O primeiro dia do evento promovido pela Abes-RS, nesta segunda-feira (03), contou com um grupo de palestrantes referência em suas áreas de atuação. A manhã começou com Zilda Veloso, gerente de resíduos perigosos do Ministério do Meio Ambiente, abordando a obrigação dos Estados frente à Resolução CONAMA 420/09. Para ela, a resolução veio para agilizar o processo de gerenciamento, mas os Estados é que devem se reunir para determinar quais os procedimentos metodológicos irão aplicar para atender às normas. “Claro que há uma legislação em nível Federal, mas os Estados têm autonomia. O Paraná já tem equipes-base trabalhando. É por esse caminho. Nossa expectativa é que até dezembro de 2013 boa parte dos Estados brasileiros já tenham seus VRQs (Valores de Referência de Qualidade).
Annelise Steigleder, promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre e a segunda palestrante, disse que o evento da Abes-RS é muito importante, “porque evidencia como se dá a responsabilização do gerenciamento de áreas contaminadas e, também, aponta as ações do Poder Público, ou seja, enfatiza as tarefas do Estado, indispensáveis para determinar responsabilidades. Para tanto, é importante um sistema integrado de gestão entre os Estados. O advento da resolução é um marco neste desejo de sistematizar a gestão das áreas contaminadas”. A promotora falou sobre os aspectos jurídicos do gerenciamento de áreas contaminadas. Os coordenadores dos trabalhos da manhã foram Fernando Zorzi e Bibiana Azambuja da Silva.
À tarde, Mário Kolberg Soares, analista de projetos de investigação de áreas industriais da FEPAM ministrou palestra sobre o trabalho que a fundação vem fazendo com base na Resolução 420/09 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Segundo Mário, os licenciamentos que ocorrem na FEPAM são feitos de acordo com o gerenciamento ambiental a que se propõe a Resolução CONAMA 420/09. “O Rio Grande do Sul ainda não tem valores definidos (VRQs)para realizar a investigação e a remediação – se necessária. Muitas vezes, o município licencia uma construção em área onde antes havia uma indústria e não consulta a FEPAM. Urge uma lei estadual que contemple esses novos licenciamentos, especialmente nessas áreas”.
Ademar Afonso Mombach e Carlos Alberto Peçanha Gonzaga falaram em nome da FATMA (Fundação do Meio Ambiente do Governo do Estado de Santa Catarina). O Estado vizinho, segundo os técnicos, ainda está em fase inicial de ação. Além da sede, são 14 regionais (CODAMS), 347 servidores e 191 atuando no licenciamento ambiental. “Nós também não temos legislação específica, somente Instruções Normativas (IN) que indicam o licenciamento com base na Resolução CONAMA 420/09. Hoje, temos 64 INs. Necessitamos padronização. É preciso que todas as regionais falem a mesma língua”.
A seguir, Luiz Tarcísio Mossato Pinto, diretor presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Ivonete Chaves, coordenadora da Câmara Técnica de Resíduos da instituição explicaram que o diagnóstico do passivo ambiental e remediação, no Estado paranaense, está sendo executado em conjunto com as empresas e universidades. “Ao todo, temos 500 servidores dedicados a esse trabalho. Numa de nossas ações, com os agricultores, a meta é a retirada e incineração de 800 toneladas de BHC e outros agrotóxicos obsoletos. Nossas principais fontes de contaminação de áreas são a fundição de chumbo, os postos de combustíveis, lixões e acidentes ambientais. É importante uma ação conjunta, com a adoção da logística reversa”. A coordenação do painel foi de Zilda Veloso.
Vanda Garibotti, sanitarista em saúde da Vigilância em Saúde Ambiental DVAS/CEVS/SES-RS, abordou sobre os riscos à saúde provocados por áreas contaminadas. “O campo de ação da saúde ambiental é amplo. E tenho humildade suficiente para dizer que, neste setor, estamos, ainda, na primeira infância”. A sanitarista apontou que a prevenção é fundamental. “Temos que agir antes, não esperar o adoecimento da pessoa”. Um dos projetos em saúde ambiental é o Vigissolo, que faz análise de dados da emissão de poluentes, conforme a demanda da população exposta em áreas contaminadas ou com suspeitas. A coordenadora do painel foi a presidente da Abes-RS, Nanci Giugno.
Sobre seguros ambientais, Eliane Pereira Rodrigues Poveda, advogada ambientalista e ex-procuradora da CETESB, ressaltou a importância da prevenção em passivos ambientais. Os instrumentos preventivos, de acordo com Poveda, são a avaliação de impacto ambiental, o licenciamento ambiental e os instrumentos econômicos. “Os órgãos ambientais ainda não utilizam esses instrumentos. O grande desafio é aplicá-los. Seria indicado que políticas públicas induzissem à utilização do instrumento econômico, inserindo garantias financeiras”. O seguro garantia, de acordo com a advogada, já existe por meio da Lei nº 13.284/06, que contempla, ainda, a caução e a fiança. “É uma legislação pró-ativa que cria instrumentos. São 4.111 empresas cadastradas. O seguro só não garante o resultado, mas garante a execução”. A coordenação do painel foi de Fabiana Figueiró.
Torvaldo Antônio Marzolla Filho, diretor da FIERGS, apresentou o olhar da indústria em relação ao tema do seminário. “O impacto das áreas contaminadas se dá na saúde, no meio ambiente, no patrimônio público e privado e gera desvalorização das propriedades”. No entanto, ele lamenta o alto custo do processo de investigação e remediação. “É preciso se acautelar na compra de um terreno, pois há uma insegurança jurídica no processo, falta orientação e a indústria acaba sendo a vilã deste cenário”. Ele encerrou afirmando que as indústrias do Estado do Rio Grande do Sul estão empenhadas em trabalhar junto aos órgãos ambientais para a saúde do solo, da água e do ar. “A FIERGS é parceira da Abes-RS para a criação de uma Câmara Técnica Provisória no CONSEMA, com o objetivo de tratar sobre a gestão de áreas contaminadas, promovendo workshops para discutir o tema entre os diversos segmentos industriais”. E decretou: “somos herdeiros dos nossos hábitos”. O coordenador da apresentação foi Felipe Francisco Saviczki.
Ao final das palestras, aconteceu a abertura oficial do evento, com as boas vindas da presidente Nanci Giugno, para quem o evento traz novos olhares sobre o tema, com profissionais das mais diversas áreas e com um interesse que superou as expectativas, levando mais de 300 pessoas ao Hotel Plaza São Rafael. O I Seminário Sul-brasileiro de Gerenciamento de Áreas Contaminadas segue nesta terça-feira (04), a partir das 8h30.
Texto: jornalista Carla Seabra – MTb 5302
Fotos: Felipe Gaieski / Alberto Jacobsen / Abes-RS
Fotos: Felipe Gaieski / Alberto Jacobsen / Abes-RS
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