Cartão-postal, Rio Piracicaba agoniza com seca; confira extremos em fotos
Manancial registrou, no último dia 11, a menor vazão em três décadas.
O oposto ocorreu em 2011, quando curso d'água chegou a 7,5 metros.
Desde o início deste ano o Rio Piracicaba, principal cartão-postal de Piracicaba (SP), bateu vários recordes negativos de vazão e profundidade em decorrência da falta de chuvas. No último dia 11 de agosto, o manancial registrou situação extrema de seca e atingiu a menor vazão em 30 anos, com 10,93 mil litros de água por segundo e apenas 79 centímetros de profundidade.
O oposto, quando o rio teve a maior vazão nos últimos 30 anos, ocorreu em janeiro de 2011, quando o manancial registrou 1,2 milhão de litros de água por segundo e nível de 7,5 metros e transbordou. Os números são do sistema de telemetria do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee); veja a comparação entre fotos dos dois períodos no "antes e depois" acima.
Em ambas as situações, o rio chamou a atenção de moradores de Piracicaba e turistas. Neste ano, em razão da estiagem, foram observadas duas mortandades de peixes, em fevereiro e em agosto. O rio virou um caminho de pedras em alguns pontos e bancos de areia apareceram no leito, atraindo curiosos,grupos que retiraram lixo das águas e até moradores que resolveram fazer um churrasco "no meio" do curso d'água.
Em 2011, na situação oposta, o rio transbordou e os alagamentos causaram prejuízos para comunidades ribeirinhas, que perderam móveis e tiveram partes das casas danificadas. Os restaurantes da famosa Rua do Porto também foram afetados, com equipamentos e mercadorias estragados pela força das águas.
A rotina de "amor e ódio" com o maior patrimônio natural de Piracicaba é relatada por moradores ribeirinhos. A reportagem do G1entrevistou três deles.
Nascido e criado às margens do Rio Piracicaba, Orlando Louvandini, de 78 anos, guarda na memória os tempos áureos do manancial, quando era possível nadar e o número de espécies de peixes era abundante. "Aprendi a nadar aqui. E a água era limpa. Quando era jovem, ao invés de dar a volta para atravessar para o outro lado da margem, a gente ia nadando", disse.
"É muito triste ver o Rio Piracicaba do jeito que está. Eu sempre fui muito feliz aqui no rio. O manancial permanece, mas o que temos atualmente é consequência do próprio homem. No Brasil falta educação e conscientização para a preservação do meio ambiente. Em países europeus, a água utilizada dos mananciais é devolvida ainda mais limpa de quando foi retirada. Aqui acontece o contrário.”
Louvandini lamentou as mortes de peixes registradas com mais frequência ultimamente. "Fico infeliz ao ver peixes morrendo por falta de oxigenação na água. Ainda mais para mim, que bebi muito desta água. Estamos acostumados com a seca e as cheias do rio, mas a situação que está agora é muito grave e preocupante."
'Enterro' e 'castigo'
Para o pescador Antonio Roberto Ferreira, de 60 anos, a situação atual do Rio Piracicaba se assemelha com a vivida na década de 70. "Eu me lembro muito bem. Em 1973 meu filho tinha cinco anos e eu o ensinava a pescar. Nesta época do ano o manancial estava da mesma maneira que está hoje, seco. Eu cresci aqui na Rua do Porto e aprendi que essas são fases do rio", disse.
Para o pescador Antonio Roberto Ferreira, de 60 anos, a situação atual do Rio Piracicaba se assemelha com a vivida na década de 70. "Eu me lembro muito bem. Em 1973 meu filho tinha cinco anos e eu o ensinava a pescar. Nesta época do ano o manancial estava da mesma maneira que está hoje, seco. Eu cresci aqui na Rua do Porto e aprendi que essas são fases do rio", disse.
Ferreira contou que em 1973 os moradores de Piracicaba organizaram um "enterro simbólico" do rio, mas o "castigo", segundo ele, veio na década seguinte. "Em 1983 teve uma grande enchente, que pegou todo mundo de surpresa. Muitas pessoas perderam tudo. Quem mora às margens de um rio sabe que estão sujeitos a estas situações."
Pescador profissional, Ferreira fez questão de mostrar à reportagem do G1 o pacu de 4,3 quilos pescado no manancial na semana passada. "Aqui no Rio Piracicaba ainda existem peixes grandes sim. E não têm gosto de barro. A gente pesca mais para baixo, onde a água é mais limpa e o volume é maior do que a gente vê aqui na região da Rua do Porto", afirmou.
Patrimônio do rio
Nascido em Ribeirão Preto (SP), o pescador Sinésio Cursio, de 77 anos, mudou-se paraPiracicaba, mais especificamente para a Rua do Porto, quando tinha seis anos. Segundo ele, foi graças ao manancial que conseguiu criar os três filhos e também construir a casa da família na beira do rio.
Nascido em Ribeirão Preto (SP), o pescador Sinésio Cursio, de 77 anos, mudou-se paraPiracicaba, mais especificamente para a Rua do Porto, quando tinha seis anos. Segundo ele, foi graças ao manancial que conseguiu criar os três filhos e também construir a casa da família na beira do rio.
"Minha vida toda foi dedicada a este rio. Pesquei a vida inteira no Piracicaba e com o dinheiro como pescador ergui o meu patrimônio. Atualmente vou para o leito por diversão, mas já trabalhei muito. Hoje o rio está muito poluído. E o pior é que não podemos fazer nada. Houve um período em que tivemos uma seca como esta, mas a água era límpida", disse. Segundo ele, quem mora às margens do leito precisa estar preparado tanto para água em abundância quanto para a seca. "Na última enchente em 2011, por exemplo, ficamos ilhados na parte superior da casa. Quem opta por morar na margem do manancial sabe os riscos que corre."
Sistema Cantareira
As nascentes do Rio Piracicaba fornecem água para a formação do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento da Grande São Paulo. A autorização para a retirada de recursos hídricos das bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) se encerraria neste mês, mas foi prorrogada em razão da estiagem. Na avaliação do Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público (MP), a decisão foi correta, já que não havia alternativas diante da crise hídrica.
As nascentes do Rio Piracicaba fornecem água para a formação do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento da Grande São Paulo. A autorização para a retirada de recursos hídricos das bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) se encerraria neste mês, mas foi prorrogada em razão da estiagem. Na avaliação do Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público (MP), a decisão foi correta, já que não havia alternativas diante da crise hídrica.
O Sistema Cantareira tem autorização para captar até 31 metros cúbicos por segundo dos rios que formam as bacias PCJ (cada metro cúbico equivale a 1.000 litros de água). A maior parte do volume vai para a Grande São Paulo e, desde o início da estiagem, apenas 3 metros cúbicos por segundo são liberados para os rios no interior. A ampliação desse volume, conforme o promotor Ivan Carneiro, do Gaema, garantiria a "saúde" dos rios da região.
Aumento da poluição
Com menos água para diluir o esgoto, a poluição aumenta. Nesta segunda-feira (18), o índice de poluição da água do Rio Piracicaba em trecho da Rua Porto, na área central de Piracicaba, estava 529% maior do que o aceitável para o manancial, de acordo com análise feita pelo pesquisador Plínio Barbosa de Camargo, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), que funciona na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba.
Com menos água para diluir o esgoto, a poluição aumenta. Nesta segunda-feira (18), o índice de poluição da água do Rio Piracicaba em trecho da Rua Porto, na área central de Piracicaba, estava 529% maior do que o aceitável para o manancial, de acordo com análise feita pelo pesquisador Plínio Barbosa de Camargo, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), que funciona na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba.
A consequência disso é a redução dos níveis de oxigênio na água e a consequente mortandade de peixes. "O Rio Piracicaba, na altura do município de Piracicaba, já recebeu toda a carga de esgotos, tratados e não tratados, lançados pelos municípios localizados à montante. O detergente presente no esgoto, mesmo o biodegradável, precisa de oxigênio na água para se degradar e, em grandes concentrações, as bactérias presentes nas águas não conseguem destruir nem esses produtos. A mortandade de peixes também é, provavelmente, consequência da estiagem, que levou à redução do teor de oxigênio dissolvido nas águas", informou a Cetesb em nota da assessoria de imprensa.
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