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30 de maio de 2013

CLUBE DE ENGENHARIA RJ NO JORNAL O GLOBO - FUTURO DA LAGOA




Inaldo Justo vive da pesca tradicional na Lagoa e faz parte da colônia Z-13
Foto: Custódio Coimbra / Custodio Coimbra

Inaldo Justo vive da pesca tradicional na Lagoa e faz parte da colônia Z-13 Custódio Coimbra / Custodio Coimbra

Entre os desejos dos cariocas e a realidade possível, o futuro da Lagoa

  • Especialistas enumeram diversos projetos que realmente poderiam fazer a Lagoa ficar balneável
  • Prefeitura quer licitar ainda em 2013 obra que promete acabar com a mortandade 

Seja por lazer, esporte ou apenas de passagem a caminho do trabalho, a Lagoa Rodrigo de Freitas é parte da vida de milhares de cariocas. Antes mesmo do sol nascer, corredores e remadores suam a camisa. Também frequentam o espaço ao redor dos 2,2 km2 de espelho d’água praticantes dos mais diversos esportes — do tênis ao beisebol, passando pelo onipresente futebol —, crianças nos parquinhos e até engravatados, que usam a ciclovia para chegar ao trabalho ou voltar para casa. Todos reconhecem a beleza da paisagem e sonham com ela livre de poluição.
A possibilidade de nadar em águas limpas, cristalinas para os mais otimistas, ainda é um livre exercício de imaginação. Entretanto, especialistas enumeram diversos projetos que realmente poderiam fazer a Lagoa ficar balneável, sem, contudo, chegar a um consenso acerca do qual seria o melhor. Espera-se que as águas fiquem limpas, porém, pode ser que nunca cheguem a ser cristalinas, devido à natureza da própria Lagoa.
Em meio a debates, o desafio ambiental persiste. Há dois meses, 72 toneladas de peixes mortos foram retiradas de lá. Desde o século XIX se fala em salvar a Lagoa. Há duas semanas, uma mesa-redonda promovida pelo Clube de Engenharia discutiu novos e velhos projetos. O assunto voltou à pauta depois que a prefeitura apresentou ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) um novo projeto de despoluição, em fase de licenciamento.
As propostas de melhorias também chegam às rodas de bate-papo dos frequentadores. O relações-públicas Julien dos Reis Nunes, por exemplo, conhece cada trecho da ciclovia da Lagoa em detalhes. Além de correr antes ou depois do trabalho, passa por ali ao ir de bicicleta elétrica visitar seus clientes. Em dois meses e meio, rodou 1.755 km (pouco mais de 20 km por dia). Ele não usa outro meio de transporte, exceto nos dias de chuva, quando pega táxi: 
— Imagino a Lagoa com crianças nadando nas águas finalmente limpas. Por isso, espero que as medidas ecológicas sejam tomadas, como o fim do despejo de esgoto. O transporte pela água, unindo os pontos extremos do espelho d’água, facilitaria o deslocamento.
A fórmula para acabar de vez com a mortandade de peixes, ressalta o professor de ecologia da UFRJ Francisco Esteves, é conhecida: é preciso eliminar o lançamento de poluentes e aumentar a troca de água com o mar. Assim, a Lagoa poderá ficar balneável, mas não deve se tornar transparente. Outros fatores além da poluição interferem na cor.
— O Rio Amazonas tem água naturalmente turva, com ótima qualidade ambiental. Porém, raramente as lagoas costeiras possuem água cristalina. Isso acontece, em geral, devido aos sedimentos que se depositam no fundo — explica Esteves.
Considerando que o futuro reservará águas limpas, ainda que turvas, a possível chegada de banhistas divide opiniões. Enquanto alguns veem uma praia no cartão-postal, outros temem a perda de um ambiente mais tranquilo. Entre estes últimos está a servidora pública Marge Pinheiro, que não quer um novo balneário. Na semana passada, ela aproveitou a calma do deque, na altura do Parque da Catacumba, para ler um livro:
— A Lagoa é um lugar de interação com a natureza. Não gostaria que ela virasse um balneário. O cenário deveria se manter como está, só que com mais qualidade ambiental e segurança.
Vocação esportiva
Posição semelhante tem o fotógrafo Miguel Sá. Ele praticava stand up paddle na última terça-feira, próximo ao Parque dos Patins, e fez uma comparação entre um dia de sol na Lagoa e nas praias da cidade. A sujeira deixada na areia da orla, adverte, poderia afetar ambientalmente o ecossistema mais sensível do corpo lagunar. Durante a entrevista, acabou caindo de sua prancha na água. Em vez de demostrar desconforto com a poluição, disse estar mais à vontade lá do que nas praias de São Conrado e do Leblon.
— A qualidade da água melhorou muito — ressalta o fotógrafo. — Vejo a Lagoa como um centro náutico. Quando o mar está sem onda, venho para cá.
A Lagoa é mesmo uma área própria para esportes. Arquiteto, urbanista e especialista em Lagoa, Augusto Ivan de Freitas Pinheiro lembra que a região conseguiu se consolidar como uma área de lazer do carioca.
Talvez em resposta à recorrência de projetos tanto de aterramento parcial quanto total do espelho d’água, o bairro acabou se tornando um dos mais protegidos por tombamentos e por Áreas de Proteção Ambiental (APAs).
— A Lagoa já chegou a ser acusada de causar epidemias na cidade na época da Colônia. Sempre existiram histórias de aterramento, fantasma que perseguiu a Lagoa até os anos 1970, com o tombamento do espelho d’água. Aos poucos, todo o bairro conseguiu ser bem cuidado, e se consolidou como uma área nobre. Por isso, o futuro não pode ser pessimista — prevê Pinheiro.
O estudante Pedro da Costa, de 18 anos, também pode ser chamado de otimista. Ele mora em Botafogo e, nas tardes livres, costuma pedalar na ciclovia. Depois, gosta de descansar contemplando a vista:
— Não sei como era antes de tanta poluição, mas, com a água limpa, todo mundo poderia tomar banho na Lagoa, além de curtir o pôr do sol, e ainda ver o Cristo, as montanhas e a Pedra da Gávea.
A variedade de atrativos chama a atenção. Há clubes, cinemas e quiosques espalhados pela margem, alguns transformados em verdadeiros restaurantes. Barraquinhas de pipoca, churros, milho cozido e cachorro quente são comuns. Isso sem falar em pedalinhos, helicópteros e incontáveis bicicletas. Há, também, um tráfego intenso nesta área da Zona Sul, usada como ligação entre as zonas Norte e Oeste.
Tantas atividades acabam por gerar impactos ambientais, como barulho e lixo. E a infraestrutura para resolver esses problemas costuma ser alvo de reclamações. Este foi um dos pontos que chamou a atenção de Kátia Pereira, que mora em São Paulo.
— O Rio é lindo, mas os espaços poderiam ser mais limpos, oferecendo banheiros e bebedouros — critica.
Ecoturismo
De acordo com o biólogo Mario Moscatelli, que conhece a Lagoa como poucos especialistas, o ecoturismo deveria ser uma das principais atividades realizadas na área. Ele também recomenda um gerenciamento ambiental efetivo, com monitoramento 24 horas e planos de contingência determinados para cada tipo de emergência.
— O espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas é subutilizado. Qualquer cidade que tenha uma proposta ecoturística utilizaria a Lagoa mais intensamente e de forma mais sustentável. Poderia haver, por exemplo, passeios noturnos bem organizados — defende Moscatelli, que reconhece uma melhora na qualidade da água. — A pressão popular e as sucessivas mortandades de peixes acabaram por levar a um aumento dos investimentos públicos na rede coletora local. No início dos anos 2000, a situação era crítica, com 51% dos canos de esgoto tinham mais de 60 anos.
A qualidade ambiental da Lagoa é fundamental para a vida de animais e de plantas. Em 1989, quando o biólogo Mario Moscatelli começou seu projeto de recuperação do mangue nas margens do espelho d’água, a diversidade de fauna e flora era bem menor do que a atual. Apenas duas espécies nativas, a grama-de-mangue (Paspalum vaginatum) e a taboa-do-brejo (Typha domingensis), predominavam. Moscatelli, então, começou a plantar mangue-branco (Laguncularia racemosa), mangue-vermelho (Rhizophora mangle) e mangue-negro (Avicennia schaueriana), além de samambaia-do-brejo (Acrostichum aureum) e algodoeiro-de-praia (Hibiscus pernambucensis).
O retorno das aves
Com a recuperação do mangue, apareceram os caranguejos. Também foi possível observar a volta das aves.
— Até 1989, eu via apenas o biguá (Phalacrocorax brasilianus), a garça-branca-grande (Casmerodius albus) e a garça-branca-pequena (Egretta thula). Nos último 24 anos, reapareceram: maguari (Ardea cocoi), frango-d’água (Gallinula chloropus), marreca-toicinho (Anas bahamensis), savacu (Nycticorax nycticorax) e socozinho (Butorides striatus) — diz Moscatelli.
Dentro d’água, já foram registradas mais de 40 espécies de peixes, de acordo com a prefeitura. A pesca acontece durante o ano inteiro. Entre novembro de 2011 e março de 2012, foram mais de 30 toneladas. Os peixes mais valorizados são tainha e robalo. No entanto, pescadores da colônia Z-13 reclamam de escassez, consequência dos danos ambientais da mortandade de março.
— Cheguei a pescar robalo de 12 kg, e já vi de 17 kg. A Lagoa é um viveiro. Mas, devido à poluição, não há mais do que 14 espécies de peixes — observa Isnaldo Justo, chamado de Delegado pelos amigos, um dos pescadores mais experientes da colônia.
Sua canoa, que já pertenceu ao pai e ao avô, é centenária, e continua sendo usada:
— Nossa pesca é artesanal e tradicional, tem mais de um século aqui na Lagoa. Do futuro, esperamos águas mais limpas, muitos peixes e a permissão para poder executar outras atividades, como os passeios turísticos usando nossos barcos.
O lixo é outro problema de parques públicos como a Lagoa, conforme a Revista Amanhã mostrou há duas semanas. A Comlurb, que desde 1995 faz a limpeza do espelho d’água e do entorno, remove cerca de 30 toneladas de resíduos por mês, que acabam depositados no aterro sanitário de Seropédica. Sendo que, da água, o principal resíduo são as algas mortas, informa a companhia.
Um mar de polêmica no caminho
A prefeitura pretende licitar no segundo semestre a obra que promete acabar com a mortandade de peixes, diminuir os alagamentos e tornar a Lagoa balneável. O projeto, chamado de dutos afogados, unirá o canal do Jardim de Alah ao mar, permitindo a troca subterrânea de água entre oceano e lagoa. Com investimento de R$ 40 milhões, que deverão ser custeados pelos cofres municipais, a instalação de quatro grande tubos submersos precisará de um ano para ser concluída. Neste período, não será necessário interromper o tráfego de veículos porque será utilizada uma máquina escavadora, também chamada de tatuzão.
O projeto está em fase de licenciamento ambiental no Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Ainda será necessário marcar uma audiência pública antes da autorização dos trabalhos. O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, já adiantou, porém, que os órgãos ambientais do estado deverão dar o sinal verde para a prefeitura executar o projeto.
— Sempre é necessário fazer ajustes, mas todos nós somos favoráveis ao projeto — ressalta Minc. — Entretanto, é importante dizer que não existe obra salvadora. O trabalho de saneamento para a retirada do esgoto continua sendo fundamental.
Depois da instalação dos dutos, a força das marés seria a responsável por levar, na cheia, a água do mar para a Lagoa. Na vazante, aconteceria o inverso. De acordo com cálculos do professor da área de engenharia costeira da Coppe/UFRJ, Paulo Rosman, que coordenou a equipe que desenvolveu o conceito dos dutos afogados, metade da água da Lagoa seria renovada em apenas dez dias. Em um mês, o percentual pula para 88% do espelho d’água.
— A renovação da água da Lagoa é fundamental para a sua estabilidade ambiental — resume Rosman.
A ligação hidráulica artificial ficaria no fim do Canal do Jardim de Alah, passaria por baixo da Avenida Vieira Souto e seguiria mar adentro até cerca de 170 metros da linha de costa. Neste local, ficaria a uma profundidade média de 10 metros.
No fundo do mar, no final de cada um dos quatro tubos, serão instaladas caixas de concreto em forma de cachimbo. Assim, a entrada de água no tubo ocorrerá a sete metros de profundidade. O objetivo principal da medida é evitar que a areia da praia entupa os tubos.
O subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Moraes, enumera vantagens da proposta: custo relativamente baixo, em comparação com outros projetos; baixo impacto da obra, que será subterrânea; fim da dragagem constante que é feita no Jardim de Alah; e baixo custo de manutenção, uma vez que a força natural das marés servirá como uma bomba natural para entrada e saída da água.
A proposta, porém, não é consenso entre especialistas. Ela foi duramente criticada durante reunião realizada no Clube de Engenharia há duas semanas. O consultor Flávio Coutinho, por exemplo, diz que banhistas poderão morrer afogados, caso sejam sugados para dentro dos tubos. E falou que a pesca na Lagoa será prejudicada, porque a entrada dos peixes pelo mar teria que ser feita a uma distância muito grande da linha de costa.
— O projeto está cheio de falhas. Sua concepção, a meu ver, é totalmente errada. Sem falar no risco de afogamentos, caso alguém seja sugado pela água passando no tubo — critica Coutinho.
Já o biólogo Mario Moscatelli lembra que, há anos, várias soluções são apresentadas, mas nenhuma foi executada:
— Qualquer proposta que venha a dar maior equilíbrio ambiental à Lagoa é bem-vinda. O GLOBO

PALESTRA DO CLUBE DE ENGENHARIA NO O GLOBO de ontem 28/05/2013 = LAGOA RF =
 
 Especialistas enumeram diversos projetos que realmente poderiam fazer a Lagoa ficar balneável e Prefeitura quer licitar ainda em 2013 obra.
 
Este debate foi  aprovado pelo Conselho Diretor por Proposta do Conselheiro Jorge Paes Rios e agora deve ter os desdobramentos necessarios, pois a Prefeitura nao enviou os Projetos e o "autor" do Projeto declarou na PALESTRA que o projeto dele é apenas conceitual e nao tem certeza que funcionaria se construído .... [VER DVD]
 
sds. FLUvio-lagunares ;
 Prof. Jorge Rios  - Conselheiro e Chefe da DRHS .
 
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

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