Provedoras de água do Semi-Árido baiano
Trabalhadoras rurais constroem cisternas levando água de qualidade para famílias da região e aumentando a geração de renda
“Acordava todos os dias 5 horas da manhã, colocava o balde na cabeça e saía para pegar água. Tinha que sair cedo porque a fonte é longe e tem que chegar antes dos animais sujarem tudo. Já deixei muita criança pequena só em casa para ir pegar água e muitas vezes eu tinha que ir sozinha porque meu marido trabalha na roça”. Esse era o cotidiano de Iranilda Lima, do município de Santa Bárbara, antes da construção da cisterna que serve para captar água da chuva em sua propriedade.
Atualmente essa situação está se modificando devido à atuação das mulheres da Região Sisaleira da Bahia. As trabalhadoras rurais, atuais pedreiras, ajudam as famílias a obterem água de qualidade e aumentam sua renda familiar através da construção das cisternas financiadas pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) da Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA).
De acordo com Maria do Carmo, cisterneira e integrante da Comissão da Água de Teofilândia, a oportunidade de construir cisternas trouxe para as mulheres uma forma de prover água para as famílias que antes sofriam com a seca e gerar renda para melhoria de vida.
Segundo Maria Auxiliadora, técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC), o interesse das mulheres pela atividade surgiu a partir da necessidade das famílias da região terem água boa para o consumo, sem precisar se deslocar por longas distâncias. O trabalho foi iniciado em 2005 a partir do curso promovido pelo MOC no povoado de Brava, em Teofilândia, onde 15 trabalhadoras rurais foram capacitadas para atuarem como pedreiras e realizarem as atividades de cisterneiras.
Hoje, são 18 mulheres cisterneiras nos municípios de Teofilândia, Retirolândia e Lamarão que já construíram 60 cisternas em Teofilândia.“A capacitação das mulheres em construção de cisternas é uma atividade inovadora na região, uma vez que, é um trabalho mais restrito ao campo masculino e gerava indagações nas comunidades se mulheres poderiam realmente trabalhar com materiais tão pesados como os das cisternas”, ressalta Maria Auxiliadora.
“Muitos duvidavam da capacidade das mulheres em fazerem um trabalho que só os homens eram acostumados. Mas foi com perseverança e por acreditar que o movimento social ajuda no desenvolvimento de todos que aumentei minha auto-estima, conhecimento e renda familiar. Hoje, com o dinheiro que recebo da construção das cisternas estou fazendo a laje da minha casa e tendo melhores condições para dar uma vida com maior qualidade para minha família”, afirma Maria do Carmo.
Melhoria na qualidade de vida - Para Iranilda, a construção da cisterna foi um meio de ter mais tempo para suas atividades diárias e aumentar a qualidade de vida de sua família. “Se a gente não precisa buscar água cedo, já dá para fazer alguma coisa dentro de casa. Faz um café mais cedo, se tiver uma viagem não precisa ter a preocupação de acordar de madrugada e andar léguas para ter um pouco de água. Fica mais descansada. Além de tudo isso temos mais tempo para trabalhar e ter nosso dinheiro que ajuda na alimentação e material escolar dos filhos”, explica.
De acordo com dados do Programa de Água e Segurança Alimentar do MOC, o acesso facilitado à água melhorou também a saúde das mulheres, que tem mais tempo para o descanso por não precisar carregar água três ou quatro vezes por dia. “A satisfação é grande de ter a água na porta de casa para beber e cozinhar, para molhar planta, dar água aos animais e tomar banho é com água da fonte para não destruir a água da cisterna. Mas o que mais deixa a gente feliz é ter mais tempo para a família, passear e fazer as coisinhas em casa mesmo” diz Maria de Lourdes, do município de Malhada Nova.
Novas oportunidades – Por não ter que carregar água dos tanques várias vezes ao dia, Regina de Araújo, do município de Serrinha, iniciou o trabalho de merendeira em uma creche da prefeitura. “Agora eu saio para trabalhar 7h30, antes faço o café e o almoço aliviada por não precisar estar de madrugada pegando água”, conta. Antes da construção da cisterna Regina não tinha como trabalhar porque não sobrava tempo. “Para poder trabalhar eu tinha que pagar alguém para pegar água, mas não tinha condições para isso”, afirma.
Para Vera Lúcia, da comunidade de Malhadinha, a construção da cisterna foi uma forma de se dedicar aos trabalhos domésticos e ao artesanato para gerar renda para a família. “Agora é só pegar um baldinho e pronto, sobra tempo para cuidar das galinhas, fazer bordados em panos de prato, e ficar prosando com as amigas. Com a água na porta dá para descansar mais e fazer meus panos de prato para ganhar um dinheirinho”, explica. Fonte: ONG MOC
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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