Elevador Lacerda e a Baía de Todos os Santos - Salvador (BA)BAHIA: Rios urbanos são despoluídos e revitalizados
"De acordo com os especialistas, os rios não foram feitos para serem cobertos, canalizados ou transformados em passeio, e sim para serem rios."
por João Suassuna — Última modificação 28/08/2009
Antes conhecida como `cidade das águas` pela riqueza e pela qualidade de seus inúmeros mananciais, Salvador tem visto seus recursos hídricos cada vez mais se escassearem com a poluição urbana, resíduos de lixões, despejo de esgoto doméstico sem tratamento e algumas obras de engenharia que desrespeitam a legislação ambiental. Ao longo das décadas canalizações e coberturas em concreto ajudaram a sepultar mais de vinte bacias hidrográficas que envolvem os diversos rios da capital baiana.
A balneabilidade e a potabilidade de cursos d'água como, o Camurujipe, rio das Tripas e Lucaia foram perdidas. Beber ou tomar banho, atividades tão naturais nesses locais até o século XIX tiveram que ser esquecidas e representam hoje um alto risco à saúde. Um investimento de R$600 milhões no sistema de Saneamento básico está entre as ações que garantem a revitalização dos rios que cortam a cidade.
Os rios de Salvador estão sendo engavetados e tendem a ser totalmente sepultados, caso não sejam realizadas intervenções, como as que estão sendo feitas no rio Tietê, em São Paulo e Rio das Velhas, em Belo Horizonte (MG). Essa é a conclusão de especialistas que participaram ontem do Seminário `Proteção e Revitalização dos Rios Urbanos`, coordenado pelo Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), no auditório Paulo Jackson, sede do órgão.
De acordo com os especialistas, os rios não foram feitos para serem cobertos, canalizados ou transformados em passeio, e sim para serem rios. Dessa forma, a revitalização deve ser uma prioridade dos poderes público municipal e estadual. O evento dirigido pelo diretor geral do Ingá, Julio Rocha contou com a participação de representantes do Ministério Público, Ministério do Meio Ambiente, estudiosos e professores da Ufba e de órgãos de outros estados, como Curitiba e Minas Gerais, que trouxeram experiências de revitalização.
A estética dos rios soteropolitanos antes tão admirada foi sendo transformada com o crescimento desordenado urbano e o movimento de migração que desencadearam a falta de infraestrutura e o lançamento de esgotos nos mananciais. `Trata-se de um problema de origem, pois nós nos estabelecemos na cidade sem nos preocuparmos com o futuro, sem pensarmos nas conseqüências da ocupação. As políticas públicas até as décadas de 70 e 80 incentivavam as pessoas a saírem da zona rural para os centros urbanos, sem nenhum acompanhamento de infraestrutura e com ocupação indevida do espaço, o que gerou esse descontrole e falta de cuidado com os recursos da cidade`, afirma o engenheiro ambiental, mestre em Recursos Hídricos, da Ufba, Lafayette Dantas de Luz.
Esgotos domésticos contaminam as águas
O lançamento do esgotamento doméstico está em primeiro lugar como fator de contaminação dos rios de Salvador, mas também há outras motivações, como os resíduos sólidos industriais, os lixos jogados pela população. `Mas existem alguns pouco difusos, a exemplo dos postos de gasolina que tem seus tanques aterrados há 30, 40, 50 anos. Quer dizer, quem é contra esses postos que podem muito bem provocarem vazamento de combustível no solo`, questiona Dantas.
Durante o evento, o especialista em Saneamento básico, Roberto Moraes denunciou poluíção dos rios e canais, situação que está começando a ser freqüente na cidade. `A previsão é de sepultamento de nossos rios com construções a partir de empreiteiras que na verdade são fábricas de dinheiro`, criticou insinuando que a construção de praças gera impacto positivo na comunidade, mas acabam matando um recurso natural que poderia estar sendo revitalizado.
A cobertura de rios provoca alteração do microclima ambiental das regiões, já que a água funciona como regulador térmico, segundo pesquisas. Os especialistas avaliam que a água tem a capacidade de absorver e liberar calor lentamente, em decorrência do seu poder calorífico, o que favorece um clima agradável e um maior conforto térmico. Com a cobertura dos rios a tendência é de aumento da sensação de calor.
Conforme estudos, o único rio que ainda tem vida em Salvador é o Rio do Cobre, que nasce na Lagoa da Paixão, no subúrbio de Coutos. `É o único que se salva. É preciso que todos tenham vergonha na cara para reintegrar esses rios`, disse Moraes em tom de protesto. O especialista ressaltou que é preciso existir propostas para que Salvador construa políticas públicas para os rios de sua área urbana.
A secretária de Meio Ambiente, em Minas Gerais, Myriam Mousinho levou para o evento a experiência de revitalização do Rio das Velhas que corta a cidade de Belo Horizonte. Segundo ela, o projeto Meta 2010 surgiu em 2003, a partir de um trabalho de saúde e meio ambiente de uma faculdade de medicina da capital mineira. `Não é um projeto exclusivamente de obra, mas de participação da sociedade e da classe empresarial. Não adianta a cidade ter um aterro moderno, se a população joga lixo na rua. A conscientização é fundamental nesse aspecto`, enfatizou, explicando que há uma ação integrada na Bacia, com recuperação das matas ciliares e o tratamento do esgoto.
Governo investe R$ 600 milhões na recuperação
De acordo com o diretor do Ingá, Júlio Rocha, há uma necessidade de associar as políticas das águas com as de Saneamento, o que faz com que o governo do estado invista R$ 600 milhões em obras de Saneamento básico, que incluem a revitalização dos rios. Até 2010, a pretensão é de ampliar as ligações de esgoto na cidade, com a perspectiva de ultrapassar os 90% de domicílios ligados à rede de esgotamento.
O problema de falta de conservação dos rios é nacional, mas outros estados vêm apostando há mais tempo na revitalização. `O objetivo é tratar também o esgoto para devolver água de qualidade aos rios da cidade`, enfatizou Rocha.
A despoluição dos rios propicia a revitalização dos corpos d'água, que é uma das ações que já está sendo implementada nos rios Subaé, Ipitanga e Paraguaçu. `Com a retirada dos esgotos lançado in natura, os rios voltam a ter vida, se auto- recuperam em período de no máximo um ano, o que significa que a cidade ganha de volta os rios limpos.
O Ingá também vai iniciar a implantação do Programa de Restauração de Matas Ciliares e Nascentes, que tem também como objetivo a revitalização dos rios. Nesse trabalho será investido R$ 5 milhões. Estão previstos o plantio de mudas nativas e vegetação ciliar para arborização urbana e a recuperação de nascentes e rios. O processo será realizado através da abertura de editais de chamada pública até o final deste ano, voltados para projetos da sociedade civil e prefeituras de todo o estado. A primeira etapa do programa beneficiará os dez maiores municípios baianos, incluindo Salvador.
Segundo o diretor do órgão serão investidos R$ 1 milhão no Plano Estadual de Recursos Hídricos, R$ 1,5 milhão nos planos de bacias.
26/08/2009 - Fonte: InstitutoTrata Brasil/REMA ATLÂNTICO
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
quem defende as águas brasileiras!
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
"De acordo com os especialistas, os rios não foram feitos para serem cobertos, canalizados ou transformados em passeio, e sim para serem rios."
por João Suassuna — Última modificação 28/08/2009
Antes conhecida como `cidade das águas` pela riqueza e pela qualidade de seus inúmeros mananciais, Salvador tem visto seus recursos hídricos cada vez mais se escassearem com a poluição urbana, resíduos de lixões, despejo de esgoto doméstico sem tratamento e algumas obras de engenharia que desrespeitam a legislação ambiental. Ao longo das décadas canalizações e coberturas em concreto ajudaram a sepultar mais de vinte bacias hidrográficas que envolvem os diversos rios da capital baiana.
A balneabilidade e a potabilidade de cursos d'água como, o Camurujipe, rio das Tripas e Lucaia foram perdidas. Beber ou tomar banho, atividades tão naturais nesses locais até o século XIX tiveram que ser esquecidas e representam hoje um alto risco à saúde. Um investimento de R$600 milhões no sistema de Saneamento básico está entre as ações que garantem a revitalização dos rios que cortam a cidade.
Os rios de Salvador estão sendo engavetados e tendem a ser totalmente sepultados, caso não sejam realizadas intervenções, como as que estão sendo feitas no rio Tietê, em São Paulo e Rio das Velhas, em Belo Horizonte (MG). Essa é a conclusão de especialistas que participaram ontem do Seminário `Proteção e Revitalização dos Rios Urbanos`, coordenado pelo Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), no auditório Paulo Jackson, sede do órgão.
De acordo com os especialistas, os rios não foram feitos para serem cobertos, canalizados ou transformados em passeio, e sim para serem rios. Dessa forma, a revitalização deve ser uma prioridade dos poderes público municipal e estadual. O evento dirigido pelo diretor geral do Ingá, Julio Rocha contou com a participação de representantes do Ministério Público, Ministério do Meio Ambiente, estudiosos e professores da Ufba e de órgãos de outros estados, como Curitiba e Minas Gerais, que trouxeram experiências de revitalização.
A estética dos rios soteropolitanos antes tão admirada foi sendo transformada com o crescimento desordenado urbano e o movimento de migração que desencadearam a falta de infraestrutura e o lançamento de esgotos nos mananciais. `Trata-se de um problema de origem, pois nós nos estabelecemos na cidade sem nos preocuparmos com o futuro, sem pensarmos nas conseqüências da ocupação. As políticas públicas até as décadas de 70 e 80 incentivavam as pessoas a saírem da zona rural para os centros urbanos, sem nenhum acompanhamento de infraestrutura e com ocupação indevida do espaço, o que gerou esse descontrole e falta de cuidado com os recursos da cidade`, afirma o engenheiro ambiental, mestre em Recursos Hídricos, da Ufba, Lafayette Dantas de Luz.
Esgotos domésticos contaminam as águas
O lançamento do esgotamento doméstico está em primeiro lugar como fator de contaminação dos rios de Salvador, mas também há outras motivações, como os resíduos sólidos industriais, os lixos jogados pela população. `Mas existem alguns pouco difusos, a exemplo dos postos de gasolina que tem seus tanques aterrados há 30, 40, 50 anos. Quer dizer, quem é contra esses postos que podem muito bem provocarem vazamento de combustível no solo`, questiona Dantas.
Durante o evento, o especialista em Saneamento básico, Roberto Moraes denunciou poluíção dos rios e canais, situação que está começando a ser freqüente na cidade. `A previsão é de sepultamento de nossos rios com construções a partir de empreiteiras que na verdade são fábricas de dinheiro`, criticou insinuando que a construção de praças gera impacto positivo na comunidade, mas acabam matando um recurso natural que poderia estar sendo revitalizado.
A cobertura de rios provoca alteração do microclima ambiental das regiões, já que a água funciona como regulador térmico, segundo pesquisas. Os especialistas avaliam que a água tem a capacidade de absorver e liberar calor lentamente, em decorrência do seu poder calorífico, o que favorece um clima agradável e um maior conforto térmico. Com a cobertura dos rios a tendência é de aumento da sensação de calor.
Conforme estudos, o único rio que ainda tem vida em Salvador é o Rio do Cobre, que nasce na Lagoa da Paixão, no subúrbio de Coutos. `É o único que se salva. É preciso que todos tenham vergonha na cara para reintegrar esses rios`, disse Moraes em tom de protesto. O especialista ressaltou que é preciso existir propostas para que Salvador construa políticas públicas para os rios de sua área urbana.
A secretária de Meio Ambiente, em Minas Gerais, Myriam Mousinho levou para o evento a experiência de revitalização do Rio das Velhas que corta a cidade de Belo Horizonte. Segundo ela, o projeto Meta 2010 surgiu em 2003, a partir de um trabalho de saúde e meio ambiente de uma faculdade de medicina da capital mineira. `Não é um projeto exclusivamente de obra, mas de participação da sociedade e da classe empresarial. Não adianta a cidade ter um aterro moderno, se a população joga lixo na rua. A conscientização é fundamental nesse aspecto`, enfatizou, explicando que há uma ação integrada na Bacia, com recuperação das matas ciliares e o tratamento do esgoto.
Governo investe R$ 600 milhões na recuperação
De acordo com o diretor do Ingá, Júlio Rocha, há uma necessidade de associar as políticas das águas com as de Saneamento, o que faz com que o governo do estado invista R$ 600 milhões em obras de Saneamento básico, que incluem a revitalização dos rios. Até 2010, a pretensão é de ampliar as ligações de esgoto na cidade, com a perspectiva de ultrapassar os 90% de domicílios ligados à rede de esgotamento.
O problema de falta de conservação dos rios é nacional, mas outros estados vêm apostando há mais tempo na revitalização. `O objetivo é tratar também o esgoto para devolver água de qualidade aos rios da cidade`, enfatizou Rocha.
A despoluição dos rios propicia a revitalização dos corpos d'água, que é uma das ações que já está sendo implementada nos rios Subaé, Ipitanga e Paraguaçu. `Com a retirada dos esgotos lançado in natura, os rios voltam a ter vida, se auto- recuperam em período de no máximo um ano, o que significa que a cidade ganha de volta os rios limpos.
O Ingá também vai iniciar a implantação do Programa de Restauração de Matas Ciliares e Nascentes, que tem também como objetivo a revitalização dos rios. Nesse trabalho será investido R$ 5 milhões. Estão previstos o plantio de mudas nativas e vegetação ciliar para arborização urbana e a recuperação de nascentes e rios. O processo será realizado através da abertura de editais de chamada pública até o final deste ano, voltados para projetos da sociedade civil e prefeituras de todo o estado. A primeira etapa do programa beneficiará os dez maiores municípios baianos, incluindo Salvador.
Segundo o diretor do órgão serão investidos R$ 1 milhão no Plano Estadual de Recursos Hídricos, R$ 1,5 milhão nos planos de bacias.
26/08/2009 - Fonte: InstitutoTrata Brasil/REMA ATLÂNTICO
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