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25 de janeiro de 2014

FENÔMENO "TERRAS CAÍDAS" NO RIO AMAZONAS OBRIGA A RETIRADA DE RIBEIRINHOS DE SUAS CASAS



Erosão feita pela água do Rio Amazonas está 'comendo' casas na várzea. Cerca de 400 pessoas terão de ser retiradas do local, diz Defesa Civil.



'Terras caídas' assusta 




moradores de 




comunidade em Santarém




Cerca de 43 famílias mudaram do local após terem casas destruídas.
Fenômeno natural provoca queda de terra das margens do rio
.

Karla LimaDo G1 Santarém

Correnteza do rio bate com força nas margens e destroi o solo. (Foto: Karla Lima/G1)Correnteza do rio bate com força nas margens e destroi o solo. (Foto: Karla Lima/G1)
As 35 famílias que restaram na comunidade Fátima de Urucurituba, na margem esquerda do Rio Amazonas, distante 30 minutos de lancha do município de Santarém, oeste do Pará, temem novas perdas ocasionadas pelo fenômeno ‘terras caídas’. Uma equipe do Serviço Geológico Brasil visitou o local em 2012, e classificou a área como sendo de alto risco.
Arte Fátima de Urucurituba (Foto: Andressa Azevedo/G1)
O ‘terras caídas’ acontece quando a correnteza do rio bate com força nas margens e destrói o solo, provocando deslizamentos de terra. O fenômeno é acelerado com a passagem de embarcações de grande porte, que provocam ondas irregulares. De acordo com os moradores, o fenômeno foi mais intenso em 2009, ano em que muitas casas, escolas e igrejas foram destruídas.
Segundo o presidente da associação de moradores de Fátima de Urucurituba, Cristóvão Pinto, no local, viviam 78 famílias, 43 delas decidiram se mudar por conta própria para um lugar seguro, após a ocorrência frequente do fenômeno na região. Segundo ele, a comunidade corre o risco de ser extinta em poucos anos. “A gente calcula que dentro de três, quatro anos pode acabar tudo aqui, assim como pode ser mais rápido que isso, porque quando cai, ela quebra [terra] 500 metros para dentro”, explica.
Após ter casa destruida,  pescador Manoel Haroldo decidiu permanecer na comunidade onde nasceu. (Foto: Karla Lima/G1)Após ter casa destruida, pescador Manoel Haroldo
decidiu permanecer na comunidade onde nasceu.
(Foto: Karla Lima/G1)
O pescador Manoel Haroldo é um dos moradores que decidiu ficar na comunidade. A alternativa encontrada por eles foi construir as casas mais distante das margens do Rio Amazonas. “Minha casa caiu, caiu a do meu irmão. Não tem mais quase nada para cair, porque já caiu muito. Tem parte que não tem mais como fazer casa e continua caindo. Agora na enchente que ela vem com força”, relata.
O morador Valdir Manoel Maia conta que já enfrentou o fenômeno três vezes e relata como é assustador quando ocorre. “Quando cai, ela não espera por ninguém, não quer saber se é de noite, dia, ou madrugada, a porrada é seca. Quando cai faz um barulhão. Tem queda que de largura, são quilômetros. Se deixar, ele leva tudo. Não dá tempo de tirar porque a terra leva muito rápido. Daqui não tem mais para onde correr, só para Santarém”.
Valdir já teve três casas destruídas. (Foto: Karla Lima/G1)Valdir já teve três casas destruídas.
(Foto: Karla Lima/G1)
Mesmo conhecendo bem o fenômeno, ele é um dos que insistem em permanecer no local. Maia nasceu na comunidade e sobrevive de pesca e plantação de verduras. Ele tem esperança, que a comunidade continue existindo por mais alguns anos. “Se pudesse durar menos cinco anos, seria muito bom”.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil do município, Darlisson Maia, a comunidade faz parte da área de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Segundo ele, para evitar que novas pessoas sejam atingidas, a defesa realizou cadastramento das famílias e encaminhou ao Incra. O órgão, por sua vez, deveria ter realizado o remanejamento dos moradores para uma área segura, na comunidade Santa Maria, na região do Eixo Forte, mas de segundo o presidente da associação, nada foi informado. “Deveriam estar prontas em dezembro [2013], mas nada foi feito”, afirma Pinto.
Em nota, o Incra ressaltou que área do Eixo Forte foi destinada às famílias de Fátima de Urucurituba, mas afirmou que posseiros que reivindicam a área dificultam o reassentamento das famílias. O instituto entende que as terras são públicas e devem ser utilizadas para assentados da reforma agrária.
O Incra acrescentou que a demanda foi comunicada à Ouvidoria Agrária Nacional e ao Ministério Público Federal (MPF). O órgão está articulando uma reunião para montar uma mesa de negociação para efetivar o reassentamento os moradores da comunidade. O Instituto informou também que está retomando, em caráter emergencial, as negociações com a Defesa Civil para avaliar um local provisório às famílias de Fátima durante o período de cheia.
Árvores são levadas quando terra cai. (Foto: Karla Lima/G1)Árvores são levadas quando terra cai. (Foto: Karla Lima/G1)GLOBO.COM - Do G1 Santarém

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