Relatório aponta que Ribeirão Preto utiliza quatro vezes mais água do Aquífero Guarani do que a área de recarga consegue repor (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)
Abastecimento de água em Ribeirão pode sofrer colapso
26/10/2013
Relatório elaborado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Pardo aponta que Ribeirão Preto utiliza quatro vezes mais água do manancial do que a área de recarga consegue repor (o ideal seria 100%, mas o número está em 431%). A disponibilidade per capita de água na cidade é cinco vezes menor que a média do Estado - 52 m³/ano contra 276 m³/ano.
Segundo o Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto), a cidade capta, diariamente, 201 mil m³ de água. Pelo estudo, significa dizer que, desse total diário retirado do Guarani, apenas 46 mil m³ são repostos pelas áreas de recarga.
“Ribeirão Preto é a maior cidade que depende apenas do Aquífero Guarani. Existem estudos que apontam o rebaixamento na região central da cidade justamente por isso”, disse Luis Eduardo Garcia, coordenador do grupo de estudos que elaborou o relatório. “O conceito de que a água é inesgotável não existe mais”, alertou.
O trabalho realizado pelo grupo coordenado por Garcia e denominado “Relatório de Situação de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográfica”, utiliza como base números de 2011, mas já está sendo atualizado com dados de 2012. A expectativa é que os novos números sejam divulgados entre o fim de dezembro e o começo de janeiro.
Rebaixamento
Outro estudo, este da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos em 2012, aponta que a parte do Aquífero Guarani localizada na área central de Ribeirão Preto baixou 70 metros, nos últimos 80 anos. A situação piorou muito nos últimos dez anos, período em que o reservatório baixou 10 metros - média de um metro por ano.
O levantamento estima que Ribeirão Preto já utilizou 3,15 bilhões de m³ de água do reservatório, desde que começou a explorá-lo, em 1930. “Atualmente, Ribeirão retira cerca 90 milhões de m³ de água por ano do Guarani. Isso é muito mais do que a natureza consegue repor”, explica o professor Edson Wendland, da USP de São Carlos, responsável pelo estudo.
Para o empresário José Rodrigues, a construção de prédios perto do manancial impermeabiliza o solo e diminui o potencial de recarga (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)
Documento diz que situação é ‘crítica’
De acordo com o Relatório de Situação de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas, Ribeirão Preto está em situação crítica e corre o risco de sofrer com escassez de água. A recomendação é “proteger e recuperar mananciais” e desenvolver “programas de proteção de nascentes e de recarda de aquífero”.
A disponibilidade de água subterrânea per capita para a população de Ribeirão Preto é 52 m³ por ano. O número fica muito abaixo do Estado de São Paulo, de 276 m³ hab./ano, e da média das 27 cidades que compõem a Bacia do Rio Pardo (394 m³ hab./ano).
Além da pouca oferta e a grande demanda, o Instituto Trata Brasil apontou, no início do mês, que um terço (33%) da água captada do Aquífero Guarani some ao passar pela rede de distribuição. A água desperdiçada diariamente (67 mil m³) daria para encher 27 piscinas olímpicas (com 2,5 mil m³ cada).
Zona Leste
Para o empresário José Carlos Rodrigues, morador da zona Leste há mais de três décadas - área que é o principal ponto de afloramento e recarga do Aquífero Guarani - existe desrespeito com as questões ambientais. Por conta disso, o Gaema tem cerca de 200 procedimentos nessa região.
“Eu faço um trabalho de preservação, planto árvores, mas conjuntos de prédios são construídos próximo aos locais de afloramento do manancial. Isso acaba impermeabilizando o solo e diminuindo o potencial de recarga”, afirma.
Rodrigues disse ainda que o assoreamento está acabando com lagos da zona Leste. “A região era linda. Hoje está se deteriorando. O Poder Público precisa olhar com mais carinho”, disse ele, que vive na Chácara São João Batista, onde administra um pesque-pague.
Procedimentos do Gaema dobram em um ano
Segundo a promotora Cláudia Habib, do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente), as ações e inquéritos relacionadas à zona Leste de Ribeirão Preto, área de recarga do Aquífero Guarani, dobraram no último ano.
São quase 200 procedimentos – 160 inquéritos e 40 ações cíveis. “A maioria das ações é para tentar garantir 50% de área permeável nos empreedimentos da região Leste. Mas nem sempre conseguimos vitórias na Justiça”, revelou a promotora.
Segundo a representante do Ministério Público, o Gaema estuda entrar com uma ação maior, englobando vários casos. “É uma estratégia que pode ser adotada”, explicou.
Segundo ela, em 2011 a Câmara teve a chance de modificar a Lei de Uso e Ocupação do Solo para garantir a preservação da zona Leste. “Enviamos para a prefeitura, que repassou à Câmara, um estudo com medidas para garantir as condições ideais à zona Leste. Mas os vereadores barraram as alterações pedidas”, lamentou.
Prefeitura diz que planeja tirar água do Pardo
Segundo informou a prefeitura, o Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) protocolou, em abril, no Ministério das Cidades, um projeto para usar a água do Rio Pardo. A captação, tratamento e distribuição vai custar R$ 630 milhões.
O Executivo também informou que o Daerp realiza campanhas de conscientização sobre o uso da água.
“O programa ‘Casa a Casa’ visa orientar a população quanto à correta instalação das ligações de água e esgoto e, assim, melhorar os serviços prestado”.
“O ‘Daerp nas Escolas’ visa sensibilizar e conscientizar sobre os estoques de água doce no planeta, a poluição e a degradação dos mananciais subterrâneos, em especial o Aquífero Guarani”, informou, por meio de nota.
Em relação ao desperdício, o superintendente interino do Daerp, Marco Antonio dos Santos, disse que a autarquia está tomando medidas para conter o problema. “Temos muita pressão da rede, o que causa os vazamentos. Estamos trabalhando para acabar com isso”, garantiu.
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