Cardume de tainhas em Ipanema: imagem do documentário “Mar urbano” - Divulgação
A vida e a beleza que ainda resistem no mar da Zona Sul
Documentário registra sobrevivência de espécies perto das praias
POR CATHARINA WREDE
10/08/2014
RIO — O carioca Ricardo Gomes seguiu
uma rotina nos últimos 15 anos: acordava, checava as condições meteorológicas,
conferia o índice de balneabilidade das praias de Ipanema e de Copacabana, e
ponderava se cairia ou não na água naquele dia. Se decidisse que sim, pegava a
câmera, duas lanternas de profundidade, vestia a roupa de neoprene com cintos
de chumbo, adicionava 70 quilos de equipamento e afundava mar adentro. Sozinho,
desrespeitando todas as regras do mergulho — quase desmaiou diversas vezes
enquanto filmava a fauna submersa. Hoje, nadando contra a corrente de quem diz
que não há mais esperança em meio à poluição da orla, ele afirma: as mesmas
espécies de peixes que viu por ali há 15 anos continuam habitando o mar da Zona
Sul do Rio.
O resultados das imagens é o
documentário “Mar urbano”, que acaba de ser finalizado e mostra como ainda há —
muita — vida marinha a poucos metros da arrebentação das praias.
— A gente acha que está tudo sujo, que
acabou. Mas, em dias de água limpa, vemos que há muita vida ali. Os organismos
que conseguiram se adaptar a esse caos de poluição sobreviveram e viraram
espécies endêmicas — diz Ricardo.
MAIORIA DAS
IMAGENS FOI CAPTADA JUNTO A EMISSÁRIO
No documentário, desfilando diante da
câmera e ao som da trilha original do músico Pedro Luís, surgem garoupas,
lulas, polvos, xereletes, tartarugas e moreias — a maioria escondida nas
junções tubulares do emissário de Ipanema, onde Ricardo fez 80% das filmagens.
Clique e veja o vídeo: http://oglobo.globo.com/rio/a-vida-a-beleza-que-ainda-resistem-no-mar-da-zona-sul-13552366
— Acham que tudo já está perdido, por isso não fazem nada. E não está.
As imagens mais bonitas que filmei foram captadas em 2012. Eu não queria ser
mais uma pessoa dizendo que o mar está sujo. O (biólogo) Mario Moscatelli, por
exemplo, faz um trabalho lindo ao denunciar essas questões. Mas eu quis mostrar
que ainda existe vida para ser salva — disse Ricardo, que, além de cineasta e
fotógrafo, é biólogo marinho.
Recentemente, biólogos alertaram para o fato de que o emissário poderia
gerar danos à biodiversidade. O documentarista, entretanto, não é tão
pessimista:
— O emissário não é o grande vilão. Ele foi criado, aliás, para ser uma
solução. O problema é todo o saneamento do Rio, principalmente o do complexo
lagunar de Jacarepaguá/Barra da Tijuca (formado pelas lagoas da Tijuca,
Jacarepaguá, Marapendi e Camorim) — avalia. — Mas é claro que o emissário
também contribui. Ele joga sedimentos em Ipanema há 30 anos.
Ricardo, aliás, discorda do presidente da Cedae, Wagner Victer, que em
declaração ao GLOBO no último dia 14 disse que fazer um tratamento primário no
esgoto jogado no mar pelo emissário seria uma “total insanidade”.
DIRETOR DIZ QUE DIAS DE ÁGUA LIMPA
ESTÃO ESCASSEANDO
O documentário “Mar urbano” revela que há fauna ao alcance dos
mergulhadores, mas chama a atenção para o que seu diretor, Ricardo Gomes,
definiu como “um chamado urgente”. Ao longo dos últimos 15 anos, ele diz que os
dias de água limpa estão diminuindo, espremendo-se entre os meses de fevereiro
e abril.
— O que vi nesse último verão nunca tinha presenciado na minha vida: a
temperatura da água superelevada, na casa dos 30 graus, mortandade elevada de
corais e praticamente nenhum dia de água clara — lembra.
A vontade de
fazer o longa veio, curiosamente, quando Ricardo comprou um cachorro, há 15
anos. Acostumado a caçar polvos e lulas com arpões para vender em épocas de
vacas magras no Rio, para ganhar uns trocados, Ricardo diz que o bicho de
estimação fez com que ele repelisse, de súbito, a vontade de matar animais.
Jogou fora os arpões, comprou uma câmera fotográfica e passou a sonhar com o
filme hoje pronto.
FILMAGEM DE CASAMENTOS
Sem
patrocínio, “Mar urbano” foi finalizado com a ajuda dos casamentos que Ricardo
filmou ao longo dos últimos anos. Nos créditos finais, ele agradece às 400
noivas que, sem saber, contribuíram para o documentário. O filme agora inicia
sua carreira em festivais de cinema, mas precisa de incentivo financeiro para
as inscrições.
— Quero
passar esse filme no maior número de escolas cariocas que conseguir. É preciso
conhecer para amar e querer preservar — diz Ricardo Gomes.
Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/a-vida-a-beleza-que-ainda-resistem-no-mar-da-zona-sul-13552366
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