Fantástico flagra aluguel de jet skis para turistas sem habilitação
No Guarujá, em SP: “O valor de uma vida é R$ 40, é um aluguel de um jet ski. O que conta é o dinheiro."
O Fantástico também descobriu dois irmãos que vendem habilitação para conduzir jet skis e barcos a motor no PR.
Uma criança conduz um bote a motor passando por outras embarcações. Algumas delas comandadas por quem ficou horas bebendo. Enquanto jet skis invadem o espaço que é dos banhistas.
Tamandaré, em Pernambuco, é um paraíso muito procurado por turistas brasileiros e estrangeiros no verão. Jet skis deslizam em alta velocidade pela beira do mar, lotado de banhistas. E a invasão dessas máquinas se repete em outros pontos turísticos do país.
Em Itaipu, na região oceânica de Niterói, no estado do Rio, jet skis não respeitam a distância mínima obrigatória de 200 metros medidos desde a faixa de areia. No local, os produtores do Fantástico flagraram mais um perigo comum no verão: a mistura de navegação e álcool.
Por uma hora e meia, filmamos um barco. Durante todo esse tempo, um homem bebe cerveja. Ele termina uma lata e uma novinha reaparece na mão. Quando o barco vai embora é ele quem está no comando. Em outra embarcação, um homem também bebe tranquilamente uma cerveja. Dá um gole atrás do outro. Até que põe a lata no console e assume o leme.
O point em Chapecó, em Santa Catarina, é o Rio Uruguai. Foi nele que a jovem Graciela Dal'acqua, de 24 anos, morreu no último dia 4 de janeiro. Ela estava na garupa do jet ski pilotado pelo namorado. O veículo bateu numa lancha.
A irmã conta como foi: “No dia do acidente, cheguei no hospital e estava todo mundo desesperado. E ele (o namorado de Graciela) se agarrava nos meus pés e dizia: ‘Não queria ter feito isso!’ E eu vi que ele estava bêbado. Eu vi, eu senti o cheiro”.
O ex-namorado de Graciela, Roberto, negou que estivesse bêbado, mas confessou que não tinha a carta de arrais amador, a habilitação exigida para se pilotar um jet ski. “Eu estava providenciando a documentação”, justifica. A Marinha investiga o acidente.
Nos destinos mais procurados no verão, a falta de habilitação não é problema para quem quer alugar um jet ski. Em Pernamubuco, os onde pilotos tiram fino dos banhistas, nossos produtores conversaram com a funcionária de um hotel em Ipojuca, outra praia turística. Ela não sabia que estava sendo gravada e confirma: “’É você mesmo’ quem pilota. Em cada jet cabem duas pessoas. É bastante fácil pilotar. Mais fácil que bicicleta”.
Búzios é um dos balneários mais famosos do estado do Rio. Nas praias lotadas de turistas do Brasil e do mundo todo, nossa produtora procura um ponto de jet skis. São várias opções. Ela escolhe uma e diz que não tem a habilitação. No local isso também não é problema. “Só não pode sair sozinha, porque a pessoa não tem carteira. Aí, não pode sair sozinha. Mas pode pilotar”, explica a atendente Danielle.
O truque é simples. No meio do mar, longe da fiscalização, o piloto cede o lugar para o turista. “Com ele junto, se ele estiver junto no jet ski, não tem problema. O negócio é vocês irem sozinhos porque se ele avistar a capitania, alguma coisa assim, vocês trocam na hora rapidinho, dá um jeitinho, não tem problema, entendeu? Não poderia pilotar mesmo estando acompanhada dele. A gente faz esqueminha porque todo mundo quer pilotar um pouquinho. A graça é essa”, continua a moça.
A produtora avisa que nunca subiu num jet ski. A tendente tranqüiliza: “Dá para pilotar tranquilo. É fácil, aprende rapidinho”. Nossa equipe recebe, ali mesmo, toda a orientação para pilotar um veículo a motor no meio de barcos, mergulhadores e outros jet skis. “Só acelera, não tem freio. Só não tem freio. E aqui acelera, você vai indo”, ensina.
As manobras são ensinadas como se pilotar fosse uma brincadeira: “Você quer fazer uma curva, virar logo assim, de uma vez. Você não vira só o guidom. Continua acelerando e vira o guidom. Se não acelerar, ele vai reto”, continua a moça.
A responsável pela barraca chega ao ponto de dizer que perder o controle do veículo é ‘normal’: “Aí, a chave fica no teu pulso, caso, por exemplo, ‘Ah, fez uma manobra, todo mundo virou de jet ski’. Normal, isso. Por isso que é importante estar com a chave no braço. Porque aí, quando você cai na água, você puxa ele, ele desliga. Senão, ele vai embora e te deixa lá”.
O jet ski parte, conduzido pelo piloto da barraca de aluguel. No caminho, tentando falar mais alto que o barulho do motor, ele completa as instruções, antes de o turista assumir o controle. E aí cede o lugar à nossa produtora, mas ela diz que desistiu da ideia. E o piloto leva o veículo de volta.
Voltamos ao lugar, agora mostrando a câmera de reportagem. Diante dela, a responsável pela barraca negou o golpe flagrado na véspera. Agora Danielle diz: “Quem não tem carteira, somente na garupa. A única pessoa que pilota é o piloto habilitado. Não pode trocar. Já sai da areia esclarecido isso”.
Em Guarujá, São Paulo. A situação se repete na praia da Enseada, uma das mais movimentadas do litoral paulista. Em um canto da praia, encontramos exemplos de irresponsabilidade no aluguel de jet skis. Para nossa equipe, não foi difícil fechar um passeio mesmo sem ter habilitação pra pilotar esse tipo de embarcação. Na barraca, ninguém pede documento ao nosso produtor.
Em julho de 2010, a adolescente Daniela Magela acreditou que era fácil. Tinha 17 anos e estava de férias. Ela e duas amigas alugaram, na mesma barraca, três jet skis e saíram para o mar. Daniela não voltou com vida. “Ela estava retornando para a praia e um casal num outro jet ski. Vinha vindo na direção contrária.. E a pancada foi tão violenta que causou um traumatismo craniano e ela faleceu em seguida, não houve tempo de ser socorrida”, lembra a mãe de Daniela, Marli. Um ano e meio depois da tragédia, a mesma barraca aluga novamente, sem exigir habilitação.
Como nosso produtor não tem carteira, ele não dá a partida no veículo. E então entrevistamos o responsável pela barraca.
Perguntado de a situação era comum, ele tenta explicar: “Não, não. Não está fazendo sem arrais de jeito nenhum. Não faço locação sem arrais. A orientação deles é: arrais ou instrutor; arrais ou instrutor”. A prefeitura do Guarujá informou neste sabão (21) que vai cassar os alvarás das barracas que alugam jet skis.
Você vai ver agora outra ilegalidade que põe em risco a vida dos banhistas no verão. O Fantástico descobriu no Paraná dois irmãos que vendem habilitação para conduzir jet skis e barcos a motor.
Tamandaré, em Pernambuco, é um paraíso muito procurado por turistas brasileiros e estrangeiros no verão. Jet skis deslizam em alta velocidade pela beira do mar, lotado de banhistas. E a invasão dessas máquinas se repete em outros pontos turísticos do país.
Em Itaipu, na região oceânica de Niterói, no estado do Rio, jet skis não respeitam a distância mínima obrigatória de 200 metros medidos desde a faixa de areia. No local, os produtores do Fantástico flagraram mais um perigo comum no verão: a mistura de navegação e álcool.
Por uma hora e meia, filmamos um barco. Durante todo esse tempo, um homem bebe cerveja. Ele termina uma lata e uma novinha reaparece na mão. Quando o barco vai embora é ele quem está no comando. Em outra embarcação, um homem também bebe tranquilamente uma cerveja. Dá um gole atrás do outro. Até que põe a lata no console e assume o leme.
O point em Chapecó, em Santa Catarina, é o Rio Uruguai. Foi nele que a jovem Graciela Dal'acqua, de 24 anos, morreu no último dia 4 de janeiro. Ela estava na garupa do jet ski pilotado pelo namorado. O veículo bateu numa lancha.
A irmã conta como foi: “No dia do acidente, cheguei no hospital e estava todo mundo desesperado. E ele (o namorado de Graciela) se agarrava nos meus pés e dizia: ‘Não queria ter feito isso!’ E eu vi que ele estava bêbado. Eu vi, eu senti o cheiro”.
O ex-namorado de Graciela, Roberto, negou que estivesse bêbado, mas confessou que não tinha a carta de arrais amador, a habilitação exigida para se pilotar um jet ski. “Eu estava providenciando a documentação”, justifica. A Marinha investiga o acidente.
Nos destinos mais procurados no verão, a falta de habilitação não é problema para quem quer alugar um jet ski. Em Pernamubuco, os onde pilotos tiram fino dos banhistas, nossos produtores conversaram com a funcionária de um hotel em Ipojuca, outra praia turística. Ela não sabia que estava sendo gravada e confirma: “’É você mesmo’ quem pilota. Em cada jet cabem duas pessoas. É bastante fácil pilotar. Mais fácil que bicicleta”.
Búzios é um dos balneários mais famosos do estado do Rio. Nas praias lotadas de turistas do Brasil e do mundo todo, nossa produtora procura um ponto de jet skis. São várias opções. Ela escolhe uma e diz que não tem a habilitação. No local isso também não é problema. “Só não pode sair sozinha, porque a pessoa não tem carteira. Aí, não pode sair sozinha. Mas pode pilotar”, explica a atendente Danielle.
O truque é simples. No meio do mar, longe da fiscalização, o piloto cede o lugar para o turista. “Com ele junto, se ele estiver junto no jet ski, não tem problema. O negócio é vocês irem sozinhos porque se ele avistar a capitania, alguma coisa assim, vocês trocam na hora rapidinho, dá um jeitinho, não tem problema, entendeu? Não poderia pilotar mesmo estando acompanhada dele. A gente faz esqueminha porque todo mundo quer pilotar um pouquinho. A graça é essa”, continua a moça.
A produtora avisa que nunca subiu num jet ski. A tendente tranqüiliza: “Dá para pilotar tranquilo. É fácil, aprende rapidinho”. Nossa equipe recebe, ali mesmo, toda a orientação para pilotar um veículo a motor no meio de barcos, mergulhadores e outros jet skis. “Só acelera, não tem freio. Só não tem freio. E aqui acelera, você vai indo”, ensina.
As manobras são ensinadas como se pilotar fosse uma brincadeira: “Você quer fazer uma curva, virar logo assim, de uma vez. Você não vira só o guidom. Continua acelerando e vira o guidom. Se não acelerar, ele vai reto”, continua a moça.
A responsável pela barraca chega ao ponto de dizer que perder o controle do veículo é ‘normal’: “Aí, a chave fica no teu pulso, caso, por exemplo, ‘Ah, fez uma manobra, todo mundo virou de jet ski’. Normal, isso. Por isso que é importante estar com a chave no braço. Porque aí, quando você cai na água, você puxa ele, ele desliga. Senão, ele vai embora e te deixa lá”.
O jet ski parte, conduzido pelo piloto da barraca de aluguel. No caminho, tentando falar mais alto que o barulho do motor, ele completa as instruções, antes de o turista assumir o controle. E aí cede o lugar à nossa produtora, mas ela diz que desistiu da ideia. E o piloto leva o veículo de volta.
Voltamos ao lugar, agora mostrando a câmera de reportagem. Diante dela, a responsável pela barraca negou o golpe flagrado na véspera. Agora Danielle diz: “Quem não tem carteira, somente na garupa. A única pessoa que pilota é o piloto habilitado. Não pode trocar. Já sai da areia esclarecido isso”.
Em Guarujá, São Paulo. A situação se repete na praia da Enseada, uma das mais movimentadas do litoral paulista. Em um canto da praia, encontramos exemplos de irresponsabilidade no aluguel de jet skis. Para nossa equipe, não foi difícil fechar um passeio mesmo sem ter habilitação pra pilotar esse tipo de embarcação. Na barraca, ninguém pede documento ao nosso produtor.
Em julho de 2010, a adolescente Daniela Magela acreditou que era fácil. Tinha 17 anos e estava de férias. Ela e duas amigas alugaram, na mesma barraca, três jet skis e saíram para o mar. Daniela não voltou com vida. “Ela estava retornando para a praia e um casal num outro jet ski. Vinha vindo na direção contrária.. E a pancada foi tão violenta que causou um traumatismo craniano e ela faleceu em seguida, não houve tempo de ser socorrida”, lembra a mãe de Daniela, Marli. Um ano e meio depois da tragédia, a mesma barraca aluga novamente, sem exigir habilitação.
Como nosso produtor não tem carteira, ele não dá a partida no veículo. E então entrevistamos o responsável pela barraca.
Perguntado de a situação era comum, ele tenta explicar: “Não, não. Não está fazendo sem arrais de jeito nenhum. Não faço locação sem arrais. A orientação deles é: arrais ou instrutor; arrais ou instrutor”. A prefeitura do Guarujá informou neste sabão (21) que vai cassar os alvarás das barracas que alugam jet skis.
Você vai ver agora outra ilegalidade que põe em risco a vida dos banhistas no verão. O Fantástico descobriu no Paraná dois irmãos que vendem habilitação para conduzir jet skis e barcos a motor.
Ricardo Michon é um dos vendedores. Ele mostra uma habilitação e diz que tem um contato dentro da Capitania dos Portos em Foz do Iguaçu. “Ele é oficial. Ele é primeiro-sargento lá, da Marinha”, garante.
Nossos produtores negociam a compra da habilitação de arrais amador, que permite pilotar em rios, lagoas e lagos. Rodrigo pede dinheiro de entrada e mais R$ 200 na entrega. Em seguida, o irmão dele, Maicon, entra na capitania. E volta para entregar o documento. “Peguei lá dentro. Você viu que eu fui lá dentro, busquei lá dentro. Então, não tem erro”.
O Fantástico levou a habilitação à Capitania de Foz. Alberto José Pinheiro de Carvalho, da Capitania dos Portos do Rio Paraná explica: “A carteira é falsa. Inclusive, checando no nosso banco de dados, que ela não consta.”
Hoje, a carteira é impressa em papel comum, sem dispositivos que dificultem a falsificação. “Nós estamos, já este ano, modificando o material que é confeccionado a carteira de arrais amador, adotando papel-moeda. Ela terá uma tinta que é fluorescente e é sensível à luz ultravioleta. Através de uma lanterna especial, será possível verificar a veracidade daquele documento”, garante Carvalho.
Para piorar a situação, ainda tem a irresponsabilidade dos adultos. Na praia de Itaipu, Niterói, flagramos esta imagem: um menino aparentando ter menos de dez anos no comando de um bote a motor. Com tanta gente pilotando ilegalmente, parece até que é muito difícil obter uma habilitação seguindo a lei.
Mesmo quem nunca pilotou uma lancha ou jet ski, por exemplo, pode conseguir uma licença pra conduzir esses tipos de embarcação. A Marinha não exige prova prática. Para tirar a habilitação, basta pagar uma taxa e passar num exame com 40 questões de múltipla escolha.
A Marinha afirma que isso também vai mudar. “Será exigido do condutor amador que ele comprove a aquisição de experiência para condução de uma embarcação”, conta Carvalho. O candidato vai ter que apresentar um certificado de que acompanhou navegações com piloto habilitado. Para os jet skis, haverá outra regra. “O candidato terá que comprovar ter participado de pelo menos quatro horas-aula de prática de jet ski”, garante ele.
Voltamos a Búzios, onde você viu como é fácil alugar um jet ski sem habilitação. Mas também donos de barcos a motor têm um jeitinho para driblar a fiscalização da Capitania dos Portos. A gente queria fazer um passeio mais especial, mais privativo. Por isso eu perguntei se poderia a gente mesmo conduzir a embarcação. “Isso aí é meio complicado, mas a gente pode dar um jeito, diz Gean, dono de uma embarcação.
Ele diz que pilotar é fácil: “Com 20 minutinhos você já pega o jeitinho, a malícia. E já sai sozinho. Vai numa boa, curte”.
Ele diz também que vai ficar em terra firme monitorando o deslocamento das equipes da Capitania dos Portos. E combina com a equipe do Fantástico um esquema de comunicação pelo telefone durante o passeio. “Aí você poderia até ligar pra mim: ‘Gean, estou saindo da ilha fria agora’. Eu vou passar para vocês: "Pode vir, que a Capitania está aqui; pode ir para a praia da Tartaruga tranquilo".
Diante da câmera, sabendo que estava sendo filmado, ele negou. “Você dá seu microfone para pessoa que não é repórter? Nem eu dou meu bote para pessoa que não tem carteira”, compara.
Neste sábado (21), a Marinha fez uma operação em Paraty, no estado do Rio. Foram feitas 201 abordagens em barcos. Houve dezoito notificações por problemas de documentação ou pela falta de itens de segurança. Dois ficaram apreendidos. “Os condutores têm a obrigação de prover segurança, tanto o condutor da embarcação em relação aos tripulantes, quanto em relação a terceiros. Seja em praia ou não”, explica o capitão.
No mesmo dia, o Fantástico flagrou, na represa Jurumirim, em Avaré, São Paulo, um rodízio de pilotagem e bebida. Um homem de preto é passageiro e bebe. A lancha para, o piloto dá um gole; o passageiro assume o comando e vai embora. Logo depois, um menino aparece pilotando um jet ski.
Foi também no estado de São Paulo que o empresário Pietro Mazzeo morreu por causa de um menor de idade que pilotava um jet ski. O acidente aconteceu em uma lagoa de Ribeirão Preto em novembro de 2011.
“Um jet ski na mão de uma pessoa que não sabe pilotar é uma arma, como se fosse uma arma que eu coloco na sua testa. Matou meu marido. Tirou o pai que sustentava minha casa, que era o meu companheiro. Deixou duas crianças sem pai”, lamenta Raísa Lolato, viúva da vítima.
“O valor de uma vida é R$ 40, é um aluguel de um jet ski. O que conta é o dinheiro. O que vale ali é quanto a pessoa paga, não importa a consequência que tem”, diz a mãe de Daniela, morta no Guarujá.
REPORTAGEM ESPECIAL DO FANTÁSTICO DE 22 JAN 2012
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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