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4 de setembro de 2008

A gestão da água:um desafio para o futuro próximo que deve ser encarado hoje

Foto:Roberto Mattioli (Italy) Gaëlle Dupont 04/08/2008
Em Montpellier, França

As sociedades humanas precisam reformar rapidamente sua administração dos recursos em água doce, sobre os quais pesam ameaças cada vez mais importantes. Caso mudanças não forem promovidas em tempo hábil, a segurança hídrica, alimentícia e energética de determinadas regiões do mundo, em breve poderá estar comprometida. Em substância, esta é a mensagem dos organizadores do 13º Congresso Mundial da Agua, que está sendo realizado em Montpellier, na França, de segunda, 1º a quinta-feira, 4 de setembro.

"Durante muito tempo, o recurso da água esteve disponível, em grande quantidade, e apresentando boa qualidade. Ela era considerada como inesgotável", resume Cecilia Tortajada, a presidente da Associação Internacional dos Recursos Hídricos (IWRA), e co-organizadora deste congresso. Mas está situação já foi alterada, e nós estamos agora nos aproximando dos limites. "O nosso objetivo é de gerar conhecimentos a respeito desta questão, e de incentivar os tomadores de decisões a anteciparem os desafios que estão por vir", acrescenta.

Reservas de água: Em 2025, 8 bilhões de habitantes deverão compartilhar a mesma quantidade de água doce que existe atualmente. Estima-se que as reservas serão, em média, de 4.800 m3 por ano e por habitante, contra 7.300 m3 em 2000 e 16.800 m3 em 1950.

Água disponível: A América do Sul dispõe da quarta parte da água disponível em todo o mundo, embora ela abrigue apenas 6% da população. No extremo oposto, 60% dos habitantes do planeta vivem na Ásia, que não dispõe mais do que um terço dos recursos em água existentes.

Penúria de água: Atualmente, 30% da população mundial dispõe de menos de 2.000 m3 por ano e por habitante. As regiões mais expostas à penúria de água são o Sahel (no oeste da África), o Mediterrâneo, o Oriente Médio, o sul dos Estados Unidos e a Ásia.
NÚMEROS

O congresso de Montpellier, cuja abordagem predominante é científica, está sendo realizado alguns meses antes da reunião do Fórum Mundial da Água, que está agendado para março de 2009 em Istambul (Turquia) e que reunirá lideranças políticas, industriais e organizações não-governamentais (ONGs). Cerca de 260 comunicações deverão ser apresentadas no congresso de Montpellier. Elas abordarão as questões da evolução da vazão dos rios oeste-africanos, o impacto do aquecimento climático sobre a irrigação do arroz na China, e a administração dos conflitos entre usuários na Espanha, entre outras.

Todas elas exploram as múltiplas facetas de uma mesma realidade: no momento em que a população mundial não pára de crescer, a água vem se tornando cada vez mais rara. A principal causa deste desequilíbrio é o aquecimento climático. À medida que a temperatura segue aumentando, a evaporação da água dos rios e de todos os cursos de água em geral torna-se mais importante. Com isso, a quantidade de água disponível no meio-ambiente vai diminuindo. Uma vez que o regime das chuvas também está sendo prejudicado por este fenômeno, as disparidades entre as regiões do mundo, que já eram consideráveis, deverão continuar se acentuando.

Exploração excessiva

O segundo grande fator de rarefação da água é o crescimento das formas de poluição de origem urbana, industrial e agrícola. "Raros são os países que efetuam corretamente o saneamento das suas águas usadas", constata Cecilia Tortajada. "Na Cidade do México, o principal curso de água encontra-se poluído de tal forma que a municipalidade é obrigada a captar a sua água potável a quilômetros de distância".

A salinização das águas doces, que é provocada pela exploração excessiva dos lençóis freáticos costeiros ou dos rios, as torna igualmente impróprias para o consumo. Com isso, elas não podem ser aproveitadas sem custosos processos de saneamento prévios.

Ora, as necessidades de água vêm aumentando sem parar. O crescimento da população mundial, que ocorre essencialmente nas grandes metrópoles, vem concentrando a demanda em determinadas regiões, o que complica o abastecimento de água potável. Contudo, e principalmente, são os volumes necessários para garantir a alimentação da população mundial num futuro próximo que causam preocupação. Atualmente, uma proporção de 70% em média do volume total de água doce utilizada em todo o mundo é destinada ao setor agrícola.

"As culturas irrigadas proporcionam um rendimento que revela ser duas a três vezes mais efetivo em relação ao das culturas pluviais", explica Michel Jarraud, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). "A irrigação deverá ser desenvolvida, mas a sua eficiência no que diz respeito à utilização da água também deverá ser aprimorada". Além disso, a escolha das plantas a serem cultivadas deverá igualmente levar em conta a menor disponibilidade de água, acrescenta Jarraud.

Além do mais, os aumentos dos preços das fontes de energia e a luta contra as emissões de gases de efeito-estufa incitam os Estados a desenvolverem o aproveitamento dos recursos alternativos, os quais incluem não só a hidroeletricidade, como também as centrais térmicas ou nucleares, que necessitam enormes volumes de água para o seu resfriamento; ou ainda os biocombustíveis, que por sua vez também são grandes consumidores de água.

Essas evoluções obrigam a encontrar novas respostas para enfrentar as mais diversas situações. É preciso aprimorar-se os conhecimentos em relação aos recursos, planejar a criação de infra-estruturas de armazenamento e de saneamento das águas usadas, dominar e controlar o consumo e as formas de poluição, reexaminar as políticas agrícolas, e implantar novos métodos de arbitragem entre os usuários, na medida em que estes mais em mais entrarão em conflito...

Os participantes do congresso de Montpellier martelaram as seguintes recomendações: essas respostas devem ser elaboradas pelos Estados, pelas coletividades locais e os usuários que enfrentam esses problemas. "Em matéria de água, cada situação é um caso particular. Além disso, diferentemente do petróleo, a água não pode ser transportada por longas distâncias", lembra Pierre Chevallier, o diretor do Instituto de Pesquisas sobre a Água e o Meio-Ambiente (cuja sigla em francês é IDEE), com sede na região de Languedoc, e presidente do comitê de organização do congresso. "A correspondência adequada entre as quantidades disponíveis e as suas diferentes formas de aproveitamento só pode ser encontrada no nível local".

Fonte: Tradução de Jean-Yves de Neufville

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