Campeonato Brasileiro na Pororoca 2012, Chaves (PA). Foto: Arquivo Pessoal.
Carnaval na mata
Todo brasileiro enche a boca para falar do carnaval. Mas para quem está no Brasil e não quer curtir a agitação desta época do ano, a única opção é esconder-se no mato. E foi o que eu fiz.
Adoro o carnaval, especialmente aqui no Rio de Janeiro, onde moro, mas foi no Rio Amazonas, entre os estados do Pará e Amapá, que me escondi. Nessa expedição tive a companhia de sete atletas, seis pilotos, cinco tripulantes e seis integrantes da comissão técnica de mais um campeonato brasileiro na pororoca.
Tudo começou em clima de amizade, um reencontro com as companheiras do circuito mundial e de aventura. Ficar embarcada durante quatro noites nas margens de um rio, especialmente o Amazonas, por si só gerava perguntas em nossas cabeças imaginativas. Tínhamos um camarote por dupla e fiquei com a paraense Alexandra Ereiro, a Xandinha, em um deles.
Navegamos a noite toda e no dia seguinte perdemos a primeira pororoca. Passei uma parte do dia praticando wakesurf, conversei muito com as amigas e comi bastante. Entre uma refeição e outra, promovemos reuniões com os organizadores para decidir baterias e organizar a logística do evento para o próximo dia.
Durante a noite uma tempestade nos acordou e a correnteza nos puxou para a beira. Confesso que fiquei preocupada naquela noite. A impressão era que o rio estaria grande. Logo cedo acordamos ainda debaixo de chuva. Café da manhã reforçado, fantasias na cabeça e na mente.
Mas ela não apareceu! Segundo os especialistas em pororoca, com mais de 150 no currículo, isso nunca deveria ter acontecido até mesmo pela intensidade que a pororoca havia passado na noite anterior. Eu mesma nem acreditei, já estava louca para surfar aquela onda!
No dia seguinte as baterias já caíram na água. A primeira era da bicampeã mundial Soraia Rocha contra minha companheira de camarote Xandinha, pioneira da pororocas. Não sei o que aconteceu, mas a bateria caiu na água e os juízes não estavam bem posicionados. Ou seja, não viram nada.
Eu vi a bateria de camarote com Juliana Freitas (SP), minha adversária e que estava comigo no jet-ski. Já perto de acabar a primeira bateria, pude ver uma direita interminável quebrando no outro lado. Pedi para o piloto que nos levasse até lá. Só que ele parecia estar com medo, demorou demais para buscar a onda. Aquilo me irritou profunda e visivelmente.
Sabia que a pororoca passava rápido e pela quantidade de meninas alguém poderia ficar sem surfar. E aquela onda estava de sonho.
Quando finalmente alguém da confiança dele sinalizou que poderia ir, fui pega de surpresa. Não sei como, mas eu consegui dropar uma onda de pororoca na parede e depois de meio minuto ela morreu. Fiquei para trás e foi assim que perdi minha bateria! E o pior é que não teve mais onda para tirar a fissura, pois o piloto medroso teve problemas no resgate e quando finalmente pegamos a Ju nos levaram diretamente ao barco.
O dia seguinte era o último da pororoca e como havia perdido a bateria me escalei para ir em um dos jet-skis tentar tirar algumas fotos e filmar com a minha GoPro.
A pouco mais de 15 quilômetros do barco, o jet começou a falhar e não havia ninguém para nos resgatar, pois havíamos sido os últimos a sair. No começo achei que estaria tranquilo e logo o jet voltaria a funcionar. Depois de certo tempo já estava apenas querendo chegar ao barco, pois a pororoca poderia vir e nos pegar.
A velocidade do jet estava reduzida a ponto de que a certa altura eu olhava para a água e via a correnteza na hora que a pororoca estava passando, levando troncos de ré! Depois de duas horas conseguimos andar os 15 quilômetros de volta ao barco.
Apesar de ter feito a viagem e não ter conseguido surfar direito, não perdi meu senso de humor, afinal estava entre amigas e me divertindo muito. O wakesurf também ajudou a descontar a raiva! E a festa indígena foi muito legal também!
De volta ao barco, esperei ansiosamente as gurias chegarem para relatar as baterias finais. Banho tomado (leia-se de barro, pois era da água do rio e a toalha ficava preta) e prontas para a premiação! Quem ganhou foi a Soraia Rocha, que nos emocionou com um discurso de agradecimento ao marido no dia do seu aniversário de casamento.
E assim começamos a navegar novamente rumo à terra natal, observando a paisagem, tirando fotos e conversando.
Resultado do Campeonato Brasileiro na Pororoca 2012
1 Soraia Rocha (SC)
2 Patrícia Setúbal (CE)
3 Bárbara Lima (SP)
3 Juliana Freitas (SP)
5 Xandinha Ereiro (PA)
5 Lorraine Lima (PR)
5 Marina hartz (RJ)
5 Tatiane Meneses (BA)
Adoro o carnaval, especialmente aqui no Rio de Janeiro, onde moro, mas foi no Rio Amazonas, entre os estados do Pará e Amapá, que me escondi. Nessa expedição tive a companhia de sete atletas, seis pilotos, cinco tripulantes e seis integrantes da comissão técnica de mais um campeonato brasileiro na pororoca.
Tudo começou em clima de amizade, um reencontro com as companheiras do circuito mundial e de aventura. Ficar embarcada durante quatro noites nas margens de um rio, especialmente o Amazonas, por si só gerava perguntas em nossas cabeças imaginativas. Tínhamos um camarote por dupla e fiquei com a paraense Alexandra Ereiro, a Xandinha, em um deles.
Navegamos a noite toda e no dia seguinte perdemos a primeira pororoca. Passei uma parte do dia praticando wakesurf, conversei muito com as amigas e comi bastante. Entre uma refeição e outra, promovemos reuniões com os organizadores para decidir baterias e organizar a logística do evento para o próximo dia.
Durante a noite uma tempestade nos acordou e a correnteza nos puxou para a beira. Confesso que fiquei preocupada naquela noite. A impressão era que o rio estaria grande. Logo cedo acordamos ainda debaixo de chuva. Café da manhã reforçado, fantasias na cabeça e na mente.
Mas ela não apareceu! Segundo os especialistas em pororoca, com mais de 150 no currículo, isso nunca deveria ter acontecido até mesmo pela intensidade que a pororoca havia passado na noite anterior. Eu mesma nem acreditei, já estava louca para surfar aquela onda!
No dia seguinte as baterias já caíram na água. A primeira era da bicampeã mundial Soraia Rocha contra minha companheira de camarote Xandinha, pioneira da pororocas. Não sei o que aconteceu, mas a bateria caiu na água e os juízes não estavam bem posicionados. Ou seja, não viram nada.
Eu vi a bateria de camarote com Juliana Freitas (SP), minha adversária e que estava comigo no jet-ski. Já perto de acabar a primeira bateria, pude ver uma direita interminável quebrando no outro lado. Pedi para o piloto que nos levasse até lá. Só que ele parecia estar com medo, demorou demais para buscar a onda. Aquilo me irritou profunda e visivelmente.
Sabia que a pororoca passava rápido e pela quantidade de meninas alguém poderia ficar sem surfar. E aquela onda estava de sonho.
Quando finalmente alguém da confiança dele sinalizou que poderia ir, fui pega de surpresa. Não sei como, mas eu consegui dropar uma onda de pororoca na parede e depois de meio minuto ela morreu. Fiquei para trás e foi assim que perdi minha bateria! E o pior é que não teve mais onda para tirar a fissura, pois o piloto medroso teve problemas no resgate e quando finalmente pegamos a Ju nos levaram diretamente ao barco.
O dia seguinte era o último da pororoca e como havia perdido a bateria me escalei para ir em um dos jet-skis tentar tirar algumas fotos e filmar com a minha GoPro.
A pouco mais de 15 quilômetros do barco, o jet começou a falhar e não havia ninguém para nos resgatar, pois havíamos sido os últimos a sair. No começo achei que estaria tranquilo e logo o jet voltaria a funcionar. Depois de certo tempo já estava apenas querendo chegar ao barco, pois a pororoca poderia vir e nos pegar.
A velocidade do jet estava reduzida a ponto de que a certa altura eu olhava para a água e via a correnteza na hora que a pororoca estava passando, levando troncos de ré! Depois de duas horas conseguimos andar os 15 quilômetros de volta ao barco.
Apesar de ter feito a viagem e não ter conseguido surfar direito, não perdi meu senso de humor, afinal estava entre amigas e me divertindo muito. O wakesurf também ajudou a descontar a raiva! E a festa indígena foi muito legal também!
De volta ao barco, esperei ansiosamente as gurias chegarem para relatar as baterias finais. Banho tomado (leia-se de barro, pois era da água do rio e a toalha ficava preta) e prontas para a premiação! Quem ganhou foi a Soraia Rocha, que nos emocionou com um discurso de agradecimento ao marido no dia do seu aniversário de casamento.
E assim começamos a navegar novamente rumo à terra natal, observando a paisagem, tirando fotos e conversando.
Resultado do Campeonato Brasileiro na Pororoca 2012
1 Soraia Rocha (SC)
2 Patrícia Setúbal (CE)
3 Bárbara Lima (SP)
3 Juliana Freitas (SP)
5 Xandinha Ereiro (PA)
5 Lorraine Lima (PR)
5 Marina hartz (RJ)
5 Tatiane Meneses (BA)
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