A Eletrosul Centrais Elétricas S.A., subsidiária da Eletrobras, vai inaugurar até junho uma usina fotovoltaica em uma área de dez mil metros quadrados no telhado e no estacionamento de sua sede em Florianópolis. Em desenvolvimento desde 2007, o projeto Megawatt Solar está a cargo do consórcio formado pela empresa portuguesa Efacec Engenharia e Sistemas e pela Efacec Brasil. O custo final da obra é de R$ 8,1 milhões e a capacidade de geração, de 1,2 gigawatt-hora (GWh) por ano, equivale ao consumo anual de 570 residências. Este será o primeiro prédio público brasileiro a utilizar o modelo BIPV – sigla em inglês para Sistema Fotovoltaico Integrado à Edificação -, em que a usina solar é conectada à rede elétrica. O projeto servirá de base para estudos que viabilizem a nacionalização e a disseminação da tecnologia. Matéria de Dauro Veras, no Valor Econômico, socializada pelo ClippingMP.
“Vamos colocar a eletricidade na rede de distribuição e vendê-la aos consumidores”, diz o gerente de planejamento do sistema da Eletrosul e coordenador do projeto, Rafael Takasaki. Ele vislumbra que, em dez anos, o Brasil terá um mercado razoavelmente estabelecido de energia fotovoltaica: “Para que ocorra a viabilidade econômica, é preciso haver investimentos de curto prazo e as empresas públicas estão em posição melhor para serem pioneiras na área”. Um dos obstáculos ainda é o custo, mas a tendência é de queda. O preço internacional dos módulos fotovoltaicos caiu 50% em 2011, segundo o estudo Renewables 2012 Global Status Report (GSR), e o investimento mundial em energia solar aumentou 52%, passando a US$ 147 bilhões. Estima-se uma queda média anual de 7% no custo dos equipamentos até 2015 e de cerca e 6% até 2020.
O projeto Megawatt Solar, financiado pelo banco de fomento alemão KfW, conta com o apoio da Agência de Cooperação Internacional do Governo Alemão (GIZ), do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas para a América Latina (Ideal), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Quem comprar essa energia em leilões poderá utilizar o Selo Solar, um instrumento de marketing do compromisso com o desenvolvimento sustentável, criado pelo Instituto Ideal em parceria com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Iniciativas semelhantes à da Eletrosul devem ganhar impulso a partir deste ano, favorecidas pela queda da barreira legal para a geração distribuída. Em 17 de abril de 2012, a Resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou o Sistema de Compensação de Energia, que autoriza o consumidor a instalar pequenos geradores a partir de fontes renováveis e trocar a energia com a distribuidora local, podendo receber créditos nos meses seguintes. A resolução deu prazo até dezembro de 2012 para as distribuidoras se adequarem às novas regras.
“Temos um projeto de vitrine para disseminar o conhecimento sobre geração solar fotovoltaica, chamado América do Sol, com ações em três subprojetos: estádios, aeroportos e telhados solares”, diz o diretor técnico do Instituto Ideal, Ricardo Rüther. Três cidades brasileiras contam com projetos de estádios solares. O primeiro da América Latina é o Pituaçu, de Salvador, inaugurado em abril de 2012. Ele vai gerar 630 megawatts-hora (MWh) anuais e uma economia anual de R$ 120 mil. No Rio de Janeiro, o Maracanã terá módulos para gerar 529 MWh/ano, equivalentes ao consumo de 240 casas. Em Belo Horizonte, o Mineirão terá uma usina fotovoltaica na cobertura, com previsão de início de funcionamento até a Copa do Mundo de 2014. Os aeroportos brasileiros também são locais privilegiados para divulgação da energia fotovoltaica. Um projeto para aplicação da tecnologia no Aeroporto Hercílio Luz, de Florianópolis, está sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e outros também devem adotá-la nos próximos anos.
O Brasil tem uma das maiores incidências de radiação solar do mundo, mas a contribuição da energia do sol na matriz energética nacional é irrisória: não chega a 50 MW em potência instalada, menos de 0,02% do total de 123 mil MW. Na avaliação do especialista em energias renováveis Heitor Scalambrini Costa, professor do departamento de engenharia elétrica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Resolução 482 da Aneel foi um avanço, mas ainda é insuficiente para popularizar a microgeração solar no Brasil. Entre os fatores que atrasam a adoção da tecnologia estão a pouca divulgação, a falta de incentivo para produção em escala e a ausência de uma política consistente de apoio. “A energia solar é menosprezada nas políticas públicas do setor energético. O Plano Decenal de Expansão de Energia, do governo federal, dedica apenas três parágrafos à energia solar de um documento que tem mais de mais de 300 páginas”.
Na Alemanha, referência mundial no uso de energias renováveis, um ambicioso programa de incentivo ao uso da energia solar descentralizada foi lançado em 2000. Atualmente, há 1,3 milhão de instalações fotovoltaicas em operação, 80% delas em telhados de residências, escolas, fábricas e outros prédios públicos e privados. Cinco por cento da energia elétrica consumida pelos alemães são gerados pelo sol, a um custo de 15 a 18 centavos de euro por kWh, contra 25 centavos de euro das outras fontes. Em julho do ano passado, o país atingiu a marca de 25% da energia gerados de fontes renováveis e a meta é chegar a 35% em 2050. As centrais nucleares, que fornecem 28% da energia alemã, serão desativadas até 2022.
Para o diretor do Instituto Ideal, Ricardo Rüther, o uso residencial da energia fotovoltaica é economicamente viável em grande parte do Brasil, mas sua disseminação depende do aumento da competição entre fornecedores, do barateamento dos módulos solares e de linhas de financiamento aos usuários. “Na Alemanha, um sistema fotovoltaico de 1 kilowatt custa 1.500 euros, em torno de R$ 4 mil”, diz. “Como a importação do equipamento é isenta de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), seria possível praticar o preço de R$ 7 mil no Brasil, mas os poucos fornecedores têm cobrado até R$ 10 mil”. Ele diz que o investimento se paga em cinco ou seis anos: numa casa com consumo mensal de R$ 50, um gerador fotovoltaico de 1 KW rende até 50% de economia. “Se um consumidor residencial puder financiar um telhado solar com a economia de energia resultante da diferença na conta, teremos uma fórmula de sucesso para a adoção desta tecnologia.”
EcoDebate, 21/02/2013
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