Técnicos da Autoridade Nacional da Água inspecionam um trecho contaminado no departamento de Huancavelica, no centro-sul do Peru. Foto: Milagros Salazar/IPS
2614 – Água e Mudanças Climáticas
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“......Não se tem informação confiável da quantidade de água de 119 das 159 bacias onde nascem os rios que abastecem a população e as diversas atividades produtivas no país, como mineração e hidrocarbonos, nos Andes e na Amazônia. As 119 bacias, com informação pouco confiável, representam 75% do número total de bacias e mais de 95% do volume de água disponível para os peruanos. E isto ocorre principalmente nas zonas onde se concentram os conflitos sociais sobre a água....”
“Por falta de informação eficaz as decisões do Estado sobre as atividades produtivas no interior do país podem afetar as comunidades que dependem da água, sobretudo nas partes altas das bacias”, disse à IPS o engenheiro ambiental Pavel Aquino.......Aquino explicou que devido a esses problemas as populações rurais podem migrar para zonas urbanas, e isto, por sua vez, pode gerar maior demanda de água nas cidades da costa, onde os recursos hídricos são mais escassos.”
Profa. Amyra El Khalili - Alinaça RECOs
A rota sinuosa da água no Peru
Lima, Peru, 12/6/2014 – O Peru tem urgência de contar com um Plano Nacional de Recursos Hídricos para gerenciar o uso da água nas próximas duas décadas, a fim de enfrentar os efeitos da mudança climática e os conflitos socioambientais gerados em razão da água. Mas a aprovação do projeto existente atrasa, entre mudanças políticas e falta de informação.
Cercado de papéis e gráficos, o engenheiro Humberto Cruz, da Autoridade Nacional da Água (ANA), afirmou à IPS que o Peru necessita contar o mais rápido possível com um plano que ajude a melhorar a distribuição desigual da água e seu uso ineficiente no país. Há mais de um ano, Cruz e outros técnicos da ANA trabalharam na elaboração deste plano, que o presidente Ollanta Humala anunciou que apresentaria em março. Mas a aprovação definitiva do projeto não aconteceu, embora o mandatário tenha ressaltado a importância de reconhecer o acesso à água como um direito fundamental.
A situação da água não é animadora, apesar de alguns esforços que são realizados, afirmaram à IPS os técnicos da ANA, órgão que rege o sistema nacional de gestão dos recursos hídricos. “Há informação muito genérica sobre as bacias hidrográficas da serra e da Amazônia. O que encontramos são dados interpolados com uma margem de erro muito alta”, assegurou Cruz.
O engenheiro disse que essa margem de erro pode ser de 20% para cima ou para baixo, o que faz com que se tenha uma imagem distorcida da situação da água e não sejam tomadas medidas adequadas sobre o acesso aos recursos hídricos. Não se tem informação confiável da quantidade de água de 119 das 159 bacias onde nascem os rios que abastecem a população e as diversas atividades produtivas no país, como mineração e hidrocarbonos, nos Andes e na Amazônia.
As 119 bacias, com informação pouco confiável, representam 75% do número total de bacias e mais de 95% do volume de água disponível para os peruanos. E isto ocorre principalmente nas zonas onde se concentram os conflitos sociais sobre a água.
“Por falta de informação eficaz as decisões do Estado sobre as atividades produtivas no interior do país podem afetar as comunidades que dependem da água, sobretudo nas partes altas das bacias”, disse à IPS o engenheiro ambiental Pavel Aquino, que trabalhou vendo esses casos na ANA e no Ministério de Minas e Energia. Aquino explicou que devido a esses problemas as populações rurais podem migrar para zonas urbanas, e isto, por sua vez, pode gerar maior demanda de água nas cidades da costa, onde os recursos hídricos são mais escassos.
“Existe uma desigualdade na distribuição territorial da água no país. O resultado é que 70% da população que vive na vertente do Pacífico recebe 1,8% da água, por ação da natureza”, afirma em um texto o acadêmico Ismael Muñoz, economista da Pontifícia Universidade Católica. Muñoz acrescenta que, “por ser o uso da água principalmente agrícola, até em 80% com relação aos outros usos, o Estado prioriza o investimento hidráulico a favor da costa, aumentando a desigualdade regional entre serra e selva”.
O problema adicional, segundo Aquino, é que uma “alta porcentagem de erro na oferta hídrica (quantidade de água) da bacia” leva a que se registre uma quantidade maior do que verdadeiramente há, faz com que se esteja atendendo a demanda da população e se invista menos dinheiro nos projetos de infraestrutura para abastecer de água reservatórios, represas, projetos de irrigação. No entanto, se registrarmos menos água do que existe, talvez se possa estar investindo mais dinheiro do que o necessário nos projetos de infraestrutura hidráulica, disse o engenheiro.
Conta-se apenas com dados históricos e confiáveis dos principais rios da costa. No caso dos rios da Amazônia e dos Andes o registro de informação não é constante nos últimos dez anos, nem existe uma ampla cobertura, segundo os técnicos da ANA. Há um déficit de estações hidrológicas para monitorar os rios. No Peru há 1.832 estações meteorológicas e hidrológicas, das quais apenas 864 estavam operacionais até março, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia (Senamhi). Desse universo de equipamentos, apenas 142 medem o caudal de água.
O Senamhi cuida de registrar a informação hidrológica e entregá-la às instituições envolvidas, como a ANA, mas deficiências orçamentárias a impedem de instalar as estações necessárias. Por isso, a ANA e o Ministério do Ambiente estão impulsionando a instalação de novas estações em bacias-piloto.
Segundo técnicos do Senamhi ouvidos pela IPS, há bacias que não têm uma única estação, o que obriga a se interpolar os dados considerando a informação das bacias mais próximas. Para os especialistas da ANA é necessária uma data histórica de pelo menos dez anos para que os resultados do monitoramento sejam confiáveis.
A versão preliminar do Plano Nacional de Recursos Hídricos inclui um diagnóstico da qualidade e quantidade de água que há nas bacias a partir desta informação insuficiente. No Escritório de Comunicações da ANA informaram à IPS que o projeto está em uma nova avaliação devido à mudança de direção, em abril. O novo chefe, Juan Carlos Sevilla, não se pronunciou publicamente sobre o plano que já estava pronto ao chegar.
Josefa Rojas, coordenadora de projetos de adaptação à mudança climática do Ministério do Ambiente, disse à IPS que a avaliação preliminar feita já é um avanço e que ‘não podemos esperar ter toda a informação. É hora de juntar dados verificados para prever o que acontecerá com a água que precisamos para viver”. O Ministério prioriza a coleta de informação detalhada de 30 bacias de alta montanha, devido à redução acelerada das geleiras que são fontes de água dos rios.
Apesar de o plano estar em espera, a ANA conseguiu que o Ministério de Economia e Finanças lhe transferisse cerca de US$ 4 milhões, de US$ 12,5 milhões solicitados para fazer balanços hídricos que permitam saber a quantidade de água de 12 bacias com alta incidência de conflitos. A ANA também impulsiona a criação de conselhos de recursos hídricos para elaborar novos estudos hidrológicos e melhorar a gestão das bacias em coordenação com as autoridades regionais e locais, os moradores e as empresas. O desafio é grande. Envolverde/IPS
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