Márcio Fernandes/AE
Comunidade São Lazaro, na cidade de Macapá
Cidade tem piores índices do País; crianças são as principais vítimas
Pablo Pereira - enviado especial de O Estado de S.Paulo
Para o vendedor Sandro Melo, que também mora com os três filhos no alagado, a torcida é para que seja aceito no projeto Minha Casa Minha Vida. "Estou esperando. Aqui, o meu menino mais novo já teve diarreia. O médico disse que é por causa da água", contou o rapaz.
A vizinha dele, Samara dos Santos, de 25 anos, também gostaria de partir. Com dois filhos, mora na área há 4. E eles já foram vítimas das doenças que perseguem as crianças da região. "Esse povo aqui da baixada é um povo esquecido", disse.
A situação dos moradores do alagado de São Lázaro está longe de ser exceção. "É um exemplo de área de ressaca do município que precisa de solução rápida", afirmou na quinta-feira o secretário da Saúde de Macapá, Dorinaldo Malafaia. "A situação de falta de saneamento no município é geral e gravíssima", admitiu.
O impacto sobre a saúde é visível. A situação piora no "inverno amazônico", nos primeiros cinco meses do ano, quando as águas potencializam a proliferação de doenças. De janeiro a maio, 5.483 atendimentos foram registrados no pronto-socorro infantil - diarreia, vômito, infecção intestinal, tudo reunido como gastroenterocolite aguda (ou Geca).
Qualquer mãe do Amapá, porém, imagina que os números estão bem abaixo do real. "Muitas vezes a gente nem leva no hospital", diz Cláudia Silva, de 33 anos, que há 8 vive no São Lázaro. Ela teme que a filha Amanda, de 7, acostumada a correr sobre as passarelas de madeira, volte a cair na água podre sob as casas. Até agora, ela não aparenta ter problemas.
Em áreas vizinhas a São Lázaro, como o bairro Pantanal, a cerca de 2 km, a situação é igual. Nas habitações da beirada do rio, os dejetos humanos correm direto para a margem encoberta pelo matagal. Nos locais mais altos, assim como em bairros de classe média, os restos sanitários vão para as fossas. Os lotes são ladeados, em muitos casos, por poços de água, do tipo "amazonas".
Os "amazonas" são os buracos no chão, alguns cercados de tijolos. Por R$ 500, um pedreiro cava um. Já para construir um poço artesiano, que busca água em lençol freático mais profundo, o preço muda. "É de R$ 2 mil a R$ 3 mil", diz uma moradora do Pantanal.
Sobre o abastecimento de água, feito pela empresa estadual Caesa, a prefeitura de Macapá não tem certeza da extensão da rede. Dados informados pelo Amapá ao governo federal dão conta de cobertura de 41,7% da população urbana do Estado.
Indústria. Um caminhão de esgoto retirado de uma fossa de uma casa de quatro pessoas, com três banheiros, não custa menos de R$ 120. Há uma dezena de empresas especializadas. Os dejetos enchem os caminhões, espécie de aspiradores gigantes, com capacidade para 8 mil litros, e são descarregados na lagoa de decantação de Pedrinhas. Na sexta-feira, o tráfego era constante na descarga. "É época de pagamento de salário", disse um motorista.
A procura pela limpeza de fossas é constante. "Registramos uma média mensal de 160 a 180 carradas (cargas)", explicou a vendedora Elaine Cabral, da Jucar Saneamentos, que atendeu na quinta-feira o professor universitário Ricardo Ângelo Pereira de Lima. "O que mais nos incomoda nem é o pagamento do serviço", afirmou Lima. "O que preocupa é a contaminação do solo, das águas. Macapá tem uma população permanentemente doente."
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,macapa-a-capital-sem-agua-nem-esgoto,1070026,0.htm
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