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31 de janeiro de 2012

UMA SUGESTÃO INTERESSANTE AOS DONOS DE RESTAURANTE

agua de jarra abre 2 Dono de restaurante brasileiro acha civilizado tomar água de graça nos bistrôs de Paris. Mas passa mal com sugestão de que faça o mesmo

Dono de restaurante brasileiro acha civilizado tomar água de graça nos bistrôs de Paris. Mas passa mal com sugestão de que faça o mesmo


Ouvi na manhã desta segunda-feira (29) uma interessante entrevista de Letycia Janot, do projeto Água na Jarra (www.aguanajarra.com.br) à jornalista Fabíola Cidral, da rádio CBN.
O objetivo do Água na Jarra é valorizar e incentivar o consumo da água potável, essa que recebemos em casa, tão bem tratada por nossas companhias (Sabesp, Cedae, etc), diante da invasão das águas minerais em embalagens plásticas e garrafas pet nos restaurantes, bares, supermercados e esquinas.
Você sabia que, se os canos e caixas de sua casa ou prédio forem higienizados ao menos duas vezes por ano (e mantidos limpos, claro), a família pode tomar a água da Sabesp, por exemplo, direto da torneira  sem qualquer problema?
Pois é: trata-se de uma água potável.
Por outro lado, muitas dessas águas "minerais" são pirataria de grandes marcas.
Ou foram engarrafadas sem qualquer controle de análise, o que, claro, significa um senhor risco para a saúde.
Ouvindo a entrevista, voltaram-me à memória, para profundo prazer, as últimas viagens que fiz à Europa.
Claro que há águas minerais excelentes, claro.
Mas essa falsificação é, cada vez mais, um fenômeno ameaçador.
agua de jarra 1 Dono de restaurante brasileiro acha civilizado tomar água de graça nos bistrôs de Paris. Mas passa mal com sugestão de que faça o mesmo
Lembrei-me que, na suprema maioria dos restaurantes europeus, a primeira coisa que fazem quando você se senta é colocar uma jarra de água potável fresca ou gelada (na Europa normalmente a água de torneira tem patamares de pureza altamente aceitáveis) acompanhada de um copo para cada componente da mesa.
De graça.
Vou contar uma pequena história.
Há sete, oito anos atrás talvez, enquanto fazia para a revista Istoé uma reportagem sobre gastronomia no Vale dos Gourmets, região de restaurantes na belíssima cidade serrana e imperial de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, visitei o restaurante do saudoso homem de televisão Geraldo Casé, pai da atriz Regina Casé, morto aos 80 anos em meados de 2008.
Assim que ocupei uma das mesas do bonito bistrô, com vista monumental para a vegetação de Mata Atlântica que escorregava dos morros do distrito petropolitano de Araras até as curvas e retas da rodovia BR-o40, Casé colocou entre nós, com as próprias mãos, uma belíssiva jarra de água cristalina, refrescada o suficiente para molhar a língua e hidratar o espírito sem chapar o palato, e um belo par de copos longos igualmente transparentes.
Casé, então, comentou:
- Aqui eu sirvo água filtrada, da boa, sem gosto de cloro, de graça, para todos os que chegam. E mais: sirvo tão logo eles chegam e se sentam. Considero oferecer água a quem chega em sua casa, ao seu domínio, enfim, uma demonstração de boa recepção e, acima de tudo, um sinal de boa educação.
E, mais sábio do que nunca, acrescentou:
- Se você ou outro cliente nosso quiser pagar por uma boa água mineral, nacional ou estrangeira, não há problema. Temos algumas muito boas. Mas eu sempre sinto um ar de dignidade quando me servem água da casa, de graça, nos bistrôs de Paris e nos restaurantes europeus de forma geral. Por isso, faço o mesmo aqui. Se temos pratos e outras bebidas a bons preços, não há porque obrigar as pessoas a gastarem quantias razoáveis com água se elas não quiserem. Mesmo porque a maior parte dos clientes, quando livre desta despesa, gasta esse dinheiro em outra coisa e volta para casa mais feliz.
Grande Geraldo Casé.
Gigante Geraldo Casé.
É exatamente isso.
Não estou dizendo ou defendendo que dono de restaurante e chef de cozinha pare de vender água.
Nada disso.
Restaurante é negócio.
Só que não custa nada servir água filtrada de graça para as pessoas (ou ao menos a um preço quase simbólico, dando a opção), mesmo porque, como disse muito bem Casé, o dinheiro gasto nas garrafinhas vira dinheiro gasto em café, em sobremesa, em outras bebidas, e por aí vai.
E a propósito: o que os restaurantes estão roubando no preço das águas minerais é uma pornografia, não é mesmo?
É golpe.
O cara coloca seus pratos, bufês ou rodízios a preços supostamente competitivos e...
... do outro lado, tasca a garrafinha de água a R$ 3,90, R$ 4,20, R$ 4,50, R$ 5 até.
Neste país seco e quente, já viu né...
Vai cair um pouco o faturamento?
Vai, claro.
Vai cair sobretudo o faturamento daqueles restaurantes que roubam e vendem água a preço de ouro - o que, combinemos, passou a ser a regra, sobretudo nesses medium de luxe metidos a besta.
Mas o camarada poderá compensar essa pequena queda de várias formas - a começar pelo aumento de clientela com o marketing da simpatia gerado com uma atitude nobre dessas.
Vejo que a preocupação principal do projeto Água na Jarra é o meio ambiente, a diminuição dos plásticos e pets, e não a elegância e a civilidade gastronômica, cultural e o mimo que se pode fazer no freguês.
Mas as duas coisas podem caminhar perfeitamente juntas.
Aliás, devem.
Mesmo porque donos de restaurantes e chefs de cozinha que atuam no Brasil,  brasileiros de nascimento ou estrangeiros, acham lindo, o máximo, o triunfo da civilização quando o garçom traz para ele uma jarra de água de graça em um bistrô do parisiense Montmartre ou numa osteria dos arredores da romana Piazza Navona.
Mas aqui, de volta ao mundinho dos toscos explorados, sentem calafrio e são tomados por delirium tremens de mesquinharia e avareza quando ouvem a sugestão para fazerem o mesmo em suas casas.
Dono de restaurante brasileiro: abaixo a mesquinharia.
agua de jarra 2 Dono de restaurante brasileiro acha civilizado tomar água de graça nos bistrôs de Paris. Mas passa mal com sugestão de que faça o mesmo
Ofereça água potável fresca e de boa qualidade a seu cliente.
O destino, o mundo e, claro, os seus clientes irão te dar a recompensa por esta atitude de quem é grande.
Me deu... sede.
Vou tomar um belíssimo copo, talvez dois,  de água fresca.
Filtrada.
Tenho uma talha de barro monumental em casa.
Com três filtros e alta capacidade.
Ela purifica a água e, não bastasse isso, ainda deixa-a fresquinha, fresquinha...
Copiei de mamãe, que copiou de vovó, que felizmente copiou do bom senso milenar.
Aceitas um copo ou uma jarra?
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Fonte: Notícias R7 - EDUARDO MARINI


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