Reservas de água subterrânea estão sob risco de poluição no Oeste catarinense
Cerca de 60% dos poços artesianos analisados no Oeste catarinense estão contaminados. Ameaça pode atingir uma das maiores reservas de água doce do mundo
Cristian Weiss
A mais importante reserva de água doce da América do Sul – e presente em mais de 50% do subsolo catarinense – pode estar sob ameaça. A conclusão é de pesquisadores catarinenses que compõem o projeto Rede Guarani Serra Geral, força-tarefa de cientistas que desde 2008 estuda e monitora a qualidade das águas do Aquífero Guarani.
Em 316 poços de uso público analisados nas cidades abastecidas pelas bacias dos rios Jacutinga, do Peixe e Chapecó, no Oeste, 60% apresentaram a presença de coliformes fecais.
Em 316 poços de uso público analisados nas cidades abastecidas pelas bacias dos rios Jacutinga, do Peixe e Chapecó, no Oeste, 60% apresentaram a presença de coliformes fecais.
Os resultados serão apresentados nesta semana no Simpósio de Recursos Hídricos, na Assembleia Legislativa. O simpósio começa nesta terça, 12, e segue até quinta-feira, 14. O impacto da poluição sobre os poços será debatido em mesa redonda na quarta-feira.
Coordenador do projeto de pesquisa Rede Guarani Serra Geral, Luiz Fernando Scheibe alerta para o uso inadequado dos recursos hídricos no Oeste, devido à intensa atividade agropecuária e à falta de tratamento de esgoto nos municípios. Os poços analisados são usados para consumo da população ou dos animais.
– O resultado é indício de que podem haver águas poluídas no subterrâneo. Mas não podemos afirmar ainda que a água do aquífero esteja contaminada – explica.
Os estudos prosseguem. Os aquíferos são, basicamente, formações de rochas porosas capazes de armazenar água no subterrâneo. Os rios e os aquíferos se relacionam diretamente. Em períodos de estiagem, o rio continua correndo devido à água subterrânea cedida por meio das rochas. Se um dos dois apresentar altos níveis de poluição, pode comprometer a cadeia.
Em Presidente Castelo Branco, Arvoredo, Xavantina, Paial, Peritiba, Ouro, Alto Bela Vista e Lindóia do Sul, abastecidos pela Bacia do Rio Jacutinga, 100% dos postos estão contaminados, segundo a análise. Os rios do Oeste apresentam grande carga de poluição orgânica.
Todas as amostras coletadas nos rios do Peixe, Jacutinga, Alto Rio Uruguai e Chapecó apresentam teor alto de coliformes fecais. No Rio do Peixe, por exemplo, as oito amostras coletadas ano passado apontaram para qualidade ruim, abaixo do nível 50, numa escala técnica que vai até 100. A presença de fossas e criação de animais é uma das causas, principalmente em Caçador e Videira, os mais populosos localizados à margem do rio, e que não dispõem de tratamento de esgoto.
Na áreas rurais, uma das maneiras usadas pelos agricultores para se livrar dos dejetos dos animais é espalhar na plantação. Quando em quantidade grande, as toxinas vão para o solo e, consequentemente, atingem o aquífero. Para o pesquisadores, nem mesmo o esforço da Fatma em instalar esterqueiras – reservatórios que permitem a fermentação do esterco, para reduzir o poder poluidor e permitir o aproveitamento como fertilizante – nas criações de suínos e restringir a implantação de granjas nos últimos 15 anos contribuiu para o recuo da poluição hídrica.
A recomendação dos pesquisadores é intensificar o monitoramento dos rios. A implantação do projeto há cinco anos ajudou a formar equipes, laboratórios e pesquisadores preocupados com a manutenção das reservas de água subterrâneas. As equipes têm trabalhado também com a educação ambiental nas comunidades e o estímulo ao uso da homeopatia no lugar de antibióticos e hormônios na criação de animais, para evitar a contaminação dos corpos d'água.
OS SINAIS DA POLUIÇÃO
Cerca de 60% dos 316 poços analisados em três bacias apresentam contaminação:
Bacia do Rio Jacutinga - 100 poços dos municípios de Xavantina, Vargem Bonita, Seara, Presidente Castelo Branco, Peritiba, Paial, Ouro, Lindóia do Sul, Jaborá, Itá, Irani, Ipumirim, Ipira, Concórdia, Catanduvas, Arvoredo, Arabutã, Alto Bela Vista, Água Doce
Bacia do Rio do Peixe - 116 poços dos municípios de Ibicaré, Luzerna, Herval D'Oeste, Joaçaba, Lacerdópolis, Ouro, Capinzal
Bacia do Rio Chapecó - 100 poços analisados
Causas da poluição
- Falta de tratamento de esgoto, aliada à falta de manutenção dos poços
- Manejo com defensivos agrícolas sem a dosagem correta _ excesso é levado pela água das chuvas atingindo mananciais, rios, o solo e os lençóis freáticos
- Falta de cuidado na eliminação dos dejetos dos animais
Coordenador do projeto de pesquisa Rede Guarani Serra Geral, Luiz Fernando Scheibe alerta para o uso inadequado dos recursos hídricos no Oeste, devido à intensa atividade agropecuária e à falta de tratamento de esgoto nos municípios. Os poços analisados são usados para consumo da população ou dos animais.
– O resultado é indício de que podem haver águas poluídas no subterrâneo. Mas não podemos afirmar ainda que a água do aquífero esteja contaminada – explica.
Os estudos prosseguem. Os aquíferos são, basicamente, formações de rochas porosas capazes de armazenar água no subterrâneo. Os rios e os aquíferos se relacionam diretamente. Em períodos de estiagem, o rio continua correndo devido à água subterrânea cedida por meio das rochas. Se um dos dois apresentar altos níveis de poluição, pode comprometer a cadeia.
Em Presidente Castelo Branco, Arvoredo, Xavantina, Paial, Peritiba, Ouro, Alto Bela Vista e Lindóia do Sul, abastecidos pela Bacia do Rio Jacutinga, 100% dos postos estão contaminados, segundo a análise. Os rios do Oeste apresentam grande carga de poluição orgânica.
Todas as amostras coletadas nos rios do Peixe, Jacutinga, Alto Rio Uruguai e Chapecó apresentam teor alto de coliformes fecais. No Rio do Peixe, por exemplo, as oito amostras coletadas ano passado apontaram para qualidade ruim, abaixo do nível 50, numa escala técnica que vai até 100. A presença de fossas e criação de animais é uma das causas, principalmente em Caçador e Videira, os mais populosos localizados à margem do rio, e que não dispõem de tratamento de esgoto.
Na áreas rurais, uma das maneiras usadas pelos agricultores para se livrar dos dejetos dos animais é espalhar na plantação. Quando em quantidade grande, as toxinas vão para o solo e, consequentemente, atingem o aquífero. Para o pesquisadores, nem mesmo o esforço da Fatma em instalar esterqueiras – reservatórios que permitem a fermentação do esterco, para reduzir o poder poluidor e permitir o aproveitamento como fertilizante – nas criações de suínos e restringir a implantação de granjas nos últimos 15 anos contribuiu para o recuo da poluição hídrica.
A recomendação dos pesquisadores é intensificar o monitoramento dos rios. A implantação do projeto há cinco anos ajudou a formar equipes, laboratórios e pesquisadores preocupados com a manutenção das reservas de água subterrâneas. As equipes têm trabalhado também com a educação ambiental nas comunidades e o estímulo ao uso da homeopatia no lugar de antibióticos e hormônios na criação de animais, para evitar a contaminação dos corpos d'água.
OS SINAIS DA POLUIÇÃO
Cerca de 60% dos 316 poços analisados em três bacias apresentam contaminação:
Bacia do Rio Jacutinga - 100 poços dos municípios de Xavantina, Vargem Bonita, Seara, Presidente Castelo Branco, Peritiba, Paial, Ouro, Lindóia do Sul, Jaborá, Itá, Irani, Ipumirim, Ipira, Concórdia, Catanduvas, Arvoredo, Arabutã, Alto Bela Vista, Água Doce
Bacia do Rio do Peixe - 116 poços dos municípios de Ibicaré, Luzerna, Herval D'Oeste, Joaçaba, Lacerdópolis, Ouro, Capinzal
Bacia do Rio Chapecó - 100 poços analisados
Causas da poluição
- Falta de tratamento de esgoto, aliada à falta de manutenção dos poços
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