SOS água
Osvaldo Ferreira
Valente
Numa visão com viés bem
intuitivo de questões econômicas, quando um produto está escasso no
mercado, providencia-se aumentar a produção
para atendimento da demanda ou aumentar o preço para diminuir o consumo.
Ora, se falta água, a lógica econômica também deveria prevalecer. Mas por
tratar-se de um bem vital, com memória recente de abundância, fica muito
difícil adotar o aumento de preço como regulador do consumo, ressaltando,
então, a necessidade de regular a
oferta. E a regulação da oferta não tem
passado por percepção correta de como a água vai das chuvas aos pontos de
captação.
Para aumentar a produção de água e regular a oferta,
principalmente nos períodos de estiagens, a bacia hidrográfica é a unidade
básica de trabalho, já definida como tal na própria Lei Feral 9.433, conhecida
como Lei das Águas. E bacia hidrográfica é aquela parte da superfície da terra
drenada por um determinado curso d’água; ela
recebe água de chuva, processa e
devolve a maior parte à atmosfera, pela evapotranspiração, conduzindo o que
sobra diretamente ao curso d’água, através das enxurradas, ou armazenando em
aquíferos subterrâneos, responsáveis pelas nascentes e pelo abastecimento de
poços rasos, profundos e artesianos.
Como a bacia hidrográfica recebe água de chuva, com
determinada qualidade, e disponibiliza com outra, devido às interações com
componentes do meio ambiente, o chamado ecossistema hidrológico, ela poderá ser
conceituada como uma ‘fábrica natural de água’; recebe a água de chuva como
matéria-prima e a disponibilizada como produto. Assim é possível dizer que a
bacia hidrográfica é uma unidade de produção de água. Os volumes armazenados
nas represas do sistema Cantareira, por exemplo, são produtos das bacias
hidrográficas que estão sustentando as vazões dos rios que chegam até elas.
O que se vê, nas discussões sobre oferta e falta de água, é
um foco no produto. Quando se clama pela chuva é com o desejo de que as
enxurradas possam encher as represas e resolver o aperto do fornecimento do
recurso vital. Pensa-se com o a cigarra
da fábula e não como a formiga que armazena para o futuro. Quanto maior for o
volume de enxurrada, menor o volume armazenado nos aquíferos subterrâneos e,
consequentemente, menores vazões de nascentes e de rios nas estiagens.
Uma fábrica previdente e bem administrada, sabendo que a
matéria-prima tem fornecimento sazonal (a chuva não acontece durante todo o ano
no território brasileiro), tem duas alternativas: a primeira é armazenar a
matéria-prima e a segunda é armazenar o produto. Como não dá para armazenar
chuva, resta a opção de armazenar o produto em represas ou em aquíferos
subterrâneos.
As represas têm altos custos ambientais e de construção e
manutenção. Sofrem, também, com a poluição e com as altas taxas de evaporação
de água das superfícies expostas, podendo chegar facilmente a valores de cinco
litros por metro quadrado e por dia. Quanto aos aquíferos subterrâneos,
espalhados ao longo das bacias hidrográficas, são reservatórios construídos
pela natureza, com capacidades enormes de armazenamento e onde os volumes de
água ficam protegidos e são conduzidos lentamente aos cursos d´água, inclusive
nos períodos em que a matéria-prima, chuva, não estiver em falta.
Há tecnologias disponíveis para fazer com que a bacia
hidrográfica, como ‘fábrica natural de água’, possa aproveitar muito mais a
matéria-prima (chuva), em relação ao que
faz atualmente, armazenando mais
produtos em seu almoxarifado (aquífero) e garantindo fornecimento de
água mesmo na ausência de chuva.
Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro
florestal, professor aposentado da Universidade
Federal de Viçosa e especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas.
ENVIADO POR:
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos
ARS Geologia Ltda. - SP
Tel: (55) 11 - 3722 1455
Cel: 11 – 99752 6768
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