Revista espanhola publica modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros
Os pesquisadores Lourival Paraíba, Ricardo Pazianotto, Alfredo Luiz, Aline Maia e Claudio Jonsson, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), desenvolveram um modelo matemático que estima o volume de água cinza necessário para diluir, no ambiente, misturas de agrotóxicos na água.
Este modelo acaba de ser publicado no Spanish Journal of Agricultural Research, revista científica do Instituto Nacional de Investigación y Tecnologia Agraria y Alimentaria (INIA), do Ministério de Economia e Competitividade do governo espanhol, com o titulo "A mathematical model to estimate the volume of grey water of pesticide mixtures", podendo ser acessado em http://revistas.inia.es/index.php/sjar/issue/view/122.
Lourival Paraíba, um dos autores, lembra que a água é um “ecosocial asset”, ou seja, a água tem a capacidade de satisfazer quantitativamente e qualitativamente uma coleção de funções sociais, econômicas e ambientais, de tal forma, que não pode ser considerada apenas como um recurso hídrico. Na agricultura, a pegada hídrica é um indicador numérico que estima o volume total de água necessário para produzir um produto agrícola. Esse volume é a soma da água verde (água natural da chuva contida no perfil do solo e evapotranspirada pela planta) com a água azul (água da irrigação) mais a água cinza (água de assimilação da carga de pesticidas e fertilizantes). O procedimento clássico que estima a água cinza necessita de valores da carga dos pesticidas usados no cultivo agrícola e de limites máximos de resíduos na água.
Nos cultivos agrícolas brasileiros são utilizados vários pesticidas cujos limites máximos permitidos em água não estão definidos. Além disso, o procedimento clássico não estima o efeito em organismos aquáticos da mistura ambiental de todos os pesticidas utilizados no cultivo em um período em uma região. Assim, explica o pesquisador, “o nosso trabalho teve como objetivo propor um método numérico que estimasse o volume total de água necessário para diluir concentrações de misturas na água, do conjunto total de pesticidas utilizados em um cultivo agrícola. Nos cálculos do modelo, foi suposto o volume de água estimado que deveria ser necessário para proteger as espécies aquáticas sensíveis e indicadoras da qualidade da água. Esta suposição, aliás, está de acordo com os objetivos de qualidade da água propostos pela União Europeia. Assim sendo, o modelo utiliza as características físico-químicas dos pesticidas, as doses aplicadas e as concentrações que causam efeitos letais em 50% da população de organismos aquáticos indicadores da qualidade da água. Lembremos que todas essas informações são apresentadas por fabricantes, seguindo a legislação de uso do pesticida. Assim, o volume de água cinza, com base na abordagem por mistura de pesticidas, não depende de concentrações máximas de resíduos em água como no modelo clássico, nem de concentrações máximas estabelecidas por órgãos governamentais”, acrescenta Paraíba.
Ainda de acordo com o pesquisador, “existem estudos que demonstram que pesticidas usados em cultivos agrícolas podem contaminar corpos hídricos, mas esse trabalho não estima concentrações de pesticidas na água. O método estima o volume de água que seria necessário para diluir na água, ao mesmo tempo, todos os pesticidas que poderiam ser encontrados misturados na água de corpos hídricos. Deste modo, o modelo calcula um volume virtual de água, a água cinza da mistura de pesticidas. Observe que nenhum trabalho publicado sobre pegada hídrica de cultivos agrícolas determina concentrações de pesticidas ou fertilizantes na água. “O nosso estudo é sobre pegada hídrica e não sobre pegada de pesticida, que é outra área de pesquisa”, explica.
Sobre a questão do que pode ser feito para minimizar o volume de água cinza, dado que o valor numérico da pegada hídrica é um indicador de sustentabilidade, Paraíba explica que qualquer método que calcule a pegada hídrica de cultivos agrícolas orgânicos ou agroecológicos tem valor zero para a água cinza. “Assim, a redução do uso de pesticidas ou a utilização de insumos que não causem efeitos observáveis em organismo indicadores da qualidade da água pode minimizar, sobremaneira, o volume total de água cinza. Além disso, o nosso modelo também calcula um indicador numérico que exprime o volume que seria produzido por cada pesticida. Esse valor poderia ser estampado na embalagem do pesticida para informar ao produtor qual seria o volume de água cinza decorrente da utilização do pesticida. Isso possibilitaria a redução do volume de água cinza,” enfatiza. “ Seria como o que faz o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), ao indicar o consumo de energia de uma lâmpada ou qualquer eletrodoméstico”.
“Costumo dizer o seguinte: a natureza levou milhões de anos para produzir o petróleo, o homem extrai esse petróleo de locais cada vez mais profundos demandando recursos exorbitantes. Do petróleo extraído produz-se a gasolina que com um litro, em um carro de porte médio, se desloca confortavelmente por dez quilômetros. Mas para mantermos o mesmo conforto sem usarmos derivados do petróleo produzimos volumes extraordinários de plantas (milho, cana, beterraba, soja), que são plantas que concentram bastante energia e que são transformadas por processos industriais em biocombustíveis. Para tanto, precisamos limpar e preparar o solo com grandes quantidades de herbicidas e fertilizantes e, em consequência disso, produzimos volumes virtuais nada desprezíveis de água cinza”.
Este mesmo trabalho, também recebeu uma premiação, na categoria Profissional, no XII Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia - Ecotox 2012, que é um congresso bianual promovido pela Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia, filiada a Society of Environmental Toxicology and Chemistry (Setac), tendo sido classificado em primeiro lugar.
Cristina Tordin
Jornalista, MTB 28499
Embrapa Meio Ambiente
19.3311.2608
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