As obras da Saipem estão causando impactos ambientais com efeitos a curto, médio e longo prazo. |
Em nome de uma promessa
de desenvolvimento econômico que, até agora, só causou especulação e
supervalorização imobiliária em Santos e região, sítios arqueológicos
que teriam que ser preservados e estudados no canal do estuário santista
podem estar se perdendo rapidamente e até sumir em poucos meses caso o
Governo Brasileiro não interrompa, urgentemente, as atividades da
empresa italiana Saipem, responsável pela primeira base paulista de
apoio logístico à exploração da camada pré-sal na Bacia de Santos.
A denúncia, feita com
exclusividade ao Diário do Litoral, é do arqueólogo-professor-doutor
Manoel Mateus Bueno Gonzalez, diretor do Centro Regional de Pesquisas
Arqueológicas.
Com farta documentação
em mãos, baseada em anos de pesquisa, Manoel Gonzalez garante que a
Saipem estaria operando de forma irregular na Margem Esquerda do Porto
de Santos e ainda cometendo crime ambiental, destruindo parte da fauna e
flora do entorno do empreendimento, pois sequer possui a prospecção
arqueológica subaquática — estudo obrigatório para que a empresa comece
as atividades.
No último dia 11, o
arqueólogo protocolou ofício apontando as irregularidades ao 16º
promotor de Meio Ambiente de Santos, Daury de Paula Júnior. No
documento, Manoel Gonzalez salienta a gravidade da situação, alertando
que a Saipem nunca fez o estudo e que o Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que deveria fiscalizar e exigir o
documento, não toma qualquer atitude, apesar dos técnicos serem
avisados sucessivas vezes.
“Em 2012, fui contratado
pela empresa para dar continuidade aos trabalhos arqueológicos na área.
Ao ver a gravidade da situação, entrei em contato informal com o
arqueólogo do IPHAN alertando da necessidade da prospecção. Depois,
pessoalmente, no próprio IPHAN, ele informou que o local não passava de
um brejo e não seria necessária arqueologia subaquática. Tenho
testemunhas que estavam na sala durante a reunião. Ainda enviei e-mails e
ofícios, mas nenhuma resposta foi encaminhada”, garante Gonzalez.
Gonzalez explica também
que as obras de construção e dragagem do empreendimento foram iniciadas
em junho do ano passado, antes da publicação da portaria de pesquisa no
Diário Oficial da União (DOU) que autoriza o início dos trabalhos, o que
ocorreu somente em 29 de novembro do ano passado. Portanto, a Saipem
teria começado as obras sem o devido consentimento, burlando as leis
ambientais.
“Se ela estava com o
acompanhamento de um arqueólogo, ele cometeu um crime, por estar
trabalhando sem autorização. Se começou as obras sem o profissional,
cometeu crime do mesmo jeito. Tenho fotos aéreas das máquinas operando
no período”, revela.
Fotografia de um modelo de extratificação das camadas de um sambaqui. Acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
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Segundo Manoel Gonzalez,
além dos vários sítios arqueológicos no entorno do empreendimento,
existe um sambaqui (montanhas erguidas em baías, praias ou na foz de
grandes rios por povos que habitaram o litoral do Brasil na
Pré-História) a 900 metros (que foi registrado em 2005 pelo próprio
IPHAN); a Fortaleza da Barra (um patrimônio histórico e arqueológico
tombado) e o próprio Porto de Santos, que possui um amplo potencial
arqueológico debaixo da água.
Gonzalez revela que a
empresa revirou o fundo do canal danificando o mangue, a fauna e todo o
ecossistema. “Os peixes precisam dos sambaquis para sobreviver. E na
região da Saipem existe um sistema integrado de sambaquis.
Além disso, o barulho da
empresa está espantando animais e aves da mata do entorno. No fundo do
mar, devem existir embarcações antigas. O mangue é um berçário e as
espécies estão sendo ameaçadas pela intervenção da empresa”.
Comunidades do entorno
Manoel Gonzalez teme
pelas comunidades de Guarujá (praias de Santa Cruz, Góes e outras) e
moradores da Ponta da Praia, em Santos, onde. segundo ele, a empresa vai
fabricar dutos que vão produzir barulho e metal pesado. “Eles vão ser
diretamente afetados. Quem consumir peixe do local, se banhar, respirar
próximo ao empreendimento vai morrer aos poucos”, alerta.
O arqueólogo só vê uma
maneira de reverter a situação: “parar a obra imediatamente e
providenciar todos os estudos para impactar o menos possível. Além
disso, segundo ele, a empresa terá
que criar bolsões para armazenar e processar os metais pesados, sem que
o produto atinja o mar ou as vias públicas, visto que as únicas
maneiras de levar matéria-prima à empresa são por mar ou por terra”,
disse Gonzalez, que pretende ingressar com uma ação contra a empresa
assim que voltar da França, onde ministra um curso.
Ele revela que irá
recorrer também a outros órgãos ambientais no Brasil e no Mundo. “Além
das esferas estadual e federal, vou buscar apoio nos Estados Unidos
(EUA) e Europa, onde tenho amplo relacionamento, com objetivo de salvar o
meio ambiente e os patrimônios históricos da região que estão no
entorno da empresa”.
Fonte: Diário do Litoral
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