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20 de abril de 2013

AGROTÓXICOS NOS RECURSOS HÍDRICOS – Moradores bebem e pagam por água contaminada

O escoamento dos agrotóxicos para além das plantas revela o risco de intoxicação crônica silenciosa

Limoeiro do Norte (CE) / Petrolina (PE) / Lucas do Rio Verde (MT) / Juazeiro (BA). 

Desde 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta os agrotóxicos como a segunda maior causa de contaminação das águas no Brasil. Só perde para o esgoto doméstico. Pelo menos 25% dos municípios brasileiros registram contaminação do solo por agrotóxicos e fertilizantes. O descarte irregular de embalagens vazias é apontado como uma das principais causas de contaminação, embora se venha investindo muito na melhoria do recolhimento.

Garoto toma banho em canal para irrigação no Vale do São Francisco (BA). Foto: Waleska Santiago

Controle de vetores
Um risco de contaminação por produtos químicos pode ser mais silencioso do que a de agrotóxico nos campos agrícolas: o de combate aos vetores causadores de doenças, como Aedes aegypti. "Um produto químico, mesmo em pequenas doses, pode causar reações diferentes em pessoas diferentes. Isso é muito relativo. O que não faz mal a um pode fazer a outro. O próprio Ministério da Saúde estimula o uso de larvicida quando não há estudos conclusivos, o que pode agravar casos de contaminação", afirma a médica Idê Gurgel, doutora em ciências da saúde e pesquisadora da Fiocruz no Estado de Pernambuco.

No dia 1º de março de 2013, 30 estudantes de Mirandiba, no sertão pernambucano, foram hospitalizados por suspeita de intoxicação, após consumir água do bebedouro. Os sintomas apresentados foram dores abdominais, náusea e vômitos. Investigações apontaram que a causa foi um larvicida colocado na caixa-d´água do colégio para combater a reprodução do mosquito da dengue.

Veneno na caixa-d´água, na torneira da cozinha, no canal, no tanque de abastecimento e até nas águas subterrâneas. A maior parte do agrotóxico usado na plantação escoa. Começa pela folha e tem vários outros caminhos: o ar, o solo e os rios. Dessa forma, várias comunidades em regiões agrícolas bebem água contaminada com veneno agrícola sem saber.

Há estudos comprovando isso em Limoeiro do Norte (CE) e Lucas do Rio Verde (MT). Em Petrolina (PE), os relatos dos trabalhadores aumentam a suspeita de que parte das intoxicações ocorram a partir da água. Os dados foram compilados no Dossiê Agrotóxicos, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Veneno na torneira
No poço profundo no quintal da casa de Valdo de Cássia, na comunidade de Tomé, em Limoeiro, foram encontrados 12 tipos de agrotóxicos, entre eles glifosato, barbaril e carbofurano, altamente tóxico e com potencial carcinorgênico. Outra leva de produtos é encontrada nas comunidades de Santa Maria, Santa Fé, Lagoa da Casca e Carnaúba. A pesquisa foi realizada em 2009 e divulgada no ano seguinte pelos especialistas.

Foram colhidas 24 amostras de água, levadas para análise no Laboratório do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Ambientais Avançados da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Todas as amostras apontaram a presença de agrotóxicos. Vários desses elementos foram ou ainda estão em fase de reavaliação pela Anvisa, justamente pelo elevado nível de toxicidade. É o caso de glifosato, endosulfan e carbofurano.

A Federação das Associações de Produtores do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (Fapija) alerta que as águas dos canais e dos reservatórios para as casas de bomba são proibidas para consumo humano, sendo de uso exclusivo para irrigação. Mas, como não há outra forma de levar água para centenas de famílias, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) capta água e faz o tratamento com pastilhas de cloro, o que não combate os ingredientes ativos dos agrotóxicos.

A médica e pesquisadora Raquel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará (UFC), considerou o uso intensivo de agrotóxicos nos plantios o responsável pelas contaminações verificadas. A Câmara de Vereadores de Limoeiro do Norte aprovou lei municipal que autoriza a pulverização aérea, embora atualmente esteja proibida no Estado do Ceará.

Curiosamente, no mesmo ano, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), órgão da Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos, apontou a presença de agrotóxicos em seis de dez amostras de poços profundos com água do aquífero Jandaíra, um dos maiores do Nordeste e situado entre os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. De acordo com o estudo, o registro dos produtos químicos estava dentro dos limites permitidos pela legislação.

Os órgãos públicos de saúde ponderam qualquer nível de alarme com essa informação. Isso porque existem, normativamente, níveis permitidos de agrotóxicos na água para consumo. A permissividade tem aumentado com o tempo, na medida em que o mercado brasileiro apresenta novos componentes químicos na função de herbicidas, fungicidas e praguicidas.

Limites permitidos
A primeira norma de potabilidade de água no Brasil, de 1977, permitia a presença de 12 tipos de agrotóxicos, de dez produtos químicos inorgânicos (metais pesados), de nenhum produto químico orgânico (solventes). A segunda norma de potabilidade (1990) permitia a presença de 13 tipos de agrotóxicos; a terceira norma aumentou para 22 tipos de agrotóxicos. Por fim, a quarta e mais recente portaria do Ministério da Saúde passou a permitir a presença de 27 tipos de agrotóxicos.

"Esta ampliação pode levar a uma cultura de naturalização e consequente banalização da contaminação, como se esta grave forma de poluição fosse legalizada", conclui o Dossiê Agrotóxicos da Abrasco.

O município de Lucas do Rio Verde, no Estado do Mato Grosso, tem bem menos habitantes que Limoeiro do Norte, mas sua importância no PIB agropecuário brasileiro é de soma incomparável. Lá está a maior produção de soja do Brasil. Também um dos maiores consumos de agrotóxicos - 136 litros per capita.

De 2007 a 2010, pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), identificou que as pulverizações aéreas e por trator eram feitas a menos de 10 metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais, de residências e periferia da cidade. Isso desrespeita um decreto-lei estadual, de 2009, que dá o limite mínimo de 300 metros para aplicação. Essa medida, por sua vez, já representava uma flexibilização à Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de 2008, que estabelecia 500 metros de distância.

Em setembro de 2012, o Estado do Mato Grosso flexibilizou ainda mais a distância de aplicação de cidades e nascentes. O que variava de 150 a 300 metros passou a ser de 90. O Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso (Indea-MT) afirma que foram realizados estudos técnicos antes do decreto.

"É uma situação insustentável. Aumenta o problema ambiental", afirma Wanderley Pignatti, médico sanitarista e pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), coordenador dos principais estudos feitos naquele Estado sobre os impactos dos resíduos agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente.

Veneno na escola
Aplicação tão próxima de água facilita o relacionamento com outros dados da pesquisa: foram encontrados vários tipos de agrotóxicos em 83% das amostras de 12 poços de água potável em seis escolas públicas de Lucas do Rio Verde. Nos mesmos locais, agrotóxicos em 56% das amostras de chuva na área do pátio das escolas e em 25% das amostras de ar desses pátios, monitoradas por dois anos.

Em duas lagoas da cidade também foi registrada a presença de agrotóxicos e, mais do que isso, resíduos de veneno no sangue dos sapos e evidências de má formação congênita nas gerações seguintes desses anfíbios foram constatadas.

A exposição a agrotóxicos em Lucas do Rio Verde é tamanha que, em 2010, todas as amostras de leite materno coletadas de 62 mulheres lactantes apresentaram contaminação com pelo menos um tipo de agrotóxico analisado pelos pesquisadores.

Mergulho impróprioNo Vale do Rio São Francisco, entre os Estados de Pernambuco e Bahia, o polo Petrolina-Juazeiro está cercado de canais para irrigação. Uva e manga estão entre as principais culturas. Mas a mesma água que semeia a uva lava os pratos, as panelas e mesmo o corpo todo das famílias no entorno do assentamento Santa Ana, em Juazeiro.

Sem achar que isso fará mal, crianças brincam dentro da água a apenas cinco metros da plantação que, em determinados meses do ano, recebe voos rasantes do avião pulverizador. Mas todo mês há outras formas de aplicação.

A realidade (e, portanto, a justificativa) é a mesma de Limoeiro do Norte, no Ceará: "não tem outra água pra se usar, é essa mesmo. Não sei se está contaminada. Mas se estiver, é melhor morrer mais pra frente do que morrer de sede, que mata logo", resume a agricultora Albertina Silva.

Constatação
25% dos municípios brasileiros registram contaminação do solo por agrotóxicos e fertilizantes. Descarte irregular de embalagens seria uma das causas.
24 amostras de água para consumo humano em comunidades da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte (CE), apresentaram agrotóxicos, em 2010.
27 tipos de agrotóxicos são permitidos na água pela norma de potabilidade do Ministério da Saúde em níveis determinados de segurança para o corpo humano.

MELQUÍADES JÚNIOR REPÓRTER 
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1257298

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28 de agosto de 2012

Veneno no Campo – Agrotóxicos



Uso de agrotóxico em lavouras de Campo Verde
Foto: Marcos Alves
Uso de agrotóxico em lavouras de Campo Verde
MARCOS ALVES
O estado do Mato Grosso lidera a lista dos maiores consumidores nacionais de pesticidas. Vestígios de contaminação foram identificados por pesquisadores em rios do Pantanal

Pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso e da Embrapa Pantanal detectaram resíduos de pesticidas no leito de rios, córregos, fundo de cachoeiras e lagoas no curso das águas, desde nascentes no Mato Grosso até o Pantanal Mato-grossence. 

O estado de Mato Grosso lidera o consumo nacional de pesticidas. Absorve 18,9% do total usado no Brasil - país líder mundial no uso de agrotóxicos. 
Na safra 2010/2011, as lavouras nacionais usaram 936 mil toneladas de agrotóxicos. Foram 12 litros de veneno por hectare de soja, 23 litros por hectare de cítricos, 28 litros por hectare de algodão, 6 litros por hectare de milho. O metamidofós, um dos produtos proibidos pela Anvisa, afeta os sistemas nervoso, imunológico, reprodutor e endócrino, além de prejudicar o desenvolvimento de embriões e fetos. 

Restos de metamidofós foram encontrados há duas semanas próximos a uma lavoura de feijão em Campo Verde (MT) 

- O Globo, 28/8, Amanhã, p.22 a 28.  
CAMPO VERDE - Localizado no coração da América do Sul, o Pantanal Mato-grossense é visto como uma região peculiar não só pelas suas belezas naturais como também pelo papel que desempenha na conservação da biodiversidade. Reconhecido como Reserva da Biosfera em 2000, a maior planície alagada do mundo começa a emitir sinais preocupantes. Pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso e da Embrapa Pantanal detectaram resíduos de pesticidas, ainda que em pequena quantidade, no leito de rios, córregos, fundo de cachoeiras e lagoas no curso das águas, desde nascentes no Mato Grosso até o Pantanal Mato-grossence.Reconhecido como celeiro do mundo, terra onde se plantando, tudo dá, o Brasil vem travando uma guerra surda contra o uso indiscriminado de agrotóxico nas lavouras. Maior produtor de grãos do país, o Mato Grosso se tornou epicentro do conflito entre a produção em larga escala e o uso cada vez maior de venenos para conter as pragas. O estado lidera o consumo nacional de pesticidas. Absorve 18,9% do total usado no Brasil — país líder mundial no uso de agrotóxicos. Em 2011, o faturamento das fabricantes alcançou R$ 8,488 bilhões.

Na safra 2010/2011, as lavouras nacionais usaram 936 mil toneladas de agrotóxicos. Foram 12 litros de veneno por hectare de soja, 23 litros por hectare de cítricos, 28 litros por hectare de algodão, 6 litros por hectare de milho. O problema é que, assim como elimina lagartas e pulgões, os venenos ameaçam a saúde humana. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem tentando desde 2008 normatizar o uso de agrotóxico no país: 14 produtos foram colocados em processo de revisão. Outros cinco foram colocados na lista suja e tirados de circulação. Só que a ordem nem sempre é cumprida à risca, deixando rastros pelo caminho.

Um dos produtos proibidos é o metamidofós, que foi criado para combater pragas em lavouras de algodão, soja, feijão, tomate, batata e amendoim. O produto elimina cigarrinha verde do feijão, percevejo da soja e broca de tomate. Mas também afeta os sistemas nervoso, imunológico, reprodutor e endócrino, além de prejudicar o desenvolvimento de embriões e fetos. Seu uso é vetado na União Europeia, China, Indonésia, Costa do Marfim, Japão e Paquistão. No Brasil, a Anvisa deu prazo até junho passado para que deixasse de ser usado nas lavouras. Apesar da proibição, restos do produto foram encontrados há duas semanas pela reportagem de O GLOBO AMANHÃ próximos a uma lavoura de feijão em Campo Verde, no Mato Grosso, município que ostenta o título de quinto maior PIB agrícola do país.

— Veneno, como o próprio nome diz, é feito para matar. A linha entre matar a erva daninha e a saúde das pessoas é tênue. O crescimento do uso de agrotóxico é muito maior do que imaginávamos e o país não pode abrir mão do direito de restringir o uso ou banir — afirma José Agenor Álvares, diretor de controle e monitoramento sanitário da Anvisa.

O uso indiscriminado de agrotóxicos já preocupa o Ministério da Agricultura, que tem buscado incentivar o uso de feromônios e produtos biológicos. Os produtos menos agressivos à saúde humana, porém, ainda são pouco diante do tamanho do mercado. Há no país 1.537 marcas de produtos químicos tradicionais e apenas 72 desta nova safra de defensivos biológicos.

— O Brasil é a única potência agrícola tropical do mundo. Consome muito agrotóxico porque aqui não há entressafra e as culturas podem ser plantadas o ano todo ou intercaladas. As pragas têm comida o ano inteiro e todo ano aparece uma nova ou reaparece uma que já havia sido combatida em safras anteriores — explica Luís Eduardo Rangel, do Ministério da Agricultura.
Segundo dados da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), dos 50 produtos mais usados nas lavouras do país 22 já são proibidos nos países da União Europeia. O próximo a sair do mercado por aqui, em julho de 2013, será o endossulfam, que tem sua venda proibida em 62 países.

— Vendemos remédio para plantas. O produtor cuida delas como cuida de um filho. Para infelicidade do país, a ferrugem asiática atingiu a soja e faturamos só com fungicida da soja R$ 1,3 bilhão — diz Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que reúne os fabricantes do setor.

Nos últimos 20 anos, o Brasil aumentou em 37% a área cultivada e a produção cresceu 181%. Só de grãos, são 52 milhões de hectares. A alta rentabilidade dos agrotóxicos criou um mercado paralelo. A Polícia Federal de Rondonópolis (MT) detectou que traficantes de drogas migraram para o contrabando de venenos, crime rentável e com pena mais branda. Em março, 21 pessoas foram presas por contrabando e falsificação de agrotóxicos em três estados. A operação foi batizada de São Lourenço, numa referência à contaminação do rio que atravessa 25 municípios da região.
Veneno no campo

Na água, os resíduos de agrotóxicos se espalham. Na nascente do Rio São Lourenço, que brota em meio a pés de algodão numa propriedade particular no município de Campo Verde (MT), a 130 quilômetros de Cuiabá, pesquisadores da Embrapa Pantanal e da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) coletaram resíduos de agrotóxicos em águas superficiais e no sedimento. Em torno da nascente, que deságua no Rio Cuiabá, cuja foz é o Rio Paraguai, na Bacia do Prata, há pouca vegetação, o que a deixa quase desprotegida. Outro rio contaminado é o Rio Casca, no limite entre Campo Verde e o município de Chapada dos Guimarães, onde está o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.

Não há pesquisas nas águas dentro do parque, mas um relatório sobre a situação da Cachoeira da Martinha, que fica no Rio da Casca e é um dos pontos turísticos do município, feito a pedido da Promotoria de Justiça de Chapada dos Guimarães, informa contaminação por agrotóxicos e relatos de coceira na pele de banhistas. No curso das águas, os resíduos estão presentes em nascentes do Mato Grosso até a Bacia do Rio Miranda, que fica no Mato Grosso do Sul.

— Coletamos amostras no sedimento dos rios que formam o Pantanal, do planalto à planície. Não achamos concentrações elevadas, mas contaminação contínua, que afeta de forma crônica o meio ambiente, ameaça os peixes e os organismos dos quais eles se alimentam — afirma Débora Calheiros, pesquisadora em ecologia de rios da Embrapa Pantanal e professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

Em Campo Verde, agrotóxicos foram encontrados nas águas da chuva, poços, rios e córregos. Até ser proibido, o metamidofós era o terceiro pesticida mais usado. Estudos do Departamento de Saúde Coletiva da UFMT, em parceria com pesquisadores da Fiocruz, indicam que sete em cada dez poços de água do município apresentam resíduos de agrotóxicos. Em 16 amostras de água de córregos e rios coletadas em quatro pontos foram achados resíduos dos venenos atrazina e endossulfam. Na água da chuva foram identificados marcas de oito agrotóxicos diferentes.

— Se a água está doente, vamos ficar doentes. Se a água está contaminada, vai contaminar alimentos — resume o professor Wanderley Pignati, do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT, autor e orientador de algumas pesquisas na área.

Ao analisarem sapos capturados em dois córregos do município de Lucas do Rio Verde, outro grande produtor do Mato Grosso, pesquisadores da UFMT detectaram resíduos de endossulfam e atrazina no sangue de 35% dos sapos e 50% das rãs. No laboratório, identificaram anomalias congênitas em 10% dos sapos, como ossos incompletos e fusão de falanges.
Os estudos levaram o promotor Marcelo dos Santos Alves Corrêa, do Ministério Público do Mato Grosso, a negociar com produtores e com a prefeitura de Campo Verde um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para disciplinar o uso dos pesticidas. Só o algodão, que ocupa boa parte dos 350 mil hectares plantados no município, necessita de 19 aplicações de veneno nos 180 dias de plantio.

— Acham que sou um Dom Quixote querendo acabar com a economia do município — diz Corrêa, que vai ingressar com ação civil pública para ver cumprido o acordo.

O prefeito de Campo Verde, Dimorvan Brescancim, admite a existência de resíduos de agrotóxicos nas águas, mas argumenta, que eles estão dentro dos limites previstos na legislação brasileira e só são alarmantes se comparados aos dados da União Europeia.

— É preciso uma transição entre a lei e o cumprimento perfeito dela. Se for duro, as empresas quebram.

Segundo a Andef, o Brasil não tem legislação específica para a presença de agroquímicos nas águas.

— É preciso elaborar legislação neste aspecto — diz o engenheiro agrônomo Guilherme Luiz Guimarães, gerente técnico e de regulamentação federal da Andef.

* Enviada especial a Campo Verde (MT)

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/agrotoxicos-proibidos-continuam-em-uso-nas-lavouras-brasileiras-5909263#ixzz24sJdO8fu

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