[19/07/2012 15:57]
Em menos de um mês, a equipe do ISA (Instituto Socioambiental) percorreu aldeias de cinco etnias do Parque do Xingu para avaliar o trabalho realizado em 2011 e traçar estratégias para evitar o crescimento de focos de queimadas na Terra Indígena em 2012. Só no ano passado, a redução foi de 50% em relação a 2010
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Entre os dias 16/6 e 10/7, a equipe do ISA realizou em aldeias xinguanas oficinas de planejamento das atividades de prevenção de queimadas e acordos comunitários. A ideia era avaliar o trabalho realizado no ano anterior, pensar as atividades deste ano e estabelecer pactos, normas e condutas de boa vizinhança para prevenir que o fogo se espalhe nas aldeias do Xingu. As oficinas inauguraram o calendário 2012 de prevenção às queimadas, trabalho feito pelo ISA há cinco anos no Parque do Xingu (MT) e que se estende até o início das chuvas, com acompanhamento dos processos de queimada controlada e de supressão de pequenos incêndios.
Mais de 170 indígenas de cinco etnias diferentes participaram da primeira etapa do trabalho, que percorreu aldeias onde as ações já estão consolidadas, como waura, yudja e kawaiwete e também e nas aldeias Ipatse, do povo Kuikuro, e Boa Esperança, do povo Trumai, que até então não participavam do projeto. Ainda serão visitados, os Ikpeng e os Kisêdjê, que também participam do projeto. “Nas aldeias que trabalhamos há mais tempo eles estão aprimorando práticas como o aceiro, por exemplo. Tem melhorias na organização da comunidade, eles compartilham as experiências com os outros, avaliam mudanças nos horários de queimada de roça. Estão mais conscientes de que precisam agir preventivamente”, destaca Kátia Ono, técnica da equipe do Programa Xingu do ISA, responsável pelo trabalho de prevenção e queima controlada. Já nas novas aldeias, o trabalho começa com a sensibilização da comunidade em relação à importância do uso controlado do fogo. Além disso, é feito um diagnóstico dos usos do fogo por aquele povo. “Do Alto para o Baixo Xingu os usos variam. A renovação do sapê para a construção de casas é um exemplo. Esse é um hábito do Alto Xingu. No início das chuvas, os índios do Alto queimam o sapezal para deixá-lo mais uniforme e livre de pragas como o cupim, para construir suas casas. Isso não acontece com os povos do Baixo, que vivem numa região de floresta. Como eles têm uma vivência mais florestal, têm um hábito de queima de roça mais próximo do período de chuvas, diferente do que ocorre no Alto”, exemplifica Kátia. Fogo, um tema em alta Assunto recorrente nas aldeias, o fogo ganhou ainda mais atenção dos indígenas em 2010, por conta do elevado número de focos de incêndio no PIX: foram 869. Aldeias inteiras queimadas e roças perdidas mobilizaram diversas ações a partir daquele ano. A intensificação dos trabalhos de prevenção e a assimilação dos grupos da importância da conscientização de toda a comunidade fez com que em um ano, o número de focos se reduzisse em 50%. “Os grandes incêndios de 2010 foram causados por questões de fácil controle, como pequenas fogueiras em pescaria, ou fogueira para os índios se aquecerem na roça. Foi quando a gente viu que não bastava só pensar nas queimadas de roça, que outras causas ‘menores’ estavam provocando muitos focos de incêndio no Parque.”
O ISA passou então a fazer também um acompanhamento das causas de incêndio para ajudar no trabalho. Entre as mais frequentes: uso do fogo na caçada, para coleta de mel, na pescaria, para limpeza da aldeia ou mesmo para se aquecer. Com as causas identificadas, definir o foco do trabalho de prevenção ficou mais fácil. “Queimada de roça é importante e a gente sabe que sempre deve ter um olhar para isso, mas vimos que tem outros usos que também merecem atenção. Uma fogueira de beira de rio também pode ser uma potencial causadora de incêndio, mas isso só se combate com campanhas, sensibilização dos grupos”, explica Kátia. Resultado da assimilação do trabalho desenvolvido no manejo do fogo, desde 2011 os povos Kawaiwete e Yudja assumiram a organização das ações de prevenção e combate ao fogo em suas regiões. Viraram verdadeiros multiplicadores das ações propostas pelo ISA, disseminando o tema em várias aldeias de forma autônoma. “A gente faz campanha para mostrar para os parentes que não pode descuidar do fogo”, conta Ware Kawaiwete, jovem liderança de seu grupo que além do trabalho com o fogo, se divide entre a presidência do Centro de Organização Kawaiwete (COK) e a coordenação de Alternativas Econômicas da Associação Terra Indígena Xingu (Atix). Este ano, os Kisedjê se juntam a este grupo e propuseram realizar – assim como os Kawaiwete – campanhas itinerantes por suas aldeias para falar sobre a importância da prevenção de incêndios, fogo descontrolado, aceiro. Monitoramento de focos de calor Quando chega o período da seca, o ISA gera diariamente um boletim chamado De Olho no Xingu, baseado em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora os focos de calor no PIX. O informativo permite avaliar os locais onde estão os maiores pontos de incêndio e trabalhá-los com os índios e com as instituições responsáveis pelas brigadas oficiais. “Com esse material em mãos eles podem averiguar se o foco é real ou não, se precisam de ajuda para apagá-lo e dá agilidade à ação das brigadas externas”, explica Kátia. O boletim, conta a técnica do ISA, foi uma das primeiras ações do trabalho de manejo do fogo e foi aprimorado ao longo dos anos até chegar ao modelo utilizado hoje. No início, era uma ferramenta de uso interno, mas virou um importante instrumento de alerta, sensibilização e conscientização das comunidades, pois permite que visualizem a grandeza da presença dos focos de calor em seu território. “A gente usa bastante para localizar onde estão os incêndios. No ano passado, a Funai passou até a se envolver mais nesse trabalho com o ISA. E o que a gente vê é que esse monitoramento tem facilitado o trabalho, pois traz um levantamento de onde tá tendo mais foco e com isso a gente fazer um trabalho melhor”, afirma Alupá Kaiabi, da coordenação regional da Funai no Xingu, em Canarana (MT). A parceria com o órgão indigenista oficial começou efetivamente este ano com auxílio nas capacitações de instrutores e conscientização sobre queima controlada. Além da Funai, o ISA conta, desde 2009, com apoio da empresa Guarany, fabricante de equipamentos de combate a incêndios, com suporte para uso e fornecimento de equipamentos anti-incêndio. Veja abaixo notícias relacionadas: ISA firma parceria para combater incêndios no Parque Indígena do Xingu Povos indígenas do Xingu se mobilizam no combate aos incêndios florestais http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3623 | ||||
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