27/5/2014
Instituições alertam para a falta de conhecimento sobre a Mata Atlântica
por Redação Fundação Grupo Boticário
Projeto pretende elaborar diagnóstico das pesquisas no bioma para criação de banco de dados, produzir mapa do uso do solo e oferecer cursos de capacitação
Comemora-se hoje (27) o Dia Nacional da Mata Atlântica. Esta data faz com que os olhares se voltem para esse bioma que possui grande diversidade de fauna e flora. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Mata Atlântica abriga 35% das espécies de flora já registradas no país (em torno de 20 mil), bem como mais de duas mil espécies de fauna, entre aves, anfíbios, répteis, mamíferos e peixes. Apesar dessa riqueza, o bioma é o mais ameaçado, desmatado e fragmentado do país, com apenas 7% de sua cobertura original preservada.
Com o objetivo de proteger essa biodiversidade e propor ações efetivas de conservação, foi criado em Curitiba (PR) o Centro Integrado para a Conservação da Mata Atlântica – In Bio Veritas, em 2007. “A ideia surgiu do contato com outros pesquisadores, pois percebemos a lacuna de conhecimento sobre a Mata Atlântica e a necessidade de articular melhor as competências de cada um”, explica o pesquisador Ricardo Britez, responsável pelo projeto. Fazem parte do Centro representantes da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Museu de História Natural Karlsruhe (Alemanha) e da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que também financia o projeto.
Compilação para novas ações
De acordo com Britez, percebeu-se que, para propor pesquisas e ações aplicadas à conservação da Mata Atlântica, era necessário fazer um levantamento completo das informações já disponibilizadas por outros estudos. Para tanto, foram definidas quatro frentes de trabalho que acontecem concomitantemente.
A primeira é a elaboração de um banco de dados das pesquisas realizadas no litoral paranaense, região delimitada inicialmente para a elaboração do projeto, por ser muito importante para a conservação, visto que a região faz parte do maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil. “Está sendo resgatado tudo o que já foi estudado, onde foi pesquisado e se os materiais foram aplicados ou não”, comenta Britez. A ideia é, uma vez pronto, disponibilizar o banco de dados online. Até o momento já foram catalogados cerca de 1.100 projetos.
A segunda estratégia é a avaliação e compilação das pesquisas realizadas exclusivamente em Unidades de Conservação (UCs) no litoral do Paraná. Nesse momento, estão sendo analisadas quais delas têm mais estudos, quais os temas mais abordados e quais necessitam de algum enfoque específico. “O objetivo desse diagnóstico de pesquisas é oferecer informações aos gestores das UCs para auxiliá-los na criação ou implementação dos planos de manejo”, ressalta o responsável técnico pelo projeto. O litoral do Paraná possui 19 unidades de conservação, sendo 13 delas na categoria de proteção integral, cujo objetivo principal é a conservação da biodiversidade.
O terceiro ponto é a definição de um protocolo de monitoramento da biodiversidade da Mata Atlântica, que é um manual de como se proceder para monitorar a fauna e flora, estruturando o que se deve medir, de que forma, o que avaliar e como informar os resultados. Ele tem sido feito por meio da análise de pesquisas, verificando o que já se tem de informação sobre o assunto. “Ainda não existe um formato estruturado de monitoramento, por isso estamos trabalhando para gerar esse protocolo que vai auxiliar bastante na conservação da biodiversidade do bioma”, comenta Britez. Também será produzido um mapa da vegetação e uso do solo no litoral paranaense, comparando imagens de 2000/2001 com as dos anos 2010/2011. Assim, será verificado o status atual da conservação da região, oferecendo um panorama de quais regiões são prioritárias para receberem pesquisas e ações de preservação.
A última etapa da pesquisa é definir conteúdos programáticos para a realização de cursos de capacitação com base nas informações obtidas nas outras três linhas de ação do projeto. “Com 10 pesquisadores, temos grande expertise dentro do Centro para oferecer esse material com qualidade. Esperamos que gere mais conhecimento, conscientização e ações efetivas de conservação da biodiversidade desse bioma tão rico, complementando os esforços públicos”, conclui o pesquisador. O projeto, que será concluído em setembro deste ano, tem como instituição responsável a SPVS (PR).
Segundo a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, o trabalho do In Bio Veritas é de grande relevância, pois transforma a informação científica em ação de conservação. “Os pesquisadores embasam com dados técnicos as lacunas de conhecimento, produzindo levantamentos inéditos, além de orientar como essas informações devem ser aplicadas na prática”, ressalta. Ela explica ainda que essa é uma forma de aproximar o conhecimento das pessoas. “A forma científica de se expressar muitas vezes não é de fácil entendimento para a população. A divulgação desses dados facilitará essa comunicação, mostrando para a sociedade o que já foi feito e o que precisa ser mais estudado”, conclui.
Importância da Mata Atlântica
A Mata Atlântica possui ampla distribuição, pois abrange boa parte do litoral brasileiro, estendendo-se desde o Rio Grande do Sul até o Piauí, além dos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Por conta dessa distribuição, vivem em seu domínio cerca de 120 milhões de brasileiros, que geram aproximadamente 70% do PIB do país. Além disso, a região presta importantes serviços ambientais como a produção de água em quantidade e qualidade, a manutenção da fertilidade do solo, a regulação do clima, além de proteção de encostas, evitando a erosão.
Apesar dessas características importantes para a manutenção da vida no planeta, o bioma sofre diversas ameaças, a exemplo da pressão de setores como imobiliário e agroindústria. A pesca predatória que gera desequilíbrio na biodiversidade marinha também é uma realidade, além do desmatamento que aumenta a fragmentação da Mata Atlântica. Esse desmatamento reduz cada vez mais o espaço de ocorrência de espécies como mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), jacutinga (Aburria jacutinga), onça-pintada (Panthera onca), papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis).
(Fundação Grupo Boticário)
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