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20 de junho de 2011

SOS RIO IGUAÇU - UM RIO QUE PEDE SOCORRO AO SEU POVO


Rio Iguaçu, o segundo rio mais poluído do país

Um rio pede socorro
*Antonio Ostrensky
Mudanças implicam ações concretas que vão muito além de se fechar a torneira enquanto se escovam os dentes


Quem chega de avião a Curitiba, se prestar um pouco de atenção, terá uma visão panorâmica de um rio que nasce tranquilo, da confluência do Rio Atuba com o Rio Iraí, e que, após percorrer mais de 1.300 km chega grandioso, formando as maiores quedas d’água em volume de todo o planeta: o Rio Iguaçu.

Mas, se a lembrança das cataratas nos remete a algo que é motivo de e deslumbramento, a visão que se tem de cima não é das mais animadoras: lixo, margens que mais parecem um queijo suíço, cheias de buracos causados pela extração de areia, ocupações irregulares, mata ciliar praticamente ausente.

Aqui embaixo a visão também não é das melhores, piorada, porém, pelo fato de se poder sentir o cheiro nada agradável que é exalado em diversos pontos do rio.O pior é que a gente acaba se acostumando e até achando que isso é normal, que não tem como mudar. Aliás, neste verão muita gente só se deu conta da existência do rio quando ele, ou um de seus afluentes (como Barigui, Belém, Pilarzinho) saiu do seu leito e invadiu casas, provocando destruição, desabrigando famílias, matando pessoas.


Porém é preciso que tenhamos a consciência de que nada disso é normal. Nada disso é aceitável em uma “capital ecológica”. Não é normal que em pleno século 21, em uma das mais ricas e desenvolvidas regiões metropolitanas do Brasil, esgoto doméstico continue saindo das privadas diretamente para os nossos rios. Não é possível que a demagogia e falta de coragem do poder público permita que famílias (e está longe de serem apenas famílias pobres, como ficou claro nas últimas enchentes) ocupem áreas que os rios utilizam naturalmente para extravasar o aumento do seu volume em épocas de chuvas. Não se pode mais admitir que a falta de educação básica das pessoas ainda as façam ver os rios como grandes latas de lixo, nos quais podem ser jogados desde as sacolas de supermercado contendo o lixo doméstico, animais mortos, pneus, sofás ou geladeiras.


É evidente que a responsabilidade por reverter essa situação é de todos nós, governo, indústria, comércio, agricultura, sociedade civil. Mas também é evidente que essa mudança não vai acontecer como por milagre, de uma hora para outra.


Mudanças implicam ações concretas que vão muito além de se fechar a torneira enquanto se escovam os dentes. Elas passam pela redução do desperdício na distribuição. Não é incomum haver desperdícios de até 40% da água antes que ela chegue aos consumidores. Também não é incomum constatarmos que águas que passaram por estações de tratamento acabam sendo lançadas nos rios com qualidade muito inferior à exigida pela legislação ambiental.


Mudanças passam pelo desenvolvimento de sistemas de coleta e utilização de água da chuva. Pela criação de alternativas para que seja possível a utilização de água de reuso ao invés de água potável nas descargas de vasos sanitários. Mudanças exigem a separação efetiva de lixo nas residências e pela coleta seletiva desse lixo. A reciclagem do material reaproveitável. A construção de aterros sanitários eficientes e o fim dos lixões. A recuperação ambiental das áreas de extração de areia. O emprego de técnicas agropecuárias mais eficientes e menos impactantes. O tratamento adequado dos efluentes industriais.


Mudanças implicam ainda uma maior cobrança da sociedade civil em relação ao poder público. De nada adianta termos legislações ambientalmente avançadas se nem mesmo quem tem a atribuição legal de fiscalizar o seu cumprimento as respeitam.


Pode parecer uma grande utopia imaginar que isso vá acontecer um dia. Mas a outra opção será certamente bem pior e custará bem mais a todos nós. Com o crescimento desordenado de Curitiba e região metropolitana continuaremos a assistir a um contínuo processo de sufocamento das nascentes do Rio Iguaçu. O aumento da poluição e da frequência de inundações. A incidência cada vez maior de doenças e epidemias relacionadas à água. O aumento dos custos para o tratamento de água.


A proposta do Projeto Águas do Amanhã é justamente chamar a atenção, informar, conscientizar, mobilizar a população e a sociedade para que todos compreendam a extensão e as con­­sequên­­cias dos problemas relacionados ao Rio Iguaçu. É o primeiro passo apenas, é verdade. Porém nunca chegaremos a lugar nenhum sem darmos esse primeiro passo.


Antonio Ostrensky é coordenador do Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais da UFPR e coordenador-técnico do projeto Águas do Amanhã.
BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

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