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11 de fevereiro de 2012

SOS PANTANAL - ANÁLISE DE RISCO ECOLÓGICO DA BACIA DO RIO PARAGUAI


Descaso com nascentes e rios ameaça o Pantanal

Estudo inédito englobando Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina aponta áreas que precisam de mais atenção para garantir a sobrevivência da maior planície alagável do planeta, de populações e de economias  
A reportagem é de Aldem Bourscheit e publicada no sítio WWF - Brasil, 01-02-2012.
A conservação da Bacia do rio Paraguai¹ e a sobrevivência do Pantanal estão ameaçadas, principalmente pela degradação de nascentes e barramento de rios que fluem de áreas de planalto (Cerrado) para a planície pantaneira.
Por isso, a inédita Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai² é lançada junto ao Dia Mundial das Áreas Úmidas (2 de fevereiro), evidenciando que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco ambiental, e que 14% dela necessitam ser protegidos com urgência, por sua grande capacidade de fornecer água e manter os ciclos de cheias e vazantes que dão vida ao Pantanal.
O estudo contou com mais de 30 especialistas dos quatro países e exigiu três anos de esforços, evidenciando também que essas áreas (em vermelho e amarelo no mapa) estão majoritariamente em porções elevadas nas bordas da bacia e são as maiores fornecedoras de água à planície, área que ainda apresenta boas condições ecológicas.
“Conhecendo a “saúde” do Pantanal podemos nos antecipar a problemas futuros, como o das mudanças climáticas, mas a saúde pantaneira está ameaçada por ações em curso, no presente”, ressaltou Glauco Kimura, coordenador interino do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil.
As principais ameaças à Bacia do rio Paraguai são o desmatamento e o manejo inadequado de terras para agropecuária, causadores de erosões e sedimentação de rios, por exemplo. Barramentos hidrelétricos estão alterando o regime hídrico natural do Pantanal. O crescimento urbano e populacional é seguido por mais obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias, colocando em risco o frágil equilíbrio ambiental pantaneiro.
Essas ameaças interagem em conjunto ou isoladamente em cada região mais crítica analisada: cabeceiras e tributários no Cerrado e Bosque Chiquitano brasileiros; Mata Atlântica da Bacia do rio Paraguai; Eixo de Desenvolvimento Salta/Jujuy; e Puerto Suarez e vale do Tucavaca (Bolívia).
Apenas 11% (ou 123.600 Km²) da bacia estão protegidos de alguma forma, e meros 5% (56.800 Km²) sob proteção integral, em parques nacionais ou estaduais e estações ecológicas. Além disso, as mais de 170 áreas protegidas não estão distribuídas de forma adequada para proteger as regiões que mais fornecem água, ou as mais ricas em biodiversidade.
O estudo, realizado em parceria pelo WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas do Pantanal, com apoio do HSBC e Caterpillar, é um forte alerta para que países, estados e municípios adotem uma agenda de redução de riscos e revertam modelos insustentáveis de desenvolvimento. Não há mais espaço para uma cultura de abundância e de desperdício, como se houvesse um estoque infinito de florestas nativas para derrubar, de água onde lançar poluentes e de terras para minerar.
A Bacia do rio Paraguai e o Pantanal não devem ser protegidos apenas pelas incontáveis espécies de animais e plantas lá abrigados, pelas belezas e serviços ambientais³ que oferecem, mas também porque da saúde regional dependem mais de oito milhões de pessoas e economias hoje focadas em 30 milhões de cabeças de gado e quase 7 milhões de hectares plantados, área equivalente a um terço do estado de São Paulo.
Recomendações - O Pantanal, além de ser um abrigo natural de espécies e mantenedor de populações e economias, também é uma preciosa reserva estratégica de água doce, ainda mais importante frente ao futuro incerto das mudanças climáticas.
Logo, alterar modelos de desenvolvimento e criar mais áreas protegidas (públicas e privadas), especialmente em regiões de cabeceiras, são ações inteligentes e estratégicas para os quatro países responsáveis por sua manutenção, bem como desenvolver uma agenda de adaptação da bacia às alterações do clima.
A pecuária extensiva precisa de maior apoio técnico e econômico para que melhores práticas cheguem aos produtores, como conservação de água e solo, manejo e recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária. “O plantio direto na palha é uma boa alternativa, porque protege o solo da chuva e dos ventos, mantendo-o mais rico e produtivo. Mesmo assim, persiste o uso extensivo de agrotóxicos em culturas como a da soja, venenos que chegam aos rios que abastecem o Pantanal”, comentou Kimura.
Além da agropecuária, a bacia tem importantes áreas de mineração, destacando-se regiões andinas como a de Potosi (Bolívia), de extração de gás natural, na transição do Chaco para os Andes, de ouro e diamantes, no Mato Grosso, e ainda de ferro, manganês e calcário, no Mato Grosso do Sul.
No caso de hidrelétricas em operação, o caminho é implantar esquemas de operação que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, é necessário avaliar seus impactos cumulativos nos rios e na bacia, apontando quais áreas poderão ou não arcar com esses custos ambientais sem prejudicar o Pantanal.
“Barramentos ameaçam a duração e a intensidade dos ciclos de cheias e vazantes, colocando em cheque a vida, economias e populações que dependem do equilíbrio ecológico do Pantanal. Reservatórios alteram a circulação de nutrientes as emissões de gases de efeito estufa, parâmetros que precisam ser mais bem dimensionados”, destacou Albano Araújo, coordenador da Estratégia de Água Doce do Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais da The Nature Conservancy.
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1)    O rio Paraguai nasce na região de Diamantino (MT) e percorre 2,6 mil quilômetros até encontrar o Rio Paraná, já em Corrientes (Argentina). Sua bacia cobre 1,2 milhão de quilômetros quadrados em quatro países, área com quase o tamanho do estado do Pará e altamente diversificada em termos de ecossistemas e de realidades socioeconômicas.
2)    A avaliação dos riscos ecológicos de uma bacia hidrográfica é essencial para se estimar sua capacidade de recuperação frente aos impactos esperados do aquecimento global, pois algumas ameaças poderão ganhar força em detrimento de outras. Além disso, ecossistemas naturais, atividades econômicas, cidades e pessoas, todos estão vulneráveis às mudanças climáticas eu maior ou menor grau. Esse estudo justamente visa compreender quais são os riscos atuais aos ecossistemas aquáticos da Bacia do Paraguai e como podemos nos preparar a um futuro de incertezas.
3)    A Embrapa estimou (2008) em US$ 112 bilhões por ano os serviços ambientais prestados gratuitamente pelo Pantanal. Logo, vale muito mais manter a região preservada do que zoneá-la com agropecuária, cujo lucro estimado seria de apenas US$ 414 milhões anuais. Fonte: INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS
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Comentários

  • Salim Haqzan
    February 5, 2012 - 20:47
    Eu moro aqui em Corumbá, praticamente dentro do pantanal e em menos de 30 anos vi mudanças absurdas ocorrerem aqui em nossa regiao , como a quantidade de balneários que existia nos anos 1970 e hoje estao secos. Assentados que viveram geraçoes cultivando e dependendo da águas dessa nascentes que foram extintas por causa da exploraçao penso eu, de forma irresponsável de minérios.
  • Adilson Ribeiro de Araujo
    February 5, 2012 - 13:17
    É lamentável a situação da política ambiental nesse país, se com a Lei 4771/65 que teria uma área maior de proteção ambiental, imagine com a aprovação do novo Código Florestal que reduze em muito as áreas de proteção ambiental. E em relação à bacia do Paraguai e grande degradação ambiental na região do Alto Paraguai no avanço da pecuária e bem como da agricultura, em 2009 no zoneamento do Estado de Mato Grosso o agronegocio desse estado deitou e rolo nas diretrizes proposta pela Sema, Seplan entre outros órgãos do estado para criar e proteger os recursos naturais de Mato Grosso, mas infelizmente isso foi feito do jeito que os poderoso acha melhor. A sociedade esta caminhando para uma vida Insustentável.  (Fonte: WWF Brasil)



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3 comentários:

  1. Profa. Elizeth Lopes - USP - São Paulo11 fevereiro, 2012 22:09

    Caro Prof. Jarmuth,

    Isso é muito sério e coloca em risco todo o equilíbrio do nosso belo Pantanal e muita gente pode perder seus empregos, seus investimentos, suas esperanças no futuro do turismo naquela região.

    Precisamos fazer um grande barulho e buscar soluções urgentes para aquela importante região do Brasil.

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  2. Muito boa a matéria sobre a bacia hidrográfica do rio Paraguai.
    Viajamos com frequencia para uma região do pantanal afetada pelo rio Taquari, afluente do Paraguai. As mudanças de fauna e flora para se adaptar com a nova situação de variações hídricas são fácil de perceber ao se delocar de uma tapera ao sul de nossas terras, distante 16 Km do rio Taquari até a antiga sede da fazenda Bom Jesus, afastada uns 4 quilômetros do rio. hoje pertencente ao nosso tio. Esses 12 Km entre a tapera e a fazenda era feito em hora e meia, duas horas, no máximo, à cavalo, na época de seca.
    São tres as vazantes a se atravessar no trecho. Vazante do Corixão, da Pimenteira e do Landizinho. Hoje, mesmo no auge da seca, as tres vazantes estão emendadas de água. São seis quilômetros aproximadamente de estrada coberta de água! Água mais rasa, mais funda, molhando ponta de pelego, e até molhando garupa, quando temos que tirar a mala da anca do cavalo e levá-la ao ombro.
    Toda essa água vem de um arrombado que fica a uns trita quilômetros na margem esquerda do rio acima no Taquari.
    Toda essa água cobre aproximadamente 30% da fazenda, mesmo durante a seca. A maior parte, pasto nativo de mimoso e mimosinho.
    Através de matérias como essa, sabemos que o estrago foi concebido no planalto e não na planície pantaneira. A mudança no comportamento do rio Taquari afeta muitos produtores das duas margens.É necessário uma intervenção urgente para fazer com que as fazendas voltem a produzir o que produziam há dez, vinte anos atrás.

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  3. Foi pela primeira vez no Pantanal e no Mato Grosso mais ou menos 36 anos atras. Gostei muito estas impressionantes regiões. Hoje, tantas partes do Mato Grosso do Sul são feitas grandes terras lavradias. O Pantanal está perdendo o seu equilíbrio e partes dele já estão colapsando. Sim, fazemos um grande barulho, não só no Brasil mas em toda a parte. Também aqui na Alemanha, tanta gente da preocupação desta grande patrimônio natural mundial.

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