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11 de junho de 2012

ESGOTO A CÉU ABERTO PREOCUPA QUASE 6 MIL EM RIO PRETO - SP



Filete de esgoto escorre a céu aberto no Santa Clara, a exemplo do que ocorre em Talhado e outros pontos da periferia de Rio Preto

5,8 mil vivem com esgoto a céu aberto em RP

Allan de Abreu

Cidade próspera, Rio Preto amarga problemas típicos de países africanos quando o assunto é saneamento básico. São 5,8 mil rio-pretenses convivendo diariamente com o esgoto a céu aberto, em 1.948 imóveis, de acordo com dados inéditos do Censo 2010 divulgados na última semana pelo IBGE.

Segundo o órgão de pesquisa, o problema se concentra principalmente nos loteamentos irregulares, como o Santa Clara, zona norte da cidade. A poucos metros de um Núcleo da Esperança, moderno conjunto de escola, creche e área de lazer inaugurado recentemente pelo prefeito Valdomiro Lopes, uma fossa cheia transborda água suja e malcheirosa pela rua F, de terra.

“A vizinha fez a fossa para jogar água da pia e do chuveiro, mas o buraco é raso e vive enchendo. Durante o dia a gente não consegue sair de casa por causa do fedor”, reclama a dona de casa Oscalina Rita de Almeida Gonçalves, 66 anos.

Todos os dias, quando sai de casa, a também dona de casa Jéssica Lopes, 17 anos, é obrigada a fazer malabarismos para não pisar em nenhum dos veios que o esgoto forma nas ruas do bairro. “Eu evito passar por aqui, mas tem dia que não tem outro jeito”, afirma.

Esgoto a céu aberto é um problema de saneamento grave, segundo Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, ONG que estuda o tema no País. “Em pleno século 21, exibir esgoto nas ruas é algo típico do século 19, um problema que deveria ter sido corrigido há décadas”, diz.

A consequência mais grave do esgoto aparente nas ruas são as doenças decorrentes dos dejetos. De acordo com o infectologista Jean Gorinchteyn, o esgoto atrai insetos e roedores, principalmente ratos. Esses animais são transmissores de bactérias e vírus causadores de enfermidades como diarreia, hepatite A e leptospirose.

Nos últimos cinco anos, Rio Preto registrou 12 casos de leptospirose, com quatro mortes, de acordo com a Secretaria de Saúde do município. Outras nove pessoas morreram em decorrência de diarreias, aponta o Datasus. Além disso, o contato direto do corpo com o esgoto pode provocar lesões na pele, segundo o médico. “São doenças graves, mas de fácil prevenção. Basta o poder público oferecer saneamento básico decente”, diz Gorinchteyn.

Urina

No loteamento San Luiz, distrito de Talhado, chama a atenção um forte cheiro de urina, vindo de uma fossa que vaza constantemente. “O pior é que tem criança que brinca nessa água”, diz a pensionista Maria Aparecida Costantino, 65 anos. A fossa está a apenas cem metros da rede coletora de esgoto, mas, como o bairro é irregular, não há tubulação que possibilite a ligação. “A rua vive emporcalhada, dá até vergonha”, protesta, em frente a uma vala onde escorre a água cinzenta.

Procurada, a assessoria do Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto (Semae) informou que, nos bairros regularizados, a rede de água e esgoto atinge 100% dos domicílios, e que o serviço tem chegado aos poucos aos loteamentos irregulares conforme vão legalização em cartório. Cinco deles já contam com rede de esgoto, entre eles o Jéssica, Azulão e Juliana. Outros nove aguardam licitação para iniciar a construção da rede, e 14 aguardam a finalização do projeto, incluindo o Santa Clara.

Fossa, a vizinha da fonte de água

Esgoto a céu aberto não é a única deficiência de Rio Preto no saneamento básico. O município tem 5.132 moradias que usam fossas rudimentares para estocar dejetos produzidos nos sanitários, de acordo com o IBGE. São pelo menos 15 mil habitantes, o mesmo que um município do porte de Bady Bassitt, sem acesso aos sistemas de água e esgoto. Nas dez localidades mais populosas da região Noroeste, 11.141 casas usam o mesmo sistema.

Na maioria dos casos, segundo especialistas, as famílias instalam no mesmo terreno a fossa e o poço artesiano, a principal fonte de água. O problema é que, se não forem observados cuidados mínimos, há risco de contaminação do lençol freático ou das próprias cisternas, o que gera doenças.

Embora o problema se concentre nos loteamentos ilegais, há bairros legalizados com fossas, como o Parque dos Pássaros, zona sul da cidade.
As dez cidades mais populosas da região Noroeste abrigam juntas 11.141 moradias com fossas rudimentares. Se cada casa abrigar três moradores, são pelo menos 30 mil pessoas sem saneamento básico. Rio Preto, até por ser a mais populosa, é a que abriga mais casos: 5.132. Depois, aparecem Barretos, com 1.069, e José Bonifácio, 1.034.


Edvaldo Santos
Vantuil Ferreira Macedo mostra lixo ao lado da sua residência
Lixo ameaça a saúde de 4 mil rio-pretenses

Não é só o esgoto a céu aberto que atormenta a vida dos moradores da periferia de Rio Preto. A cidade tem 1.366 domicílios com lixo acumulado no entorno, conforme o Censo 2010 do IBGE. São 4 mil rio-pretenses obrigados a conviver com o mau cheiro e o risco de doenças ocasionados pelos dejetos.

Em Talhado, sacolas plásticas, sapatos velhos, brinquedos e restos de comida emporcalham a rua do pedreiro Donizete Perpétuo da Silva, 39 anos. “Há oito meses, retiraram a lixeira e todo o pessoal do bairro passou a despejar o lixo no chão para a coleta”, afirma. O problema é que nem todo o lixo é coletado, e os resíduos se acumulam.

Na estância Santa Clara, bairro irregular da zona norte, o problema se repete. Moradores têm o costume de juntar o lixo em terreno baldio e atear fogo em seguida. Na última sexta-feira, o Diário flagrou o comerciante Fabio Rodrigues dos Santos, 30 anos, depositando um pedaço de plástico no monte de dejetos. “O caminhão de lixo só passa às terças, quintas e sábados, isso quando não chove.

Então, o jeito é fazer assim”, defende.O cálculo do IBGE é feito por quadra, de acordo com o coordenador do Censo 2010 em Rio Preto, Antonio Aderci Moitinho. Como cada quadra em geral tem quatro lados, se em um lado há lixo acumulado, todos os domicílios daquela face entram no cálculo do órgão. Além do lixo, a pesquisa constatou que 3.495 imóveis em Rio Preto não contam com iluminação pública no entorno.

O secretário de Serviços Gerais, José Antonio Vischeto, afirma que, caso a fiscalização da Prefeitura encontre um terreno com lixo, o proprietário é notificado a limpar a área em 15 dias. Caso isso não ocorra, é multado em R$ 335. No entanto, segundo ele, o número de fiscais, 11 no total, é pequeno para fiscalizar a cidade inteira. “Fica difícil vistoriar todas as áreas.”

Água encanada

Dados divulgados pelo IBGE em abril deste ano revelaram que cerca de 2 mil pessoas na região de Rio Preto sobrevivem sem acesso direto a água encanada. São 654 domicílios, distribuídos em 47 dos 102 municípios do Noroeste paulista, privados do item mais básico do saneamento. Em Rio Preto, são 142 casas com essa deficiência. Segundo o Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto (Semae), esses imóveis estão em loteamentos irregulares ou na zona rural.

Dos 47 municípios com ao menos um domicílio sem acesso a água encanada no Noroeste paulista, 18 são administrados pela Sabesp, incluindo Fernandópolis, Jales e Novo Horizonte. Segundo a superintendência regional da empresa, a Sabesp atende todos os imóveis urbanos regularizados, e é provável que esses domicílios estejam na zona rural ou áreas invadidas.


Fonte:  http://www.diarioweb.com.br
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