar o equipamento e, conseqüentemente, prejudicar seus usuários.

Em Aurora, por exemplo, 23 açudes arrombaram. Em Caririaçu, foram 15. A situação deixou distritos isolados, crianças sem escola, comerciantes sem produtos para vender e a população em geral, aflita.

Segundo o secretário de Agricultura e coordenador da Defesa Civil de Aurora, Bernardino Bezerra Neto, por dias a água na cidade ficou barrenta. Isso porque a água que abastece o Município, é do Açude Cachoeira, cuja adutora tem canal de quatro quilômetros a céu aberto.

Em Caririaçu, a força da água vinda de barragens arrombadas destruiu residências, pontes e perspectivas. Perto da Ponte do Jenipapeiro, os moradores tinham que pagar R$ 1,00 para meninos ajudarem na travessia de um braço do Rio Salgado. O agricultor Antônio Roberto de Araújo perdeu animais, móveis, lavoura e a própria casa que passou 20 anos para construir. “Mas a gente não pode desfazer das coisas de Deus”, resigna-se.

No fim do mês passado, o volume de água nos açudes cearenses atingiu sua capacidade máxima neste ano, o que deixou o Estado com o segundo maior volume de reserva de toda a história, perdendo somente para 2004. Segundo dados da Cogerh, que monitora 128 açudes no Ceará, o armazenamento no Estado chegou a 83,23%.

O maior reservatório, o Castanhão, bateu recorde de reserva, com 84,67% de armazenamento. Para o titular da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado (SRH), César Pinheiro, o volume é suficiente para garantir o abastecimento pelos próximos três anos.

Recordes

Este está sendo um ano de recordes. O mais significativo diz respeito ao Castanhão. Dos 6,7 bilhões de metros cúbicos da capacidade total, o açude, localizado em Alto Santo, no Baixo Jaguaribe, chegou a 84,67% de sua capacidade total, o que corresponde a 5,6 bilhões de metros cúbicos de água. Nem em 2004, quando o açude sangrou dentro de 21 dias, houve tanta fartura.

Essa água controla a distribuição no interior, mas também chega a Fortaleza. É que o sistema de abastecimento da Capital comporta nove açudes: seis da bacia Metropolitana, Castanhão (Médio Jaguaribe), Orós (Alto Jaguaribe) e Banabuiú (Banabuiú). Todos, neste ano, atingiram mais de 50% da capacidade e cinco, mais de 80%. O Acarape do Meio, em Redenção chegou a 99%.

RECURSOS HÍDRICOS
Ceará é destaque no gerenciamento

Garantir abastecimento no semi-árido durante a seca. Este é o desafio secular enfrentado pelo Nordeste e Norte de Minas Gerais, que sofrem conseqüências das oscilações climáticas. O gerenciamento dos recursos hídricos serve não só para assegurar água nas torneiras, mas para o desenvolvimento sustentável.

´A principal carência é de recursos humanos´, observa Dalvino Franca, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Ele destaca o trabalho do Ceará no gerenciamento de recursos hídricos. Para Dalvino, em alguns Estados, o problema é a organização institucional.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a revitalização e transposição do Rio São Francisco, continua, garantirão segurança hídrica para o Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O Pró-Água prevê investimento de US$ 200 milhões. Acordo entre ANA, Departamento Nacional de Obras Contra Secas (Dnocs) e Estados possibilitará ainda a manutenção dos açudes. “Não há mecanismo para gerir”, diz, defendendo a importância do monitoramento da vazão.

fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=564546

Enviado por João SuassunaÚltima modificação 20/07/2010 - Rema Atlântico


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