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8 de janeiro de 2013

PISCINÕES DE SÃO PAULO NÃO ESTÃO PREPARADOS PARA CONTER AS ENCHENTES




Piscinão aguarda limpeza e manutenção por parte do Governo do Estado - Piscinão, no Jardim Nova República. Foto Prefeitura de Embu das Artes
Piscinão aguarda limpeza e manutenção por parte do Governo do Estado – Piscinão, no Jardim Nova República. Foto Prefeitura de Embu das Artes

Falta de manutenção adequada em piscinões ameaça combate a enchentes em SP, diz especialista

Publicado em janeiro 7, 2013 por 


Os piscinões, reservatórios que têm como função substituir as várzeas dos rios que foram removidas ao longo do tempo com a urbanização, representam um alívio contra as enchentes e alagamentos na capital paulista. No entanto, na avaliação do engenheiro civil e sanitarista consultor do Instituto Polis, Sebastião Ney Vaz, a solução técnica, que traz efeitos diretos no combate às enchentes, estaria ameaçada pela falta de manutenção adequada.
“A situação é muito crítica em termos de conservação. Tanto a prefeitura como o estado deixaram de fazer as devidas manutenções ao longo do ano”, disse. De acordo com o especialista, esse importante trabalho preventivo deveria ter começado em julho, mas teve início tardiamente. “A prefeitura só está começando essa limpeza agora, é muito tarde”, completou.
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, por sua vez, nega que o trabalho de manutenção não esteja sendo feito. “A manutenção dos piscinões é feita constantemente”, informou por meio de nota. O órgão diz ainda que todas as regiões da cidade têm sido mantidas sem problemas de alagamentos causados por piscinões. “O trabalho de limpeza obedece a critérios técnicos e de logística. A execução do trabalho é gerenciada por profissionais técnicos, conhecedores do assunto”, ressalta.
Embora não resolva de maneira estrutural o problema das enchentes em São Paulo, os 20 piscinões existentes na capital, com capacidade para armazenar mais de 5 milhões de metros cúbicos de água, significam redução nas enchentes. Para o entorno do Córrego Aricanduva, na zona leste da capital, por exemplo, o engenheiro reconhece que os quatro reservatórios acabaram com alagamentos antes recorrentes. “Eles são suficiente para lá, porque você consegue segurar toda essa água na parte alta e não deixa que a água chegue rapidamente”, explicou.
O Córrego Aricanduva, recebeu por parte da administração municipal maior atenção. “Nós demos prioridade ao Aricanduva. Nos últimos oito anos, tivemos dois pequenos alagamentos depois das obras concluídas”, declarou.
O engenheiro disse que a ocupação urbana acelerada das regiões próximas ao córrego contribuiu para o agravamento das enchentes nos últimos anos. “O que ocorreu na região do Aricanduva é que impermeabilizou muito rápido toda a bacia. Aí, quando você pensa em uma enchente, é que você tem que pensar na bacia como um todo, extremamente impermeabilizada”, explicou.
Para a arquiteta e urbanista do Instituto Polis, Margareth Uenura, a construção de piscinões é apenas uma solução paliativa. “O piscinão é a retenção, enquanto solução técnica. Você retarda o problema, impede que a água chegue em um lugar mais crítico. Ela só chega com um pouco mais de lentidão”, ressaltou.
Segundo Margareth, a capital como um todo tem diversos problemas que prejudicam o controle das enchentes. “As soluções são várias e diversificadas, são pontuais. E existem soluções que só servem para aquele determinado lugar”, disse.
O combate ao problema, na opinião da arquiteta, é dividido em duas frentes. Uma está ligada à limpeza e conservação, como coleta de lixo, manutenção de bocas de lobo, varrição e manutenção do sistema de drenagem. A outra é mais estrutural, como obras de drenagem e habitação. “Se você consegue ter um bom plano diretor e um bom controle de uso e ocupação do solo, em tese, você vai diminuindo para as próximas décadas os problemas. Então, tem que pensar estruturalmente e planejar a cidade”, declarou.
Segundo Margareth, a drenagem da água na cidade passa também por um importante obstáculo, a existência do grande número de habitação inadequadas. “É preciso prever drenagem para essas áreas. A gente está cheio de urbanizações irregulares na cidade, áreas em que obras precisam ser feitas para corrigir os assentamentos. Elas [obras] estão sendo feitas, mas nunca são o suficiente para você impedir as enchentes que estão acontecendo”.
Os assentamentos precários, em grande parte, margeiam córregos que frequentemente transbordam em época de chuvas, além de trazer riscos para a segurança dos próprios ocupantes.
Segundo o mapeamento feito pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) em 2009, a cidade apresentava 407 áreas de risco. De acordo com a prefeitura, já foram removidas mais de 4 mil famílias em áreas de alto risco. De 2008 até outubro de 2012, houve 408 intervenções nesses locais, um investimento de R$ 142,2 milhões em obras e serviços.
O engenheiro Ney Vaz defende, além disso, que as moradias irregulares sejam removidas para construção de parques lineares. “Esses parques são uma proposta muita nova. Existem poucos na cidade. A ideia é você devolver a Mata Ciliar aos córregos para que segure um pouco mais, tenha mais áreas permeáveis para que não entre rapidamente toda a vazão da chuva dentro dos córregos”, explicou.
Porém, o engenheiro alerta que os benefícios proporcionados por essa forma de combate às enchentes deve demorar para se tornar efetiva. “Isso [a construção de parques lineares] é um processo muito lento. Vai demorar, porque agora que se começou a pensar um pouco mais nisso”, disse.
A solução mais eficaz, na opinião dele, seria a implementação de mais obras pelo município. “Nós precisamos de obras em São Paulo, obras grandes para resolver esses problemas”.
Reportagem de Fernanda Cruz, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 07/01/2013


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