Jornal d´Aqui entrevista professor Aziz Ab'Sáber
Fonte: Jornal d´Aqui
Por Thaïs Roji
Nosso primeiro entrevistado do ano é um dos brasileiros mais ilustres: Aziz Ab’Sáber.
Nascido em 1924, professor, geógrafo e grande ambientalista, fez pesquisas e trabalho de campo em praticamente todo o território brasileiro, observando de perto a destruição das últimas décadas das matas e ecossis-temas. Sua luta em defesa da natureza teve início em São Paulo, com a mobilização em prol da Mata Atlântica e se estendeu por todo o país.
Conversar com Aziz Ab’Sáber é uma oportunidade.
É poder viajar no tempo-espaço. Com sua impressionante memória, as respostas são dadas através de histórias detalhadas, com citações precisas das pessoas, datas e, evidentemente, suas localizações.
Mais que o maior geógrafo brasileiro, Aziz Ab’Sáber é um homem extremamente culto, humanista inquieto, observador inteligente e com simplicidade nos mostra que o poder do saber é um processo múltiplo, que se faz no diálogo entre vários campos do conhecimento.
Ano passado ganhou o Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano.
Com muita simpatia, e a delicadeza de um grande homem, nos recebeu em sua residência aqui na Granja para um bate-papo.
JDA: O Sr. mora na Granja Viana há muitos anos?
Moro na Granja Viana desde 1972. Sempre morei aqui. Minha residência era uma chacrinha... Hoje com o enorme imobiliarismo que está existindo aqui, a coisa está ficando tétrica. Isso é a primeira coisa que queria falar. O imobiliarismo exagerado que está existindo e que representa muito mais o neocapitalismo do que a cultura. Problemas de cultura não estão em jogo, o que está em jogo é que cada prefeitura pretende ganhar mais impostos com mais casas e sobretudo as maiores. E isso em Cotia está chegando ao exagero total. Quanto mais prédios altos, mais escritórios, mais imobiliarismo, mais importância econômica para Cotia, por causa dos impostos. Isso é terrível! Eu acho que não podia ser assim. Os arquitetos e urbanistas fazem os projetos mas não levam em conta o que vai acontecer com as ruas e com o trânsito. Aqui ficou o caos. Um pólo de desenvolvimento arquitetônico e economista mas não se preocuparam de maneira nenhuma com os acessos das pessoas que sempre estiveram aqui.
JDA: E não é por falta de cobrança. O trânsito: há pelo menos três anos fazemos matérias questionando o Poder Público sobre a estrutura, o cruzamento da José Félix com a São Camilo por exemplo, e eles dizem que estão fazendo estudos com especialistas de São Paulo...
Que nada! Tem especialista aqui mesmo na Granja Viana e eles não consultam de jeito nenhum. Não houve nenhuma consulta a pessoas que entedem de urbanismo sub periférico na cidade da Grande SP. E você veja, qualquer dia a prefeitura de Cotia vai ter um problema muito sério. A Granja vai crescer tanto que vão acabar separando-a de Cotia.
JDA: Como o Sr. escolheu a profissão? Como surgiu o interesse pela geografia?
Eu nasci em São Luis do Paraitinga. Meu pai era libanês e minha mãe brasileira, simples de primeiras letras. Meu pai resolveu mudar para Caçapava porque em São Luis não tinha muita possibilidade de educar os filhos. E nesse período surgiu a USP tal como ela é hoje. E para Caçapava, no período em que eu fazia o colégio, foram alguns professores formados na USP e me influenciaram profundamente. Um deles me influenciou muito no estudo de história e geografia. Quando me formei no colégio, vim fazer o vestibular para a faculdade de Filosofia e então eu comecei a carreira de história e geografia. Eu sempre gostei de paisagem, desde menino. Às vezes as pessoas viajavam dentro de um ônibus conversando, falando de suas coisas e eu atento para a paisagem.
JDA: Quando o Sr. entrou na universidade? Como era a USP nessa época?
Entrei na USP em 1940. Naquele tempo existiam professores muito bem preparados, vindos de diversas regiões. O alunado era pequenino mas extremamente dedicado ao estudo. E a gente fazia uma intermediação da universidade à biblioteca. Eu me lembro do meu colega de turma Florestan Fernandes. Nós ficávamos estudando durante toda a semana na universidade e nos finais de semana íamos para a Biblioteca Mario de Andrade. Foi um período em que se estudava demais.
JDA: O Sr. fala com indignação dos acontecimentos, da corrupção política...
A corrupção em Brasília é algo que nos deixa desesperados ao ponto da gente não gostar daqueles que são necessários para governar o país, que são os políticos. A corrupção é tolerada como sendo necessária, politicamente falando, e isso me causa muita indignação.
JDA: E essa indignação das pessoas também se dá na questão ambientalista, tudo o que vem acontecendo e também a falta de comprometimento do Poder Público em relação a essas questões ambientais... O que se pode fazer?
A coisa mais complicada é que os ideais culturais desapareceram em função do eleitoralismo e da necessidade de chegar até os altos cargos de governo. Eu pessoalmente, que me dedico muito ao ambiente natural, cultural e social, fico numa situação dolorosa. Por exemplo, quando fui conselheiro e presidente da Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) fiz tudo para proteger as pequenas serras dos entornos de SP e então surgem pessoas que não tem preparo. Foram fazer a revisão do Código Florestal e eu critiquei profundamente. O mais dramático do governo Lula e do governo atual é que ninguém quer aprender. É preciso defender, mais do que as florestas apenas, embora sejam elas as coisas mais importantes de um país tropical, mas tem que levar em conta o Nordeste seco, os domínios do Serrado, o Planalto das Araucárias, etc. Enviei uma carta para Brasília e a pessoa que recebeu, um deputado, leu e respondeu que as ideias eram boas mas muito radicais. Depois da revisão do Código Florestal pelo Aldo Rebelo, eu voltei a tratar do assunto e um dos trabalhos fundamentais que escrevi, mas ainda não publiquei, chama-se “Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade”. E eu tenho moral para falar disso pois trabalhei em todas as áreas! Sou daqueles que pensam que as universidades deveriam aprimorar os estudos sobre as ações humanas, sobre as heranças da natureza e a rápida devastação. Fonte: IGDNews
Nosso primeiro entrevistado do ano é um dos brasileiros mais ilustres: Aziz Ab’Sáber.
Nascido em 1924, professor, geógrafo e grande ambientalista, fez pesquisas e trabalho de campo em praticamente todo o território brasileiro, observando de perto a destruição das últimas décadas das matas e ecossis-temas. Sua luta em defesa da natureza teve início em São Paulo, com a mobilização em prol da Mata Atlântica e se estendeu por todo o país.
Conversar com Aziz Ab’Sáber é uma oportunidade.
É poder viajar no tempo-espaço. Com sua impressionante memória, as respostas são dadas através de histórias detalhadas, com citações precisas das pessoas, datas e, evidentemente, suas localizações.
Mais que o maior geógrafo brasileiro, Aziz Ab’Sáber é um homem extremamente culto, humanista inquieto, observador inteligente e com simplicidade nos mostra que o poder do saber é um processo múltiplo, que se faz no diálogo entre vários campos do conhecimento.
Ano passado ganhou o Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano.
Com muita simpatia, e a delicadeza de um grande homem, nos recebeu em sua residência aqui na Granja para um bate-papo.
JDA: O Sr. mora na Granja Viana há muitos anos?
Moro na Granja Viana desde 1972. Sempre morei aqui. Minha residência era uma chacrinha... Hoje com o enorme imobiliarismo que está existindo aqui, a coisa está ficando tétrica. Isso é a primeira coisa que queria falar. O imobiliarismo exagerado que está existindo e que representa muito mais o neocapitalismo do que a cultura. Problemas de cultura não estão em jogo, o que está em jogo é que cada prefeitura pretende ganhar mais impostos com mais casas e sobretudo as maiores. E isso em Cotia está chegando ao exagero total. Quanto mais prédios altos, mais escritórios, mais imobiliarismo, mais importância econômica para Cotia, por causa dos impostos. Isso é terrível! Eu acho que não podia ser assim. Os arquitetos e urbanistas fazem os projetos mas não levam em conta o que vai acontecer com as ruas e com o trânsito. Aqui ficou o caos. Um pólo de desenvolvimento arquitetônico e economista mas não se preocuparam de maneira nenhuma com os acessos das pessoas que sempre estiveram aqui.
JDA: E não é por falta de cobrança. O trânsito: há pelo menos três anos fazemos matérias questionando o Poder Público sobre a estrutura, o cruzamento da José Félix com a São Camilo por exemplo, e eles dizem que estão fazendo estudos com especialistas de São Paulo...
Que nada! Tem especialista aqui mesmo na Granja Viana e eles não consultam de jeito nenhum. Não houve nenhuma consulta a pessoas que entedem de urbanismo sub periférico na cidade da Grande SP. E você veja, qualquer dia a prefeitura de Cotia vai ter um problema muito sério. A Granja vai crescer tanto que vão acabar separando-a de Cotia.
JDA: Como o Sr. escolheu a profissão? Como surgiu o interesse pela geografia?
Eu nasci em São Luis do Paraitinga. Meu pai era libanês e minha mãe brasileira, simples de primeiras letras. Meu pai resolveu mudar para Caçapava porque em São Luis não tinha muita possibilidade de educar os filhos. E nesse período surgiu a USP tal como ela é hoje. E para Caçapava, no período em que eu fazia o colégio, foram alguns professores formados na USP e me influenciaram profundamente. Um deles me influenciou muito no estudo de história e geografia. Quando me formei no colégio, vim fazer o vestibular para a faculdade de Filosofia e então eu comecei a carreira de história e geografia. Eu sempre gostei de paisagem, desde menino. Às vezes as pessoas viajavam dentro de um ônibus conversando, falando de suas coisas e eu atento para a paisagem.
JDA: Quando o Sr. entrou na universidade? Como era a USP nessa época?
Entrei na USP em 1940. Naquele tempo existiam professores muito bem preparados, vindos de diversas regiões. O alunado era pequenino mas extremamente dedicado ao estudo. E a gente fazia uma intermediação da universidade à biblioteca. Eu me lembro do meu colega de turma Florestan Fernandes. Nós ficávamos estudando durante toda a semana na universidade e nos finais de semana íamos para a Biblioteca Mario de Andrade. Foi um período em que se estudava demais.
JDA: O Sr. fala com indignação dos acontecimentos, da corrupção política...
A corrupção em Brasília é algo que nos deixa desesperados ao ponto da gente não gostar daqueles que são necessários para governar o país, que são os políticos. A corrupção é tolerada como sendo necessária, politicamente falando, e isso me causa muita indignação.
JDA: E essa indignação das pessoas também se dá na questão ambientalista, tudo o que vem acontecendo e também a falta de comprometimento do Poder Público em relação a essas questões ambientais... O que se pode fazer?
A coisa mais complicada é que os ideais culturais desapareceram em função do eleitoralismo e da necessidade de chegar até os altos cargos de governo. Eu pessoalmente, que me dedico muito ao ambiente natural, cultural e social, fico numa situação dolorosa. Por exemplo, quando fui conselheiro e presidente da Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) fiz tudo para proteger as pequenas serras dos entornos de SP e então surgem pessoas que não tem preparo. Foram fazer a revisão do Código Florestal e eu critiquei profundamente. O mais dramático do governo Lula e do governo atual é que ninguém quer aprender. É preciso defender, mais do que as florestas apenas, embora sejam elas as coisas mais importantes de um país tropical, mas tem que levar em conta o Nordeste seco, os domínios do Serrado, o Planalto das Araucárias, etc. Enviei uma carta para Brasília e a pessoa que recebeu, um deputado, leu e respondeu que as ideias eram boas mas muito radicais. Depois da revisão do Código Florestal pelo Aldo Rebelo, eu voltei a tratar do assunto e um dos trabalhos fundamentais que escrevi, mas ainda não publiquei, chama-se “Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade”. E eu tenho moral para falar disso pois trabalhei em todas as áreas! Sou daqueles que pensam que as universidades deveriam aprimorar os estudos sobre as ações humanas, sobre as heranças da natureza e a rápida devastação. Fonte: IGDNews
Chuva desceu os morros e chegou aos terraços de São Luiz do Paraitinga trazendo blocos de terra
LEMBRANDO O ACIDENTE DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA:
AZIZ NACIB AB' SÁBER (USP): " A IGNORÂNCIA ARRASTA A HISTÓRIA PARA O FUNDO DOS RIOS" - Clique
"As escorregadelas políticas também cá estão. Aziz não é de poupar burrices administrativas, especialmente na área ambiental. Critica todas as camadas do governo - do federal, com quem se desentendeu logo no início do mandato do presidente Lula, ao municipal, com seus "prefeitos incautos". Só o enchem de esperança os jovens, mas aqueles que frequentam as boas universidades brasileiras, para quem este eterno mestre da geografia escreve o terceiro volume de suas Leituras Indispensáveis."
BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja bem vindo e deixe aqui seus comentários, idéias, sugestões, propostas e notícias de ações em defesa dos rios, que vc tomou conhecimento.
Seu comentário é muito importante para nosso trabalho!
Querendo uma resposta pessoal, deixe seu e-mail.
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários. Portanto, não serão publicados comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo, o quadro de comentários do blog ainda apresenta a opção comentar anônimo; mas, com a mudança na legislação,
....... NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS....
COMENTÁRIOS ANÔNIMOS, geralmente de incompetentes e covardes, que só querem destruir o trabalho em benefício das comunidades FICAM PROIBIDOS NESTE BLOG.
No "COMENTAR COMO" clique no Nome/URL e coloque seu nome e cidade de origem. Obrigado
AJUDE A SALVAR OS NOSSOS RIOS E MARES!!!
E-mail: sosriosdobrasil@yahoo.com.br