UMA VISÃO SUTIL E SURPREENDENTE DA ÁGUA

União de política, ciência e cultura formam uma nova visão da água

Por Carolina Ramalhete com contribuições dos membros do CET-Água

Cientistas, gestores, líderes locais e sociedade discutiram diversas facetas da relação da humanidade com a água sob uma perspectiva transdisciplinar durante o 1º Seminário Internacional Água e Transdisciplinaridade: para uma ecologia de saberes. Um dos eventos preparatórios para o 6º Fórum Mundial da Água, que acontecerá em Marselha, na França, em março de 2012, o seminário aconteceu em novembro em Brasília, com abertura no Senado Federal e demais atividades, dentre palestras e oficinas, no Museu Nacional da República. A realização foi uma iniciativa foi do Centro de Estudos Transdisciplinares da Água (CET Água*), com a coordenação científica da Universidade de Brasília (UnB).

Na diversificada programação que preencheu três dias de atividades, mereceu destaque a fala do Professor Pedro Arrojo, da Universidade de Zaragoza (Espanha), Coordenador da Fundación Nueva Cultura del Água, que discorreu sobre o caminho histórico que alterou, gradativamente, a relação entre a sociedade e a água, culminando na privatização do acesso em muitas partes do mundo. “Ninguém é dono da água. O ouro é dos ricos, a água é de todos.”, declarou, defendendo que o serviço de águas tem que ser público, democrático e de boa qualidade, não meramente um bom negócio. Arrojo considerou a importância da busca de outro modelo no Brasil que certifique que a água não terá seu acesso restrito, intensificando a disparidade social.

“Poucos assuntos permitem uma abordagem tão transversal como a água”, lembrou o Doutor Saulo Rodriguez, Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB. O professor destacou que a água é um tema central para os estudos sobre mudanças climáticas. Enfatizou ainda a necessidade de se rever a relação de consumo estabelecida com a natureza, que se aplica à água e, de uma forma ampla, a todos os seres e elementos.

Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) inverteu a relação comum que diz “água é vida” e mostrou estudos e imagens que provam ser a vida que controla a água. Segundo ele, uma série de eventos sincronizados que levou à formação da atmosfera, dos continentes flutuantes, do padrão de auto-regulação de temperatura e chuvas, e da diversidade biológica no planeta propiciam, hoje, a permanência da água na Terra em seu estado mais instável, a forma líquida. Portanto, abundância da vida é responsável pela existência de água na Terra, gerando um ciclo virtuoso e também a abundância que conhecemos. 

Nobre falou ainda dos “rios voadores”, formados pelo ciclo da água. Disse que a floresta amazônica faz o papel de uma gigantesca usina, uma bomba gigante, que regula a temperatura e a umidade, emitindo 20 bilhões de toneladas de água por dia para a atmosfera, por evaporação.  “Precisaríamos de 50.000 Itaipus para reproduzir o que a floresta faz”. Essa bomba de água é apenas uma amostra dos serviços que a floresta presta à Terra. “Ainda não temos noção de todas as funções da biosfera”, ponderou o professor, concluindo também que, diante de tamanho desconhecimento, humanidade deveria ao menos ter uma relação de mais respeito com a vida.
Assim, as falas dos palestrantes, somadas às contribuições dos participantes, fortalecem a perspectiva transdisciplinar, integrativa e aberta da água. O Seminário insere-se ainda no contexto das ações da Década Mundial da Água (2005 - 2015), instituída pela Organização das Nações Unidas que, entre outras abordagens, promove a discussão e reflexão sobre a relação entre água e cultura.

Uma visão sutil e surpreendente

O Centro de Estudo Transdisciplinar da Água (CET-Água) existe desde 2009, quando foi constituído por meio de um acordo de cooperação entre dez instituições governamentais e não governamentais relacionadas com estudos e gestão de águas. O objetivo do grupo de trabalho é somar esforços para o desenvolvimento do saber transdisciplinar sobre água. As frentes de atuação são variadas e um foco importante é fomentar novas tecnologias e conhecimentos relativos às propriedades naturais da água, métodos de conservação ambiental, ética de uso e gestão. Compõem atualmente o CET-Água a Agência Nacional de Águas (ANA), a Ararazul - Organização para a Paz Mundial, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), o Instituto Calliandra de Educação Integral e Ambiental (I-CEIA), o Instituto Oca do Sol, o Instituto de Saúde Integral (ISI), a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), a Fundação Universidade de Brasília (FUB), a Fundação SOS Pró-Mata Atlântica e o WWF-Brasil. Para contatar o grupo e participar das discussões sobre água e transdiciplinaridade envie e-mail para cetagua@gmail.com.
Fonte: Boletim Vitae Civilis Informa

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