17/08/2014
Falta de saneamento agrava leptospirose em AlagoasEm Maceió, por exemplo, índice de tratamento é de 35%; doença teve 38 casos confirmados
Larissa Bastos
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15.04.2014 14h33
O jovem é mais um a engrossar as estatísticas no Estado. Em 2014, já foram confirmados 38 registros da enfermidade. O principal foco é Maceió, com 27 pessoas contaminadas, seguido de Campo Alegre e Pilar, com duas cada, e Barra de Santo Antônio, Colônia de Leopoldina, Limoeiro de Anadia, Marechal Deodoro, Rio Largo, União dos Palmares e Viçosa, com um doente cada.
Os números, repassados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), são parecidos com os de 2013, quando o órgão computou 39 ocorrências e, segundo o médico infectologista Teófilo Guimarães, já são os esperados. Ele, que atendeu Max David no Hospital Hélvio Auto - o HDT, referência no tratamento -, explica que a falta de saneamento em Alagoas, em especial na capital, facilitam o aparecimento da leptospirose.
"As condições sanitárias no Estado são péssimas. Estamos numa situação endêmica, quando já temos um número de registros esperado para um determinado local. É uma estatística que sempre se repte, já que se trata de um local com esgoto a céu aberto, sem saneamento básico. Se tivéssemos uma cidade saneada, a doença diminuiria muito", diz o especialista.
Segundo relatório do Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), divulgado em 2013, a capital alagoana aparece na 79ª posição no Ranking de Saneamento Nacional, que engloba 100 cidades brasileiras. Quando o assunto é o atendimento total de esgoto, Maceió aparece com uma taxa de apenas 35,36%, com uma nota de 0,88 - a máxima é de 2,5.
O indicador de tratamento também aparece com o mesmo percentual, 35,36, deixando o município bem atrás de outros do Nordeste, como Salvador, que aparece em 34º lugar, Fortaleza (43º), João Pessoa (52º), Aracaju (68º), Recife (69º) e Natal (65º). Os dados são os últimos publicados pelo Ministério das Cidades e são relativos ao ano de 2011.
No estudo, a Trata Brasil destaca que a consulta é feita pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgado anualmente pelo Ministério e que reúne informações fornecidas pelas empresas prestadoras dos serviços. Já a última pesquisa entre os estados foi realizada pelo IBGE em 2008 e mostra Alagoas com 9,6% de domicílios atendidos por rede geral de esgoto.
"Se esse problema fosse resolvido, os casos de leptospirose, se não zerassem, chegariam bem perto disso, com bem menos adoecimentos. O grande problema é mesmo o saneamento, que facilita a procriação e o contato com os roedores, os maiores transmissores da doença", diz o médico Teófilo Guimarães.
Caso Max David
Responsável pelo atendimento de Max David no HDT, o infectologista afirma que uma complicação grave e mais rara, o sangramento pulmonar, agravou a situação. Mas destaca que a demora no diagnóstico também fez com que as chances de cura fossem menores. Antes do Hélvio Auto, o paciente havia ido a um mini pronto-socorro, onde recebeu um anti-histamínico e foi liberado.
Os primeiros sinais da enfermidade apareceram no dia 30 de julho, cinco dias após o jovem pular em um córrego na Grota da Alegria para salvar um menino que havia escorregado. "Ele foi ao pronto-socorro na quarta-feira e apenas quando os sintomas se agravaram e começou a sentir um desconforto respiratório ele chegou ao hospital, onde já teve que ser encaminhado diretamente para a UTI diante da gravidade", diz Teófilo.
De acordo com ele, o sangramento mais comum é o gastrointestinal, complicação da doença. "Foi o primeiro caso que vi de sangramento pulmonar. Mas o hemograma dele já mostrava uma infecção, alteração nas enzimas do fígado e a leptospirose tem que ser pensada, até em decorrência da história. Não dá para dizer que se ele tivesse sido diagnosticado no início estaria vivo, mas provavelmente teria mais chances".
O médico lembra que a falta de equipamentos nos postos, como aparelhos de raio-x, também dificulta o diagnóstico. "Não dá para diagnosticar se não tiver um suporte adequado, como a realização de um exame de sangue, um raio-x. A emergência não tem o suporte que tive no hospital, por exemplo", expõe. "O ideal é que o diagnóstico tivesse acontecido antes", completa.
Leptospirose
Causada pela bactéria Leptospira, a leptospirose é uma enfermidade infecciosa transmitida principalmente por roedores domésticos, como ratazana e camundongo, que, não desenvolvendo a doença, tornam-se portadores e a eliminam no meio ambiente, contaminando água, solo e alimentos. Ela pode demorar até um mês para dar os primeiros sinais, mas o comum é de 7 a 14 dias.
"Os primeiros sintomas são bem discretos, mas isso também depende de cada organismo e de como o sistema imunológico vai agir contra a leptospira. Não existe maneira de evitar que ela se desenvolva, como uma vacina, por exemplo, então, no primeiro sintoma, o caso já deve começar a ser acompanhado", diz o infectologista Teófilo Guimarães, lembrando que a letalidade da doença não é grande.
Os sintomas podem aparecer de forma leve, como febre de início súbito, dor de cabeça, anorexia, náusea, vômitos e dores musculares, principalmente na panturrilha. Icterícia (pele amarela) e hemorragias também podem acontecer, mas o médico destaca que nem sempre é necessária a internação. "O primeiro a ser feito é analisar a história clínica, até porque leptospirose não se pega no ar ou com outra pessoa doente, mas, tendo um histórico de contato, a possibilidade deve ser pensada".
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